IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Por que James Bond - o engenheiro - desistiu do Brasil

Bond voltou com a família para a Inglaterra após perder emprego no Brasil - Arquivo pessoal
Bond voltou com a família para a Inglaterra após perder emprego no Brasil Imagem: Arquivo pessoal

Claudia Silva Jacobs

Especial para a BBC Brasil

02/12/2015 14h31

Após oito anos e meio, James Arthur Bond, de 48 anos, a contragosto, foi levado de volta às origens. A crise tirou-o do Rio de Janeiro, terra que escolheu para viver com a família, forçando-o a buscar estabilidade em solo britânico.

Foram oito meses de desemprego e muita procura, até a hora do retorno, em meados deste ano. Agora, empregado, com as crianças na escola e família adaptada, acompanha a crise brasileira à distância e torce para um dia conseguir voltar.

"Não sou especialista, mas na minha opinião parece que o Brasil está uma bagunça. Acho que a situação ainda vai piorar antes de começar a mudar. Não estou decepcionado com a volta para a Inglaterra. Tive muita sorte de chegar no país quando tudo estava bem, e consegui voltar no momento em que a Inglaterra está economicamente estável", disse.

James Bond, que é casado há 16 anos com uma carioca que conheceu na Inglaterra, chegou ao Rio justamente quando o Brasil passava por um período de estabilidade e crescimento e a Europa entrava em crise econômica.

O engenheiro de projetos, entre outros trabalhos, ficou por seis anos bem empregado em uma multinacional, aproveitando o Rio, pelo qual se diz apaixonado.



James Bond estava plenamente satisfeito com a vida de carioca. Morando em um confortável triplex próprio no Recreio dos Bandeirantes, tinha a facilidade de estar próximo a praia e fazer caminhadas com a família, o que sempre adorou.

A vida parecia tranquila, e já estava adaptado às piadas e ao estranhamento em torno do seu nome, devido ao personagem de 007, o que o levou às páginas de um jornal e a ser convidado do programa de entrevistas de Jô Soares.

No ano passado, a empresa resolveu investir em outras praças, fazendo cortes na equipe. E Bond precisou procurar um plano B.

"Estava satisfeito com o trabalho, mas com os novos projetos da empresa minha vaga acabou. Em meados de 2014 começamos a sentir as mudanças. Fui buscando oportunidades e seguramos o quanto deu", explicou Bond.

"Quando perdi meu emprego, não vi oportunidade nenhuma de me reposicionar. Me registrei em vários sites, fiz contatos, procurei a rede de expatriados, não encontrei nada. Foram oito meses. Meu prazo era decidir a mudança até o início do ano letivo na Inglaterra (setembro), para não atrapalhar as crianças", contou o engenheiro.

O retorno à Inglaterra

Foram meses de preparação para a mudança, sempre com a esperança em encontrar um novo emprego no Brasil: queria continuar a viver perto da praia, aproveitar o sol e a se manter distante do frio, que ele diz detestar.

Como o objetivo era garantir o trabalho, o britânico escolheu a pequena cidade de Market Harborough, no condado de Leicestershire, no leste da Inglaterra.



"Consegui emprego imediatamente no setor de logística. Vim para cá porque tinha várias oportunidades aqui. Está muito tranquilo nesse aspecto".

Bond diz que as crianças já estão adaptadas, com o inglês "quase no ponto", estudando e fazendo amigos. Lucas, inclusive, está participando de um time de futebol. Sabrina também fez amigos e está curtindo a nova vida. Já a carioca Daniela Bond, segundo o marido, ainda precisa de um pouco mais de tempo para estar plenamente confortável.

O engenheiro vem tentando acompanhar a crise que o Brasil atravessa. Na terça-feira, o IBGE apontou que a economia brasileira retraiu 1,7% de julho a setembro na comparação com o segundo trimestre do ano, e 4,5% ante ao mesmo período de 2014.

E o governo já admite uma queda de 3,1% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, o que seria a maior recessão desde 1990.

Apesar de preferir não fazer análises políticas, Bond acha que a crise econômica está muito mais profunda do que imaginou. "Não pensei que a situação fosse ficar desse jeito. Ainda vai demorar para melhorar".

A crise também tem impactado o número de estrangeiros que chegam ao Brasil para morar, que teve a primeira queda desde 2009, segundo um levantamento da Fundação Getúlio Vargas.

No ano passado, 99.796 estrangeiros entraram no Brasil, contra 102.366 em 2013, de acordo com levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV.

Mas nem a crise faz com que Bond deixe de pensar em voltar. Assume que está com muitas saudades e que torce para tudo voltar aos eixos. Agora, com a libra em alta, o engenheiro pode fazer planos de férias no Brasil e, quem sabe, retornar para as ondas do Recreio dos Bandeirantes.

"Mesmo com os problemas, o Brasil é muito bom. Eu penso em voltar em paz, quando as crianças fizerem 18 anos, para não atrapalhar os estudos. O ideal seria passar seis meses na Inglaterra trabalhando e seis meses de férias no Brasil. Misturar os dois seria perfeito", diz.

"Sinto muitas saudades. Gosto do jeito das pessoas, da generosidade, da vida no Rio. No Natal do ano que vem volto para visitar".