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Não é só no Brasil: Inflação também cresce em vizinhos sul-americanos

10/09/2015 13h55

Ruth Costas

Da BBC Brasil em São Paulo

A inflação acumulada no Brasil nos últimos 12 meses foi de 9,53%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (10) pelo IBGE. E o país está longe de ser o único da região com problemas para controlar seus preços.

No ranking das maiores inflações da região, segundo um levantamento feito a pedido da BBC Brasil pela economista do Santander, Tatiana Pinheiro, o Brasil ainda está atrás da Venezuela e Argentina e muito próximo ao Uruguai.

Na Argentina, a inflação acumulada no período é de 13,3%, segundo índices oficiais (que muitos analistas consideram ser subestimados). E na Venezuela, a líder do ranking, a alta de preços ficou em 68,5% no ano passado.

Desde então, o governo venezuelano parou de divulgar os índices de preços mensais do país. "Mas sabemos que os preços lá estão acelerando, então é razoável pensar que a inflação tenha superado os 70%", diz Pinheiro.

No Uruguai, a alta de preços ficou em 9,48% nos últimos 12 meses. Chile, Colômbia e Peru registram índices de inflação na casa dos 4% ou 5% no período, mas em todos houve uma aceleração da inflação em relação aos 12 meses anteriores.

"Com a queda dos preços das commodities (principais produtos de exportação do continente), a tendência é que haja um alívio na inflação dos importadores mas uma maior pressão sobre os preços nos exportadores - o caso de boa parte dos países da região", explica Pinheiro.

Esse efeito ocorreria porque a menor entrada de dólares nesses países contribuiria para a desvalorização de suas moedas (pela menor demanda pelas moedas locais). As importações se tornariam mais caras (pelo dólar mais caro) e os preços dos produtos "exportáveis" tenderiam a subir no mercado interno.

"Além disso também podemos detectar uma outra tendência 'geral' impulsionando a inflação na região", diz Pinheiro.

"Muitos governos adotaram políticas anticíclicas para mitigar os efeitos da desaceleração da China e da crise internacional em seus países. Houve uma expansão dos gastos do Estado que acabou ajudando a impulsionar os preços."

Situações diferentes

A analista do Santander nota, porém, que cada país tem sua especificidade quando o tema é a trajetória de preços.

Na Venezuela, por exemplo, apesar de o governo defender que a inflação alta seria produto da especulação de comerciantes que estariam empenhados em uma guerra econômica contra "o socialismo" no país, analistas de vários setores dizem que o problema se deve, principalmente, à crescente impressão de dinheiro não sustentada em reservas internacionais.

Já no Brasil, a inflação também estaria sendo impulsionada neste ano pela alta dos preços administrados, como combustíveis, energia e água –cujos aumentos, na avaliação de analistas, teriam sido represados no ano passado por se tratar de ano eleitoral.

"Só a energia elétrica, por exemplo, já aumentou 50%, em média. A tarifa de água subiu de 10% a 20% e o combustível, de 8% a 10%", diz Pinheiro.

Segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto ficou em 0,22%, contra 0,62% de julho e no mesmo mês de 2014.

Foi a menor inflação mensal do ano, embora o acumulado em 12 meses ainda esteja bem acima do teto da meta definida pelo Banco Central - de 4,5%, com banda de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

Entre os itens que contribuíram para a desaceleração dos preços no Brasil em agosto estão as passagens aéreas, que caíram 24,9%, gerando uma contribuição de -0,11 ponto percentual no resultado do mês.

No grupo alimentação e bebidas houve queda de -0,01% puxada pela redução nos preços da batata-inglesa (-14,7%), tomate (-12,8%) e cebola (-8,2%). Juntos esses itens tiveram contribuição de -0,10 ponto percentual no índice de agosto.

Os grupos pesquisados com altas mais relevantes foram educação (0,82%), e despesas pessoais, que subiram 0,75%, puxadas, segundo o IBGE, principalmente pelos itens "serviço bancário" (que subiu 2,65%), "cabeleireiro" (0,86%) e empregado doméstico (0,53%).