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As cinco piores bolhas da história da economia - e por que elas ainda assustam

Bolhas econômicas são uma constante desde o século 17 na Europa e nos Estados Unidos  - Getty Images
Bolhas econômicas são uma constante desde o século 17 na Europa e nos Estados Unidos Imagem: Getty Images

Cecilia Barría - BBC Mundo

23/12/2017 15h58

As bolhas financeiras se formam quando há um aumento muito rápido e elevado dos preços de um produto - e "estouram" quando as pessoas menos esperam.

"As bolhas surgem especialmente em períodos de inovação. Podem ser inovações tecnológicas, como as ferrovias ou a internet, ou financeiras", diz Markus K. Brunnermeier, professor de economia da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e coautor do livro Bubbles and Central Banks: Historical Perspectives (Bolhas e Bancos Centrais: Perspectivas Históricas, em tradução livre).

De acordo com o especialista, a "explosão" é mais perigosa quando as bolhas são financiadas com crédito - foi o caso da compra de ações na década de 1920, que resultou na quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.

E, assim como outros especialistas, Brunnermeier acredita que estamos diante de uma nova bolha: os investimentos em criptomoedas, como o bitcoin, que têm chamado a atenção do mundo pela hipervalorização.

Segundo Ann Pettifor, diretora do Centro de Investigação de Políticas Macroeconômicas (Prime, na sigla em inglês), as grandes bolhas - como a bolha da internet, no início dos anos 2000 - se formam por causa do chamado "ciclo dos negócios": a atividade econômica e os preços não podem crescer exponencialmente para sempre.

"As bolhas ocorrem quando a regulamentação financeira e as instituições estão deliberadamente debilitadas e permitem que a ilusão crie raízes", explica Pettifor à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Mas será que aprendemos a lição?

"Não", diz Pettifor. "Estamos cercados de bolhas, principalmente porque os governos têm desequilibrado as políticas econômicas e intensificado medidas monetárias radicais, como a austeridade fiscal", completa.

De acordo com a economista, os bancos centrais (de países desenvolvidos) facilitam o acesso das pessoas ao crédito, fazendo com que elas tenham dinheiro extra para investir em ativos que causam todos os tipos bolhas.

"É por isso que temos bolhas imobiliárias, no mercado de arte, de ações, em clubes de futebol e no mercado de automóveis, além das criptomoedas", diz.

Conheça algumas das maiores bolhas financeiras da história - ou pelo menos daquelas que se tem registro:

1. 'Tulipomania'

A "tulipomania", ou "bolha das tulipas", é considerada a primeira grande bolha especulativa da história mundial.

No século 17, houve uma euforia coletiva por tulipas exóticas na Holanda. O preço alcançou níveis tão exorbitantes que algumas pessoas chegaram a vender suas casas para comprar a planta.

Mas a escalada de preços chegou ao fim quando, em um determinado momento do ano de 1637, nenhum investidor quis mais comprar flores.

Pode ser porque o dinheiro acabou, pelo surgimento de um novo foco de peste bubônica ou simplesmente pelos rumores sobre um eventual colapso. O fato é que os compradores começaram a vender tulipas desesperadamente - o que levou a uma queda brutal nos preços.

O pânico financeiro tomou conta dos proprietários de tulipas e, de uma hora para a outra, a economia holandesa quebrou.

2. Bolha dos Mares do Sul

Na Inglaterra do começo do século 18, a Companhia dos Mares do Sul tinha o monopólio do comércio com as colônias espanholas na América Latina.

A empresa estabeleceu sua primeira rota comercial na região em 1717 e começou a propagar rumores sobre as maravilhas de suas expedições comerciais, que não eram verdadeiros.

O valor das ações da companhia disparou, passando de ?128 libras (R$ 568) para ?1.000 libras em apenas sete meses. Todos queriam títulos da empresa. O Parlamento britânico chegou, inclusive, a conceder uma vultosa linha de crédito para a expansão comercial dos negócios da companhia.

O crescimento rápido do valor das ações gerou um frenesi especulativo em todo o país, que se estendeu, inclusive, à compra de títulos de outras empresas, cujos ganhos reais não eram demonstrados.

Mas quando os recursos dos pequenos investidores começaram a esgotar, a situação ficou difícil. E se complicou ainda mais, quando eles começaram a comprar títulos da empresa com dinheiro emprestado da própria Companhia dos Mares do Sul.

Na hora de pagar as dívidas, muitos não tinham dinheiro suficiente e tiveram que vender as ações da companhia.

O que aconteceu depois é fácil de prever: os preços despencaram, vários bancos britânicos quebraram e a economia desmoronou.

3. A crise de 1929

A maior derrocada da história de Wall Street foi antecedida por uma onda especulativa que surgiu na década de 1920 - e levou milhares de pessoas a investirem no mercado de ações.

Muitos se endividaram para adquirir títulos, criando uma bolha que não parava de crescer.

Até que, no dia 24 de outubro de 1929, veio o primeiro golpe - o preço dos títulos desmoronou e o pânico financeiro tomou conta das ruas de Nova York.

Mas o pior ainda estava por vir. Quando os investidores achavam que a situação tinha chegado ao fundo do poço, veio a chamada "terça-feira negra", que ficou marcada para sempre na história.

A Bolsa de Valores de Nova York simplesmente entrou em colapso.

A febre especulativa chegou ao fim, e com ela a festa daqueles que tinham conseguido ganhar dinheiro fácil. Bancos quebraram, empresas foram fechadas e centenas de milhares de pessoas foram à falência.

A crise não só devastou as bases da economia dos EUA, mas acabou se estendendo para todo o mundo, dando início à Grande Depressão - a mais grave crise econômica mundial do século 20.

4. A bolha da internet

A popularização da world wide web, no fim dos anos 1990, provocou o fenômeno que ficou conhecido como a bolha da internet. O valor de algumas empresas de tecnologia chegou a níveis astronômicos, mesmo sem ter receita real.

Vários empreendedores ficaram milionários, e os investidores correram para adquirir mais e mais títulos que, supostamente, continuariam se valorizando.

Como resultado, centenas de empresas "pontocom" foram avaliadas em bilhões de dólares.

O índice Nasdaq Composite, que reunia a maior parte das empresas de tecnologia, subiu exponencialmente.

Na época, o economista Alan Greenspan, então presidente do Sistema de Reserva Federal dos EUA, alertou para uma "exuberância irracional" dos preços. Apesar disso, o frenesi de investimentos continuou - até que a bolha estourou, quando ficou claro que muitas dessas empresas não eram rentáveis.

Assim, em outubro de 2002, o índice Nasdaq teve uma queda abrupta e provocou uma recessão nos EUA com reflexos globais, inclusive no Brasil.

5. A crise das hipotecas 'podres'

A crise econômica mundial do fim da década passada teve origem nas chamadas hipotecas "podres" (ou "subprime") - créditos com juros altos concedidos pelos bancos dos EUA a pessoas que não tinham capacidade econômica para assumir as dívidas.

Essas instituições começaram a agrupar vários desses créditos duvidosos em produtos financeiros pouco claros - os chamados "derivativos" - que eram passados de mão em mão no mercado financeiro.

A bolha estourou quando os devedores - isto é, as pessoas que pegaram empréstimo para financiar imóveis - não conseguiram pagar as dívidas e os preços dos imóveis despencaram, ao mesmo tempo em que milhares de pessoas perderam suas casas.

O fenômeno foi acompanhado por uma queda nas bolsas, pelo aumento do desemprego e pela desestabilização do sistema bancário, representado pela emblemática quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

Embora tenha começado dos EUA, os efeitos da crise se propagaram rapidamente por vários países, gerando desastres financeiros em economias que não tinham como se proteger.

Como uma doença, a crise das hipotecas contagiou o resto do mundo, convertendo-se em uma das maiores bolhas dos últimos anos.

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