IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

'Investimento se faz na baixa: agora é a hora de investir no Brasil', diz embaixador britânico

"O Brasil está enfrentando uma recessão grande mas vai retomar o crescimento", avalia Rangarajan - Cynthia Vanzella/ Divulgação Brazil Forum
"O Brasil está enfrentando uma recessão grande mas vai retomar o crescimento", avalia Rangarajan Imagem: Cynthia Vanzella/ Divulgação Brazil Forum

Fernanda Odilla

Da BBC Brasil em Belo Horizonte

05/08/2017 08h58

O Reino Unido escolheu um matemático com doutorado em astrofísica para ser seu representante no Brasil. O embaixador Vijay Rangarajan, que chegou há pouco mais de dois meses, diz que agora é a hora de investir no Brasil.

"Você investe quando o mercado está em baixa, e não em alta", afirma o embaixador.

O diplomata se diz otimista em relação ao futuro do Brasil e é diplomático ao comentar a crise política e econômica. "O Brasil está enfrentando uma recessão grande mas, certamente, vai retomar o crescimento", opina.

Rangarajan ressalta os "abundantes recursos naturais e humanos" que, segundo ele, representam "vantagens demográficas e econômicas".

De olho no pós-Brexit

Rangarajan tenta pavimentar um caminho sem turbulências para o Reino Unido no cenário pós-Brexit, a saída dos britânicos da União Europeia (UE), decidida por um plebiscito em junho de 2016. Apesar das incertezas sobre como será o processo, o diplomata tem dito aos brasileiros que o Reino Unido continuará "aberto, liberal e a favor do livre-comércio".

O Brasil está na lista dos parceiros "chave" após a saída, que ainda está sendo negociada. Por isso, na segunda-feira passada, o ministro das Finanças do Reino Unido e ex-chanceler Philip Hammond veio ao Brasil com uma comitiva de empresários britânicos atraídos por esse momento "de baixa" para falar sobre oportunidades e investimentos.

O Reino Unido pretende dobrar o montante destinado a incentivar o comércio com o Brasil e, pela primeira vez, o apoio estará disponível em reais. Estima-se que esses recursos alcancem R$ 12 bilhões.

Também está sendo desenvolvido um programa de trabalho com até R$ 330 milhões para apoiar o Brasil em ações de desenvolvimento econômico e esforços para a redução da pobreza. Há ainda a intenção de ampliar o número de empresas brasileiras atuando no Reino Unido, que cresceu em 30% nos últimos três anos.

Na avaliação de Rangarajan, o pedido de adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o chamado "clube dos países ricos") facilita o estreitamento das parcerias e da relação comercial com o Reino Unido.

E, enquanto ainda faz parte da União Europeia, o Reino Unido acompanha com atenção as negociações do acordo entre o Mercosul e o bloco europeu. "Queremos continuar parte desse acordo com o Mercosul mesmo depois de sair da União Europeia", afirma o embaixador.

Alex Ellis, antecessor de Rangarajan, deixou o posto no final de 2016 preocupado com a continuidade dos acordos firmados. "O difícil não era chegar a acordos, mas sim segui-los por causa da mudança de ministros", disse em entrevista à BBC Brasil em janeiro.

O novo embaixador, contudo, se fia no corpo técnico do Itamaraty e do Ministério da Fazenda para fazer valer o que os dois governos têm negociado.

O otimismo de Rangarajan contrasta com a percepção de muitos brasileiros desiludidos com o momento político e econômico do país, conforme ele mesmo percebeu durante as viagens que fez pelo país. Ele insiste, porém, em que "há várias razões para ser otimista".

"Turbulência política acontece em todos os países, todos já atravessaram períodos de incerteza. Veja o Reino Unido com o Brexit", diz. "É oportunidade para se tomar decisões democráticas."

Competição dura

Estar no Brasil foi uma escolha de Rangarajan. Ele se candidatou à vaga de embaixador e diz ter passado por uma "competição dura" pelo cargo. Pesaram o currículo, o projeto que apresentou para melhorar as relações do país como Reino Unido e a experiência com negociações bi e multilaterais.

Antes de chegar ao Brasil, Rangarajan conta ter feito uma imersão nos assuntos locais. Diz que precisa melhorar o português, ainda passa vergonha ao dançar em público e deseja incrementar os dotes culinários. "Já fiz uma moqueca de camarão." Mas o que o embaixador quer mesmo é viajar mais pelos "vários Brasis".