Minas de cobre seculares obrigam Bachelet a correr para salvar filão de riqueza do Chile

22 de setembro (Bloomberg) ? No ano passado, a presidente chilena Michelle Bachelet conquistou a vitória com promessas de aumentar os gastos em educação. Agora, ela está numa corrida contra o tempo para reavivar a maior fonte de renda do governo, a produtora de cobre Codelco.

Como executivos da companhia estatal advertiram que a produção poderia cair quase para a metade em seis anos, Bachelet autorizou a Codelco a gastar US$ 23,5 bilhões para reformar minas de cem anos que estão ficando sem minério rentável e prometeu vender US$ 4 bilhões em bonds para obter financiamento adicional.

Embora Bachelet esteja abrindo caminho com US$ 8,2 bilhões em aumentos nos impostos para pagar por um impulso inicial nas despesas em educação, é fundamental assegurar a viabilidade da Codelco para lidar com as crescentes demandas da classe média por serviços públicos melhores no país mais rico da América Latina. O cobre gera 20 por cento da receita do governo e é responsável por 60 por cento das exportações chilenas.

"O governo está assumindo uma grande aposta que será importante para o Chile e para a receita fiscal do país", disse Santiago González, ex-ministro das Minas e vice-reitor da Universidade Central em Santiago, em entrevista por telefone. "Se a Codelco não realizar esses investimentos a produção vai cair".

González foi ministro das Minas do Chile entre 2008 e 2010, durante o primeiro mandato de Bachelet, em meio a uma alta do boom mundial das commodities que estava gerando lucros inesperados para a Codelco. O preço do cobre mais do que quadruplicou na década que finalizou em 2010, como parte do chamado superciclo gerado por um aumento repentino da demanda chinesa por diversos produtos, de cabos de energia a encanamentos.

Distúrbio social

O benefício do cobre no Chile foi um ponto central dos distúrbios durante o governo do presidente Sebastián Piñera, entre 2010 e 2014, quando milhares de estudantes foram às ruas para exigir que o governo empregasse US$ 23,7 bilhões dos fundos de riqueza soberana para oferecer educação gratuita para todos os chilenos.

Bachelet foi reeleita para um segundo mandato presidencial em dezembro de 2013, com a promessa de reduzir a desigualdade, que é uma das mais altas entre os 34 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

Desta vez, os preços do cobre estão caindo e os custos da Codelco mais do que dobraram em cinco anos. A companhia está ficando sem minério rentável para extrair. A receita fiscal da companhia caiu 1,8 por cento no primeiro semestre do ano, para 438 bilhões de pesos (US$ 741 milhões), de acordo com um relatório orçamental do dia 30 de julho. No dia 14 de julho, o governo reduziu para 3,2 por cento sua projeção de crescimento para 2014, em contraste com a estimativa prévia de 3,4 por cento.

Chuquicamata

A magnitude da reforma planejada pela Codelco já é evidente na centenária Chuquicamata, a maior mina de cobre a céu aberto, onde a companhia começou a trabalhar em um poço de ventilação de 11 metros de diâmetro e 900 metros de profundidade, que será o maior do mundo, disse Gerhard Von Borries, diretor de projetos da Codelco, em entrevista, em Santiago.

A Codelco vai investir cerca de US$ 4,7 bilhões por ano entre 2014 e 2018 para ajudar a empresa a produzir 2 milhões de toneladas por ano, pela primeira vez em sua história, em 2023, disse Von Borries.

"Essas obras não têm paralelo, pelo menos no setor de mineração", disse ele. Sem o investimento, a produção cairia para 1 milhão de toneladas por ano, de cerca de 1,7 milhão de toneladas agora, disse.

No mês passado, Bachelet encaminhou para aprovação do Congresso a lei de financiamento plurianual da Codelco.

"Temos riquezas inegáveis", disse ela no jantar anual da Sonami, um grupo de lobby do setor de mineração que existe há 131 anos, no dia 29 de agosto, em Santiago. "É uma vocação bela e desafiadora, é parte de nossa identidade e também é essencial para o nosso futuro".

Título em inglês: Century-Old Copper Mines Spur Bachelet's Race to Save Cash Cow

Para entrar em contato com o repórter:

Matt Craze, em Santiago, mcraze@bloomberg.net

-0- Sep/22/2014 23:31 GMT