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Preocupação com ebola derruba a procura de turistas por safáris na África

Elefante se aproxima de veículo, durante safari na Botsuana - Getty Images
Elefante se aproxima de veículo, durante safari na Botsuana Imagem: Getty Images

Jennifer Kaplan

20/10/2014 13h17

20 de outubro (Bloomberg) – Longe do centro do surto de ebola na África Ocidental, o setor de safáris está sendo afetado porque o alarme pelo vírus mortal está fazendo com que os viajantes evitem o continente inteiro.

As operadoras de turismo dos países do leste e do sul do continente, famosos pelos seus animais selvagens, estão sentindo os efeitos adversos cada vez maiores da doença.

Em vez de simplesmente evitarem a zona de perigo na Libéria, na Guiné e em Serra Leoa, alguns visitantes estão abandonando o mercado de turismo da África Subsaariana, de US$ 36 bilhões, segundo estimações do Banco Mundial.

“É uma pena”, disse Oyin Anubi, economista do Bank of America  em Londres. “Não há casos de ebola na África Oriental, mas eu acredito que seja mais uma questão de percepção do que de realidade”.

Reservas em baixa, apesar da distância do ebola

As reservas para futuras viagens caíram e os cancelamentos de férias subiram pelo menos 10% em mais de metade das 500 empresas de safáris em uma pesquisa realizada no mês passado, segundo o mercado on-line SafariBookings.com.

No Quênia, a preocupação dos estrangeiros com o ebola em um país onde o vírus não está presente só aumenta os efeitos negativos sobre o turismo causados por um ataque terrorista em Nairóbi, em 2013.

“Muitas das preocupações com o risco na África em geral estão relacionadas ao risco político, que é muito específico em cada país”, disse Anubi, em entrevista por telefone. “No caso do ebola, talvez as pessoas estejam pintando o continente inteiro com um pincel grosso, apesar de até agora ser um surto relativamente isolado”.

Lugares tradicionais como África do Sul, Zâmbia, Botsuana, Uganda, Tanzânia e Quênia --onde os turistas podem ver animais grandes e fotogênicos nas planícies abertas do leste ou nas matas subtropicais do sul-- estão longe da região afetada pelo ebola.

Um voo de Nairóbi até Monróvia, Libéria, percorre cerca de 5.400 quilômetros. A viagem entre Londres e Monróvia é de só 5.100 quilômetros.

Banco Mundial reduz previsão de crescimento da África Subsaariana

O Banco Mundial reduziu sua previsão de crescimento econômico na África Subsaariana para 2014 de 5,2%, em abril, para 4,6%, no dia 7 de outubro, em parte devido aos efeitos do ebola em Serra Leoa, na Guiné e na Libéria.

O banco mencionou informação de viagens sendo canceladas até na África do Sul, um sinal potencialmente funesto.

O Quênia, onde a taxa de ocupação de hotéis despencou para até 12% após o ataque terrorista contra um shopping em 2013, agora enfrenta a preocupação dos visitantes “aumentada pelo medo do ebola que está desencorajando o turismo em toda a África”, segundo Armando Morales, representante residente do FMI em Nairóbi.

A Guiné foi o lugar dos primeiros diagnósticos de ebola da atual epidemia, que poderia superar 9.000 casos na África Ocidental nesta semana, disse no dia 16 de outubro a Organização Mundial da Saúde. Surtos no Senegal e na Nigéria foram controlados. Nas últimas três semanas, o vírus chegou aos EUA e à Europa.

Nos últimos nove dias --período em que o primeiro paciente diagnosticado nos EUA morreu e duas enfermeiras foram infectadas-- a preocupação dos clientes aumentou, disseram algumas empresas.

A Abercrombie Kent em Londres viu um “punhado” de cancelamentos devido à maior atenção dada à doença pela mídia, escreveu por e-mail uma porta-voz, Pamela Lassers.

Assunto onipresente

Na Great Getaways Travel em Kansas City, Kansas, as sete viagens para a África para este mês terão lugar sob a sombra da epidemia de ebola. A doença faz parte de todo papo sobre safáris há meses, disse o dono da empresa, Michael King.

João Oliveira, fundador da empresa de tours It Started In Africa, com sede na Tanzânia, disse que esse tipo de generalização sobre o continente é muito comum. A África, disse ele em entrevista por telefone, é o único continente onde as pessoas de fora misturam os problemas dos países dessa maneira.

“As pessoas não cancelam suas férias em Londres ou Paris por causa de um conflito na Ucrânia”, disse ele.