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Perdão de dívidas alemãs após Segunda Guerra gera polêmica em meio a crise na Grécia

AFP
Imagem: AFP

07/07/2015 13h47

O economista francês Thomas Piketty causou polêmica ao comentar as negociações sobre a crise grega em uma entrevista publicada pelo jornal alemão Die Zeit.

Autor do best seller O Capital no Século XXI - onde faz fortes críticas ao que vê como desigualdades sociais inerentes ao capitalismo -, Piketty alfinetou as autoridades alemãs pela posição de não aceitar perdoar parte das dívidas gregas.

E o principal argumento do economista é que a Alemanha teria se beneficiado justamente de um expediente do gênero no pós-guerra.

Segundo o economista, se o mundo tivesse usado com a Alemanha o mesmo rigor que o país reserva à Grécia, é bem capaz que os próprios alemães tivessem demorado muito mais tempo para se recuperar da miséria em que se encontravam no final da Segunda Guerra Mundial.

Plano Marshall

Piketty não foi o único a usar o argumento. O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics (LSE), escreveu sobre o assunto, mostrando que o perdão da dívida alemã equivaleu a 400% do PIB alemão em 1950 e estabeleceu os fundamentos para a recuperação financeira do país.

Mas há quem considere inválida uma comparação entre a Grécia de 2015 e a Alemanha de 1945.

Em 2012, Hans Werner-Sinn, diretor do Instituto Ifo, um renomado centro de estudos alemão, questionou a tese de Ritschl em um artigo no jornal The New York Times.

Ele argumentou que a Grécia, ainda durante os esforços de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, recebeu muito mais recursos de países europeus que a Alemanha durante os anos do Plano Marshall - um pacote de assistência pilotado pelos EUA que em números de hoje equivaleria a mais de US$ 130 bilhões.

Mas ninguém contesta que a Alemanha recebeu benefícios das potências ocidentais com o fim da Segunda Guerra Mundial.

Apesar de arrasada pelo conflito, a Alemanha era de interesse estratégico para os EUA no momento em que tinha início a Guerra Fria com a União Soviética.

Em 1953, na Conferência de Londres, americanos e aliados como o Reino Unido decidiram perdoar quantidades substanciais das dívidas alemãs.

Um montante datava do final da Primeira Guerra, quando os alemães tinham sido obrigados a pagar grandes reparações de guerra às nações vencedoras.

O endividamento criou duras condições de austeridade econômica que contribuíram para ascensão do Partido Nazista, sob a liderança de Adolf Hitler, no início da década de 1930.

Analistas, no entanto, alegam que o socorro financeiro à Alemanha era uma necessidade que transcendia a geopolítica. Dado o tamanho do país, sua recuperação era importante para a economia mundial.

A Grécia certamente não tem essa importância, mas a dúvida aqui é se um colapso grego em 2015 apresenta os mesmos riscos políticos da Alemanha do pós-guerra.

E se o país "merece" a mesma generosidade dos credores.