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O que motiva profissionais que não priorizam o dinheiro?

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Imagem: ThinkStock

Eric Barton

Da BBC Capital

27/09/2016 17h33

O americano Robert Lee parece ter um problema em sua empresa: seus funcionários às vezes são entusiasmados demais.

Ex-analista em um grande banco internacional, Lee largou o emprego há dois anos para fundar a ONG Rescuing Leftover Cuisine, que recolhe comidas não consumidas em restaurantes e as distribui para bancos de alimentos em 12 cidades dos Estados Unidos.

Quando o telefone toca, ele já sabe que se trata de algum restaurante oferecendo sobras. E que, imediatamente, seus funcionários querem ir correndo para lá.

O empresário já aprendeu que os profissionais do chamado terceiro setor são bastante ambiciosos, mas têm motivações bem diferentes daqueles que trabalham em empresas tradicionais.

Esses jovens acumulam tarefas, dão duro e querem dizer "sim" para todos os clientes, mas não fazem isso por dinheiro ou prestígio. Na verdade, querem ajudar o maior número de pessoas possível.

Mas em vez de liberar seus funcionários para sair correndo assim que o telefone toca, Lee os incentiva a agendar várias coletas para o mesmo período, e assim usar melhor os recursos da ONG.

"Meus funcionários estão tão concentrados na missão da entidade que querem dizer 'sim' a todo mundo", conta Lee. "Mas é preciso ensiná-los a pensar em usar o tempo para causar mais impacto."

Ligação com a causa

Trata-se de uma importante lição para qualquer gerente que esteja saindo do setor corporativo para o mundo das ONGs.

Para Taara Hoffman, diretora da GirlVentures, que organiza aventuras ao ar livre com meninas carentes, os gerentes do setor têm que estar preparados para encontrar um novo tipo de motivação.

Qual é ela? Bem, não é dinheiro, pois os funcionários de Hoffman sabem que ganhariam melhor em uma empresa. Tampouco status, já que aqueles que tiveram uma boa formação acadêmica poderiam estar ocupando cargos mais altos no setor corporativo.

"O segredo é descobrir o que os fascina no trabalho", aconselha Hoffman. Segundo ela, a maioria dos profissionais de ONGs não está de olho em promoções.

"Como são tão entusiasmados com a causa, eles tendem a pôr de lado o seu ego."

"Na maioria das vezes, o que os motiva é alguma ligação com a causa", afirma ela. "Muitos simplesmente querem ajudar meninas carentes. Outros podem ter participado de um programa semelhante na infância."

Hoffman tenta identificar as motivações e passar para cada um as tarefas mais adequadas.

"Se você quer dirigir uma ONG, você precisa mesmo colocar suas habilidades motivacionais para funcionar", diz ela.

Metas de curto prazo

Leila Janah, CEO do Sama Group, organização que pretende reduzir a pobreza ao ajudar pessoas a encontrar empregos na área de tecnologia, acredita que não há tempo a perder.

Muitos de seus funcionários acabaram de sair da universidade e passam de dois a três anos trabalhando por uma boa causa antes de acabarem no setor corporativo. Logo, ela acredita ser crucial estabelecer metas de curto prazo para esses profissionais.

"Como gerente, pode ser até mais difícil conseguir os resultados necessários, porque você pode precisar investigar bem o que motiva seus funcionários", explica Janah.

Ao mesmo tempo, é importante que os funcionários tenham boas condições de trabalho. "Como eles, em geral, têm ótimas qualificações e uma boa formação acadêmica, eles têm oportunidades para trabalhar em outros lugares", diz.

Isso quer dizer aceitar condições que normalmente não seriam negociáveis em uma grande empresa, como redefinir responsabilidades, deixá-los trabalhar de casa ou em horários alternativos, ou dar a eles um tempo para que trabalhem em projetos paralelos que possam ajudar a ONG.

"Também é muito importante lembrar os funcionários sobre a missão da ONG", diz Janah. "Se você tem que pedir que façam uma tarefa chata, explique como aquilo será importante para o bem de nossos beneficiários."

Flexibilidade também é fundamental. "Profissionais de ONGs querem trabalhar duro. Mas precisam de inspiração para se motivar."

Afinal, em um setor baseado no altruísmo, um gerente precisa se lembrar de uma coisa: a missão é o mais importante.