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Como Uber sobrevive com prejuízo de US$ 1,2 bilhão e sem nunca ter dado lucro?

Ciclistas do serviço de entregas Uber Eats - Joel Carillet/Getty Images
Ciclistas do serviço de entregas Uber Eats Imagem: Joel Carillet/Getty Images

11/11/2019 16h03

Os investidores do Uber têm esperado pacientemente um retorno de investimento. A julgar pelo último informe trimestral, contudo, terão de esperar um pouco mais.

O aplicativo de transporte compartilhado que expandiu para o delivery de comida já está há 10 anos em um crescente mercado global e segue perdendo dinheiro.

Embora sua clientela tenha crescido e sua renda melhorado, o balanço segue sendo negativo.

As últimas cifras destacam que a receita da empresa subiu quase 30%, chegando a US$ 3,8 bilhões. Mas o prejuízo líquido ainda está em quase US$ 1,2 bilhão.

O Uber permite que passageiros e motoristas se deem notas. Que nota a empresa receberia hoje?

Fim dos subsídios?

É preciso levar em conta que a atividade principal do Uber é providenciar um software que elimina intermediários. Essa tecnologia reduz muito os custos, comparando com os serviços tradicionais de táxis, por exemplo, mas não é o suficiente.

"À medida que passa o tempo, essa tecnologia ficou à disposição de quase todos, incluindo as empresas de táxi, e isso minimiza a vantagem do Uber", diz à BBC Adam Leshinsky, autor de Wild Ride: Inside Uber's Quest for World Domination (Corrida Selvagem: Por Dentro da Busca do Uber pela Dominação Mundial, em tradução livre).

"O que o Uber tem é um tamanho gigante e facilidade de uso", afirma.

A empresa cresceu se tornando competitiva nos mercados onde opera porque subsidia as viagens. Leshinsky acredita, no entanto, que isso deve acabar.

"A principal maneira que Uber e seus competidores, como o Lyft, poderiam fazer dinheiro é se sua competição brutal de preços acabasse. Atualmente, subsidiam suas viagens em muitos mercados ao redor do mundo, e o fizeram durante muitos anos. Se seus preços subirem, terão melhores perspectivas de lucro", considera o autor.

Ao mesmo tempo, no entanto, se os preços subissem, o Uber não gozaria de uma base de clientes tão grande, porque esse é seu forte. Mas Leshinsky considera que o Uber terá muita dificuldade para conseguir benefícios no futuro.

"Se chegarem a registrar lucro, isso virá em troca de crescimento. Já estão tratando de cortar gastos. Quanto mais cortarem os gastos, mais difícil será desenvolver o negócio."

Problemas laborais e de concorrência

Por outro lado, a empresa já foi criticada por seu pagamento aos motoristas e o seu tratamento aos funcionários — e se são de fato funcionários da empresa ou não.

Isso implicou numa luta constante com reguladores e legisladores. Na Califórnia (EUA), um dos principais mercados do Uber, foi aprovada uma lei que exige que a empresa trate motoristas como funcionários.

O Uber está lutando para conseguir uma isenção. "Se não conseguirem e tiverem de pagar seus motoristas como funcionários ou restringir as horas que trabalham, será outra razão pela qual terão dificuldades de fazer dinheiro", observa Leshinsky.

O outro desafio da empresa, naturalmente, é a concorrência.

"Sempre haverá alguém que chegue oferecendo algo mais atraente, tanto aos motoristas como aos consumidores, o que reduzirá sua fatia no mercado", afirma à BBC Peter Morici, professor de economia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

"Minha opinião é que será um espaço onde por muito tempo será muito difícil fazer dinheiro."

Nos Estados Unidos, há alternativas como Lyft, e na Europa, Via, que se baseia em vários passageiros compartilhando um mesmo veículo.

"Ao contrário do Uber, não exploraram outras áreas, como a de veículos automatizados, nem tentaram entrar na América Latina", assinala Morici.

Uma considerável fonte de problemas para o Uber são suas quatro divisões, que também estão perdendo dinheiro. Por exemplo, o Uber Eats, serviço de delivery de refeições, é a segunda divisão mais importante da empresa, representando 17% da renda. Ela registrou um crescimento de 64%, mas mesmo assim suas perdas foram 67% mais altas que no ano passado.

O modelo Amazon

Para uma empresa de tecnologia que teve tantos problemas, a promessa do diretor executivo do Uber, Dara Khosrowshahi, de que a empresa reportaria ganhos para 2021 pode gerar dúvidas.

Mas outras empresas no passado investiram grandes quantidades de dinheiro com o objetivo de conseguir uma competitividade futura.

Um dos exemplos óbvios é a Amazon, que levou muito tempo para registrar lucros, embora suas perdas se devessem ao que a empresa investia em construção de infraestrutura, como armazéns.

No caso do Uber, os especialistas se perguntam se os subsídios e investimentos estão de fato contribuindo para criar uma crescente clientela leal e um sistema mais forte, necessários para garantir ganhos.

O professor Peter Morici e Adam Leshinsky concordam que mais empresas entrarão nesse mercado de transporte compartilhado.

Leshinsky, no entanto, vaticina que todas se fundirão em um só produto.

"Não sei quando nem como será, mas tenho bastante certeza de que o futuro será assim, e vamos rir desse período intenso e desordenado em que nos encontramos."

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