IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Qualquer solução para crise custará caro para gregos e europeus

Robert Peston

Editor de Economia da BBC News

06/07/2015 11h01

Os banqueiros gregos esperavam contar com o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, na reunião de emergência de domingo à noite em que eram buscadas possíveis soluções para evitar a falência de seus bancos.

Entretanto, na manhã de segunda-feira, os banqueiros compreenderam melhor a ausência do então ministro das Finanças da Grécia.

Varoufakis entregou sua carta de demissão ao primeiro-ministro, Alexis Tsipras. Segundo ele, alguns ministros da Economia de países europeus exigiram que ele não participasse das negociações que tentarão encontrar uma saída para a crise, que ganhou novos contornos com a rejeição pelo povo grego das medidas de austeridade impostas ao país pelos credores.

A saída de Varoufakis vem sendo interpretada por alguns como uma última e desesperada cartada do governo grego de fechar um novo acordo em diferentes termos para o resgate do país.

Sem dinheiro

Na reunião de emergência da noite de domingo, da qual participaram diretores do banco central grego, banqueiros privados e membros do governo, ficou decidido que os bancos manterão nesta segunda as restrições adotadas na semana passada - suspensão de qualquer transferência de dinheiro ao exterior, saques em caixa automático limitados a 60 euros por dia e abertura de apenas um terço das agências bancárias, suficiente para que aposentados possam retirar suas pensões.

A operação bancária no restante da semana ainda é incerta, como é incerto o futuro da própria Grécia.

A expectativa é de que os bancos gregos só tenham dinheiro para poucos dias mais, caso não haja rapidamente uma solução para a crise.

Com isso, os limites operacionais dos bancos gregos passam a ficar, na prática, nas mãos da diretoria e conselheiros do Banco Central Europeu (ECB na sigla em inglês). Cabe ao ECB decidir se congela, diminui ou aumenta as linhas de crédito para Assistência de Liquidez Emergencial abertas para o país.

Por sua vez, o ECB não quer ser visto como o "juiz e carrasco da Grécia". Os diretores do banco central europeu vão preferir seguir as recomendações dos líderes dos países da zona do euro ou pelo menos esperar por uma nova proposta grega antes de se manifestar sobre os termos de um novo pacote de resgate.

Pode-se dizer então que o destino da Grécia continuará a depender da chanceler alemã, Angela Merkel, juntamente com seus colegas da União Europeia.

E qualquer que seja sua avaliação, ela passará por uma análise dos altos custos que estão em jogo para o bloco.

Se ficar o bicho pega

Eles poderão optar por perdoar até metade dos 200 bilhões de euros emprestados desde o final de 2009 pela União Europeia como parte de operações de ajuda financeira. Isso sem dúvida daria à Grécia uma base saudável para que o país permanecesse na eurozona.

Portugal e Irlanda se sentiriam tratados de modo injusto, já que não receberam este tipo de clemência, assim como seria uma opção difícil de ser absorvida pelos contribuintes alemães que começam a questionar a decisão de Merkel de doar mais e mais dinheiro a um país que não seria merecedor de tal ajuda.

Mas agindo dessa forma (perdoando parte da dívida), a chanceler passaria uma mensagem clara de que o euro é uma moeda vitalícia e com isso pouparia o banco central europeu de registrar enormes prejuízos em seu balanço.

Atualmente, o ECB mantém em seu portfólio ativos representados por hipotecas e outros créditos recebidos de bancos gregos como garantia de empréstimos concedidos a título de ajuda emergencial. Esses ativos teriam uma desvalorização estimada em mais da metade de seu valor de face caso a Grécia decida abandonar o euro.

Se fugir o bicho come

E se a decisão final for a preferida por alguns políticos alemães, a de deixar a Grécia mergulhar no abismo da crise, resolvendo os problemas por si só, adotando uma nova moeda?

Esta alternativa também traria custos absurdamente elevados.

A Grécia não dispõe de praticamente nenhuma reserva em moeda estrangeira. Estima-se que restam apenas algo em torno de 3 bilhões de euros em ouro nos cofres do banco central grego.

Sem reservas, o país não teria como adquirir bens essenciais no exterior, como matérias-primas, alimentos e remédios. Dificilmente alguém daria crédito ao país para importação de produtos a serem pagos com uma moeda sem credibilidade no mercado internacional.

Segundo apurado junto a alguns banqueiros, para evitar colapso total da economia da Grécia e sofrimento para a população do país, o Fundo Monetário Internacional e o ECB teriam que fornecer à Grécia cerca de 25 bilhões de euros para financiar as operações internacionais do país durante uma transição do euro para o dracma.

O país não consegue pagar o que importa com exportações, porque suas exportações montam somente 13% do Produto Interno Bruto.

Conclusão: continuar com o euro seria tremendamente custoso para a Grécia e para os países da zona de euro. E por outro lado, abandonar o euro seria tremendamente custoso para a Grécia e para os países da zona do euro.

Mas, com o sistema bancário grego perigosamente próximo de um colapso total, os líderes europeus terão que agir rapidamente escolhendo que conta que vão querer bancar.

Gregos decidem em referendo não aceitar proposta de credores