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Guerras cambiais evoluem com objetivo de evitar a deflação

David Goodman, Lucy Meakin e Ye Xie

22/10/2014 15h35

22 de outubro (Bloomberg) ? As guerras cambiais estão de volta, mas desta vez a meta é roubar inflação em vez de crescimento.

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, popularizou o termo "guerra cambial" em 2010 para descrever as políticas empregadas pelos principais bancos centrais na época a fim de aumentar a competitividade das suas economias mediante moedas desvalorizadas. Agora, muitos veem as taxas de câmbio mais baixas como um modo de evitar uma deflação paralisante.

Um crescimento fraco dos preços está sufocando economias, da zona do euro até Israel e o Japão. Oito das dez moedas com as maiores previsões de queda até 2015 são de países que estão em deflação ou em busca de políticas que enfraqueçam suas taxas de câmbio, de acordo com os dados compilados pela Bloomberg.

"Esta política de empobrecer o vizinho não tem a ver com o reequilíbrio nem com o crescimento", disse David Bloom, diretor global de estratégia cambial do HSBC Holdings Plc, com sede em Londres, que faz negócios em 74 países e territórios, em entrevista em 17 de outubro. "Trata-se da deflação, de exportar seus problemas deflacionários a outrem".

Bloom descreve o assunto desta forma porque quando uma jurisdição desvaloriza sua taxa de câmbio, a taxa de outra se fortalece, o que barateia os bens importados. A deflação é uma consequência e uma contribuinte da desaceleração econômica mundial que está levando a zona do euro à recessão e reduzindo a demanda por exportações em países como a China e a Nova Zelândia.

Os maiores declínios

No mês passado, o presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que aceitaria uma taxa de câmbio mais baixa para ajudar a cumprir sua meta de inflação e que poderia prolongar o programa de estímulo sem precedentes no país a fim de consegui-la. Como sua contraparte japonesa, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, reconheceu a necessidade de desvalorizar o euro para evitar a deflação e aumentar a competitividade das exportações, embora tenha se negado a almejar especificamente a taxa de câmbio.

Depois do peso argentino, que está despencando após um calote de dívida e uma desvalorização, o iene sofrerá a maior desvalorização entre as principais moedas até o final de 2015, segundo a média de previsões de estrategistas compiladas pela Bloomberg ontem. Projeta-se uma queda de 5,9 por cento, que daria continuidade ao recuo de 5,6 por cento registrado desde junho. Também espera-se que o euro esteja entre as dez moedas mais desvalorizadas, e os estrategistas preveem uma queda de 4,8 por cento.

Espalhamento

A taxa anual de inflação do bloco de 18 países, de 0,3 por cento em setembro, continua sendo uma fração da meta do BCE, que é de pouco menos de 2 por cento. O crescimento do PIB se estagnou no segundo trimestre, e a Alemanha, a maior economia da Europa, reduziu neste mês sua previsão de expansão para 2014 de 1,8 por cento para 1,2 por cento.

As pressões pela desinflação na zona do euro estão começando a se espalhar para seus vizinhos e principais sócios comerciais. Prevê-se que as moedas da Suíça, da Hungria, da Dinamarca, da República Tcheca e da Suécia caiam entre 4 por cento e mais de 6 por cento até o final do ano que vem, conforme estimativas compiladas pela Bloomberg, em parte devido às medidas dos responsáveis pela política econômica para aumentar os preços.

Alguns bancos centrais estão se concentrando no PIB e não na inflação. Em particular, é o caso dos exportadores, pois para eles uma taxa de câmbio mais baixa torna seus bens mais baratos.

No mês passado, a Nova Zelândia, cuja inflação anual no segundo trimestre foi a mais acelerada em dois anos e meio, anunciou sua maior intervenção cambial em sete anos, levando o dólar local a seu menor valor em 13 meses.

"A deflação é uma parte tão importante do assunto que lidar com ela, com quaisquer meios necessários, é fundamental", disse Simon Derrick, estrategista-chefe cambial do Bank of New York Mellon Corp. em Londres, em entrevista por telefone no dia 17 de outubro. "Se isso implicar uma desvalorização da moeda, que assim seja. É necessário lidar com isso".

Título em inglês: 'Currency Wars Evolve With Goal of Avoiding Deflation: Currencies'

Para entrar em contato com os repórteres: David Goodman, em Londres, dgoodman28@bloomberg.net; Lucy Meakin, em Londres, lmeakin1@bloomberg.net; Ye Xie, em Nova York, yxie6@bloomberg.net