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Que vantagens a JBS poderia ter ao saber antes a taxa de juros?

Cadu Rolim/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Imagem: Cadu Rolim/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Paula Adamo Idoeta

18/05/2017 21h23

Em sua explosiva delação premiada, o executivo da JBS Joesley Batista teria dito que recebeu do presidente Michel Temer a informação privilegiada de que a taxa de juros da economia cairia 1 ponto percentual, algo que deixou em alerta analistas e operadores do mercado financeiro.

Segundo o jornal "Folha de S. Paulo", o encontro entre Temer e Batista ocorreu no dia 7 de março, no Palácio do Jaburu, e no mês seguinte, em 12 de abril, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic de 12,25% para 11,25%.

Mas afinal, como uma informação privilegiada sobre a taxa de juros poderia ser usada pela holding que controla a JBS?

Já se esperava, entre março e abril, que a taxa de juros provavelmente cairia. Mesmo assim, dizem analistas, uma empresa poderia obter vantagens com essa informação.

Para Alexandre Cabral, professor do Laboratório de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração), uma empresa que planeja captar recursos com investidores pode mudar essa decisão com base na taxa de juros.

Ou pode também usar essa informação para agir no mercado financeiro, explica Alexandre Cesar Kawakami, especialista em mercado de capitais e professor do IDP-SP (Instituto de Direito Público).

"Se eu sei o quanto a dívida do governo vai cair, posso, por exemplo, comprar um título com um valor alto já sabendo que ele vai valer mais quando a taxa de juros for reduzida", explica.

O estrategista de um grande banco de investimentos, que pediu para não ser identificado, lembra também que a JBS é muito ativa no mercado financeiro.

"A empresa é uma grande operadora de dólar e DI (depósitos interfinanceiros). Se você age no mercado apostando na queda da Selic (com informação privilegiada), pode ganhar mais dinheiro que o mercado como um todo", diz o estrategista.

Kawakami explica que os preços do mercado de câmbio são precificados em grande parte pela flutuação da taxa Selic.

Não há, no entanto, até o momento, nenhuma evidência pública de que a empresa tenha lucrado de fato com essa suposta informação antecipada.

Banco Central independente

Um economista de um banco de investimentos disse à BBC Brasil, pedindo anonimato, que se, confirmada, a informação dada por Joesley Batista em sua delação seria "um escândalo gigante sobre o Banco Central", que deveria operar de forma independente da Presidência da República.

A assessoria de imprensa do Banco Central afirmou, porém, que "as decisões do Copom são tomadas apenas durante as suas reuniões e são divulgadas imediatamente após seu término por meio de comunicado no site do Banco Central da internet".

Portanto, agrega o BC, "não existe possibilidade de antecipação da decisão a qualquer agente, público ou privado. Sinalizações sobre possíveis futuras decisões são emitidas nos documentos oficiais do Banco Central".

Em pronunciamento nesta quinta-feira, Temer não mencionou especificamente as acusações relacionadas à taxa de juros, mas citou "a correção dos seus atos" e que não tem "nada a esconder".

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