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Brasil deve ter más notícias na economia com Dilma ou Aécio na Presidência

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Imagem: Reprodução

Raymond Colitt

24/10/2014 14h24

24 de outubro (Bloomberg) -- Quem vencer o segundo turno da eleição presidencial no Brasil neste domingo não terá notícias muito boas para dar quanto à perspectiva para o segundo maior mercado emergente do mundo.

O Brasil está em recessão e a inflação anual está acima do teto de sua meta. A ampliação do deficit orçamentário ameaça o status de grau de investimento do país, e a confiança empresarial, que oscila próximo à mínima dos últimos cinco anos, colocou os investimentos no nível mais baixo entre os Brics, grupo que também inclui Rússia, Índia, China e África do Sul.

Para colocar a economia de novo nos trilhos, tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o candidato de oposição Aécio Neves terão que cortar gastos, retirar os limites aos preços controlados pelo governo e permitir que a moeda perca força, disse Nicholas Spiro, diretor-geral da Spiro Sovereign Strategy, com sede em Londres.

Essas medidas, que os traders apostam que incluirão o aumento da maior taxa de juros dentro do G20, poderão impulsionar o desemprego e reduzir salários pela primeira vez em mais de uma década.

"Independentemente de quem vencer, estamos vendo um cenário pós-eleitoral sombrio para o brasileiro médio", disse Spiro, em entrevista por telefone. "Mesmo no melhor cenário, o Brasil levará pelo menos 2 ou 3 anos para se recuperar".

Dilma passou à frente de Aécio pela primeira vez desde a realização do primeiro turno, segundo duas pesquisas de opinião. O apoio a ela foi de 48%, contra 42% para Aécio, em uma pesquisa do Datafolha realizada nos dias 22 e 23 de outubro, e de 49% contra 41% para Aécio, em uma pesquisa do Ibope.

Ambas as pesquisas, que anteriormente mostravam os candidatos empatados tecnicamente, têm uma margem de erro de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

Expansão mais lenta

A maior economia da América Latina deverá expandir-se 1% no ano que vem, segundo a última pesquisa do Banco Central com analistas. O resultado representa metade do ritmo médio durante os três primeiros anos de Dilma na presidência e um quarto do crescimento registrado nos dois mandatos de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

O produto interno bruto teve uma contração de 0,6% no segundo trimestre e uma queda revisada de 0,2% nos três primeiros meses, ajudando a corroer as receitas fiscais e a ampliar o deficit orçamentário para 4% do PIB.

As assessorias dos dois candidatos não responderam a e-mails em busca de comentários sobre a perspectiva para a economia no ano que vem.

Embora a taxa de desemprego oscile próximo a uma baixa recorde de 4,9% e tenha sido um dos principais temas abordados pela campanha de Dilma, há sinais de que o mercado de trabalho está começando a perder força.

A criação de empregos nos nove meses até setembro desacelerou em 30% em relação a um ano antes. Os aumentos anuais de salário foram de 1,5% no mês, ajustados pela inflação, contra 2,5% em agosto.

O desemprego poderá subir, e os salários reais, cujo crescimento excedeu a produtividade do trabalho, poderão cair no ano que vem pela primeira vez em uma década, disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. para a América Latina.

"Falsa prosperidade"

"Foi, em parte, uma falsa prosperidade porque aquele crescimento dos salários não foi sustentável", disse Ramos, em entrevista por telefone.

Com a projeção de que nenhum dos candidatos conseguirá uma ampla maioria, o próximo presidente terá uma capacidade limitada para tomar medidas de austeridade impopulares. As eleições parlamentares do dia 5 de outubro reduziram a base aliada de Dilma, mas também não entregaram à coalizão de Aécio uma maioria clara.

Isso piora a perspectiva para impostos, trabalho e outros projetos de lei para melhorar o clima de investimento, segundo um relatório do dia 20 de outubro da Eurasia Group.

Contudo, atrasar a aplicação de cortes no orçamento, ajustes de preços e depreciação cambial apenas infligirá custos maiores no futuro, disse Ramos, do Goldman.

"O ajuste é inevitável; a questão é se será rápido e menos doloroso ou prolongado e provavelmente mais doloroso."