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Ex-'barwoman' de David Bowie cria 'império do suco' de R$ 700 mi

Janine Allis teve a ideia de abrir uma rede de casas de suco na Austrália após observar sua popularidade nos EUA - Boost Juice Bars/BBC
Janine Allis teve a ideia de abrir uma rede de casas de suco na Austrália após observar sua popularidade nos EUA Imagem: Boost Juice Bars/BBC

Phil Mercer

da BBC News, em Sydney

09/07/2015 09h45

Na adolescência, uma viagem "mochilão" da australiana Janine Allis a levou a fazer drinks para estrelas do rock no iate particular de David Bowie. A experiência a ajudou a criar um 'império' de casas de suco com vendas globais anuais de mais de 300 milhões de dólares australianos (R$ 720 milhões).

Quinze anos depois de ter seu primeiro estabelecimento aberto, a empresa Boost Juice Bars tem 400 lojas em 13 países e consome, anualmente, 49 milhões de mirtilos e três milhões de bananas.

Nada mal para uma garota que nasceu no subúrbio de Melbourne - segunda maior cidade da Austrália -, saiu da escola aos 16 anos e, em vez de ir para a universidade, trabalhou em três empregos para pagar por uma aventura no mar que a deixaria mais forte para enfrentar as batalhas que encontraria no mundo dos negócios.

Era 1984, ela anunciou à família que faria um "mochilão" pelo mundo.

A viagem de Janine, no entanto, durou muito mais do que o previsto, e a levou a passar dois anos fazendo e servindo bebidas no iate particular do astro do rock britânico David Bowie, para personalidades como a princesa Margaret - irmã da rainha Elizabeth 2ª - e celebridades como o ator Robin Williams.

Quase sete anos depois de sua partida, ela voltaria para a Austrália com um filho de dois anos.

Controlando o destino

"Viajar me ensinou a ser tenaz e a pensar rápido", diz Janine, na sede de sua empresa em Melbourne. "Quando eu trabalhei para Bowie, aprendi que há boas e más pessoas, sejam elas ricas, pobres ou agricultores locais. É um excelente insight sobre os seres humanos."

Janine trabalhou como assessora de imprensa em um estúdio de cinema, teve uma experiência mal sucedida como editora de livros e até viajou pela Austrália com comediantes que não conseguiam ganhar dinheiro.

Mas foi no final dos anos 1990 que a semente para sua rede global de casas de suco foi plantada.

Inspirada pela experiência de criar receitas de bebidas para os ricos e famosos, ela diz ter decidido "controlar meu próprio destino".

Além disso, ela percebeu que ser sua própria chefe poderia trazer uma rotina mais flexível, já que havia acabado de ter seu terceiro filho.

"Eu fui aos Estados Unidos e vi que sucos e smoothies (vitaminas de frutas) estavam começando a virar moda. Ao voltar para a Austrália não havia nada saudável e o aumento da obesidade estava completamente relacionado com o aumento do consumo de fast food", diz.

"Pensei: 'Não seria ótimo se eu pudesse criar um produto que tornasse ser saudável mais fácil?'. Só tinha experiências sendo babá e barwoman em um barco, mas escrevi um plano de negócios e fui em frente."

Rápido demais

Em março de 2000, Janine abriu o primeiro Juice Boost Bar. No entanto, ela preferiu fazê-lo em Adelaide, e não em Melbourne, porque acreditava que seria mais fácil testar o conceito em um mercado menor.

Com empréstimos bancários - em que teve de ceder sua casa como garantia -, Janine e seu marido Jeff, que ajuda a administrar o negócio, abriram 100 lojas em quatro anos e levaram a empresa a todos os Estados australianos.

Hoje, a Boost Juice Bars também tem lojas no Chile, na Inglaterra, na China, na Índia, na Alemanha e na África do Sul.

Ao lembrar destes primeiros anos, Janine admite que sua empresa cresceu rápido demais, que ela não tinha infraestrutura suficiente e que, por algum tempo, negligenciou os clientes. A empresária, no entanto, diz ter conseguido corrigir o rumo da empresa.

"Frequentemente penso no meu negócio como uma criança. Quando você começa uma empresa e ela está em estágio de incubação, ela precisa de você 100% do tempo", afirma.

Seus filhos hoje têm 24, 18, 16 e seis anos, mas Janine diz que, em alguns momentos, a busca pelo crescimento da empresa veio antes da vida em família.

"Você tem esse monstro que é o seu negócio, que suga completamente seu tempo e sua energia. As pessoas dizem 'quero equilíbrio na vida', mas, para fazer um negócio de sucesso, você precisa dar a alma."

Após 16 anos, ela diz ter alcançado o equilíbrio que buscava entre ser mãe e ser uma multimilionária self-made. Mesmo assim, continua querendo expandir.

"A primeira coisa que me motivou a ter uma carreira foi o medo. Em determinado momento, tínhamos obrigações financeiras de mais de 20 milhões de dólares australianos, então vendemos nossa casa para colocar todo o dinheiro que tínhamos no negócio", afirma.

"Não havia plano B, e isso, em alguns aspectos, ajuda, porque fica muito difícil. É como escalar o (monte) Everest... você precisa continuar até o topo."