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Como Bill Gates quer usar galinhas para reduzir fome na África - e os prós e contras desse plano

09/06/2016 19h09

Um dos homens mais ricos do mundo, Bill Gates lançou uma campanha inusitada para ajudar famílias que vivem abaixo da linha da pobreza na África Subsaariana.

A ideia do dono da Microsoft é doar galinhas para a região. Segundo ele, criar e vender os frangos pode ser uma forma eficiente para combater a pobreza por ali.

A promessa de Gates é doar pelo menos 100 mil galinhas à população africana - a página do projeto na internet já foi compartilhada milhares de vezes.

Estimativas da ONU apontam que 41% das pessoas que moram na África Subsaariana vivem em condições precárias, abaixo do nível da pobreza.

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Segundo o bilionário, um fazendeiro que criasse cinco galinhas poderia ganhar mais de US$ 1 mil (cerca de R$ 3,4 mil) por ano. A linha da pobreza é definida por uma renda um pouco abaixo disso - US$ 700 (R$ 2.382) anuais.

Ele explicou ainda que a meta é levar pelo menos 30% das famílias rurais na África Subsaariana a criarem as melhores raças de galinhas vacinadas - atualmente, a porcentagem não ultrapassa os 5%.

Mas será que a estratégia pode mesmo funcionar?

O editor de negócios da BBC África, Matthew Davies, até reconhece a nobreza da atitude de Bill Gates - ressalta, porém, que é preciso levantar alguns questionamentos.

Segundo ele, conforme a população de galinhas aumentar, será necessário pensar em outro problema: como alimentá-las? Será necessário disponibilizar mais terra arável para cultivar alimentos para elas?

Além disso, com mais frangos no mercado, a lógica simples da oferta e da procura sugere que a média do preço de uma galinha tende a cair, explica Davies.

E para completar, ainda há a questão do dumping.

Um exemplo: os Estados Unidos, a União Europeia e o Brasil são acusados de vender frangos para o mercado africano a preços bem menores do que os dos fazendeiros locais, o que também acaba ajudando a quebrá-los.

Mas Davies reforça que, mesmo com esses pontos negativos a serem considerados, a estratégia de Bill Gates não está fadada ao fracasso e é sempre válido tentar quando há qualquer mínima chance de sucesso.

"Cínicos e pessimistas vão sempre criticar, mas ao menos quando se trata de ajudar a combater a pobreza na África, não dá para dizer que Bill Gates não faz nada."

No lançamento da campanha, em Nova York, Gates disse: "Essas galinhas estão se reproduzindo de maneira contínua, então não há investimento que tenha uma porcentagem de retorno maior do que ser capaz de criar essas galinhas."

O multibilionário, que deixou de dar expediente na empresa que fundou para se dedicar a causas humanitárias, está promovendo a campanha em parceria com a organização beneficente Heifer International.

As ações do dono da Microsoft na área social:

- A Fundação Bill and Melinda Gates doou US$ 36 bilhões para projetos de saúde, desenvolvimento e educação.

- Já contribuiu para diversos projetos de pesquisa sobre Aids, ebola, tuberculose e outras doenças.

- Tem apoiado propostas de tecnologia, incluindo uma iniciativa para fornecer água limpa a partir de fezes humanas e outra para desenvolver vasos sanitários de alta tecnologia em áreas pobres.

- Mas ele também teve alguns fracassos, como o projeto educativo InBloom, que fechou em 2014. O objetivo era registar dados de estudantes.