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Estradas na França são melhores do que nos EUA devido a pedágios, diz especialista

François de Beaupuy

19/11/2014 16h07

19 de novembro (Bloomberg) - Durante sete semanas neste outono boreal, asfaltadores trabalharam durante as noites e os fins de semana para renovar a estrada entre o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, e um parque de diversões dedicado a Asterix, o rebelde gaulês dos quadrinhos amado por gerações de crianças francesas. Em 31 de outubro, eles tinham terminado a obra conforme o programado, e agora o trânsito flui pelo trajeto de 6,4 quilômetros de estrada.

Alguns quilômetros ao norte se encontra a fonte de financiamento do projeto -e a razão pela qual as "autoroutes" da França estão em melhor estado do que a maior parte da rede rodoviária dos EUA: um pedágio. Os motoristas devem pagar para usar 78 por cento das principais estradas francesas, em comparação com cerca de 3 por cento do Sistema Nacional de Rodovias nos EUA.

"Não é nenhum segredo que a chave nessa batalha é o dinheiro, e as rodovias francesas estão bem financiadas pelos pedágios", disse Arnaud Aymé, responsável pela infraestrutura de transporte da Sia Partners, uma consultoria de gestão em Paris. "A qualidade das estradas americanas é claramente inferior".

A França -considerada por muitos americanos como um reduto de baguetes, boinas e burocratas esquerdistas-  foi a quarta colocada em um ranking mundial da qualidade rodoviária, segundo o último Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial. Somente os Emirados Árabes Unidos, Portugal e a Áustria superaram a França, que está doze lugares acima dos EUA, onde o debate sobre o financiamento tem minado os esforços para reconstruir estradas e pontes deterioradas.

Na maioria das rodovias francesas, o pedágio tem um custo por quilômetro quase duas vezes maior do que o custo médio nos EUA. Além disso, as operadoras podem aumentar as tarifas todos os anos, o que lhes rende muito dinheiro para a manutenção. Em contraste, a manutenção das estradas americanas é financiada principalmente pelos impostos, como uma taxação por galão sobre a gasolina que não tem acompanhado a alta dos custos.

Supervisão

Outro segredo do sucesso da França é uma supervisão efetiva, segundo Sylvain Duranton, sócio do Boston Consulting Group em Paris. Quando o governo vendeu a maioria das suas operadoras de estradas em 2006, os contratos exigiram inspeções rigorosas e consertos rápidos quando fossem identificados problemas em túneis, pontes ou pistas.

Boas estradas não são baratas ? e os motoristas franceses têm se irritado com o aumento dos pedágios. As principais operadoras de rodovias podem aumentar os preços em 0,7 vezes a inflação por ano, mas podem elevar as taxas mais rapidamente caso concordem em investir mais do que o planejado inicialmente para atualizar a rede. Como consequência, embora a inflação desde 2006 tenha sido de 13,6 por cento, os pedágios aumentaram 16,9 por cento, segundo reguladores antitruste da França.

Os pedágios na França custam em média 10,5 centavos de euro por quilômetro, frente aos 6,5 centavos de euro cobrados pela maior empresa de pedágios da Itália, conforme a Sia Partners. A média de pedágios nos EUA é inferior a 10 centavos de dólar por milha na maioria dos estados, segundo um informe publicado em 2013 pela Conferência Nacional de Legislaturas Estaduais.

Controvérsia

Bruno Laserre, presidente da Autoridade de Concorrência da França, diz que o aumento dos pedágios superou em muito os custos das operadoras, já que elas eliminaram empregos, aproveitaram taxas de juros mais baixas e podem ter reduzido o gasto em manutenção.

O debate pelo financiamento se intensificou depois que empresas de transporte marítimo e proprietários de pequenas empresas se rebelaram contra um plano para criar um imposto sobre o transporte por caminhão em 15.000 quilômetros de rodovias nacionais menores. Os manifestantes vandalizaram neste ano equipamentos como câmeras de vídeo em pontos de verificação automática instalados para avaliar os novos pedágios.

"Teremos uma diferença cada vez maior entre as estradas com concessões e aquelas estatais", disse Philippe Nourry, diretor de operações com pedágios da operadora Eiffage SA, na apresentação de lucros do grupo em agosto. Sem suficientes verbas para as rodovias menores, "acabaremos tendo uma rede de duas velocidades" no que tange à qualidade.

Título em inglês: 'American Roads Fail in Quality to French Highways Paved by Tolls'

Para entrar em contato com o repórter: François de Beaupuy, em Paris, fdebeaupuy@bloomberg.net