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'Invasão' de italianos enfurece suíços antes de votação nacional sobre imigração

Corinne Gretler

19/11/2014 16h21

19 de novembro (Bloomberg) ? Quando Franco Agustoni ia fumar de manhã em sua varanda na comuna fronteiriça de Bissone, na Suíça, ele desfrutava da vista do Lago Lugano. Agora, ele só consegue ver filas de carros com motores zumbindo enquanto os italianos entram na Suíça para um dia de trabalho.

Somente dez meses depois de votar a implementação de cotas à imigração, uma votação promovida pela Ecopop em 30 de novembro decidirá se limitar o fluxo líquido de entrada de pessoas do exterior por ano em até 0,2 por cento da população da Suíça. O fluxo diário de entrada da Itália ao cantão italófono do país helvético, Ticino, que não está tomado pelo debate sobre a imigração, só está exacerbando a situação.

"Há uma invasão do setor de serviços aqui", disse Agustoni, 66, fumando cigarros Dunhill enquanto toma um café expresso em frente à cafeteria Maru, no Corso San Gottardo da comuna suíça Chiasso, a poucos metros da fronteira com a Itália. "As pessoas, especialmente os jovens com formação universitária, raramente arranjam empregos porque os empregadores preferem contratar italianos, que não custam tanto".

Ticino contabiliza cerca de 60.000 viajantes a trabalho, ou "frontalieri" vindos da Itália, que respondem por cerca de um terço da sua força de trabalho. Embora 21 por cento dos cidadãos suíços que moram em Ticino sejam de origem estrangeira, a votação realizada em fevereiro para implementar cotas não especificadas a fim de "deter a imigração em massa" teve o maior apoio no cantão, com 68,2 por cento de votos pelo "sim", em comparação com apenas 50,3 por cento em todo o país.

Salários mais baixos

Em Ticino, onde um de cada quatro moradores não tem um passaporte suíço, os trabalhadores estrangeiros e os "frontalieri" acarretam acima de tudo salários mais baixos. A média anual de salários brutos na Suíça foi de 71.600 euros (US$ 89.650) no ano passado, em comparação com somente 29.700 euros na Itália, segundo dados da Eurostat.

A Itália, a terceira maior economia da zona do euro, está atolada na recessão econômica mais prolongada desde a Segunda Guerra Mundial, e seu nível de desemprego, superior a 12 por cento, é o maior já registrado desde que os dados começaram a ser compilados em 1977. O valor se compara com a taxa de 4,5 por cento em Ticino no ano passado, acima da média nacional suíça de 3,2 por cento, com base em cálculos nacionais que utilizam um método diferente do italiano.

"Estive desempregado durante um ano e decidi me candidatar onde houvesse empregos", disse Paolo Pini, um "frontalieri" de 30 anos vindo de Como que trabalha em uma empresa de telefonia em Chiasso. "Eu moro na Itália porque é mais barato, e meu salário na Suíça é abundante. Chego no trabalho em apenas 20 minutos, mas eu ia querer trabalhar aqui mesmo que demorasse uma hora e meia para chegar".

Crescimento

No país inteiro, o número de pessoas que cruzam diariamente a fronteira para trabalhar na Suíça subiu para 288.149 no segundo trimestre deste ano, segundo a Secretaria Federal de Estatística. É um crescimento de 4,3 por cento em relação ao ano anterior. Em Ticino, o ganho foi de 6,5 por cento, o que totaliza 62.458.

A votação promovida pela Ecopop reduziria o número bruto de estrangeiros que entram na Suíça em cerca de um terço, e os defensores argumentam que a imigração está arruinando o ambiente de cartão-postal do país. Embora as pesquisas indiquem que é provável que a proposta seja rejeitada no dia 30 de novembro, o governo está trabalhando para montar um sistema que observe os critérios estabelecidos na votação realizada em fevereiro. O governo disse que as novas regras incluirão cotas e um número máximo de novos imigrantes admitidos na Suíça.

Enquanto isso, em Chiasso, Agustoni continua reclamando do fluxo diário de entrada de italianos.

"É fácil morar na Itália e ganhar dinheiro na Suíça", disse ele. "O trânsito estraga as ruas e arruína o meio ambiente. É um verdadeiro distúrbio".

Título em inglês: 'Italian 'Invasion' Has Swiss Fuming as Immigration Vote Looms'

Para entrar em contato com a repórter: Corinne Gretler, em Zurique, cgretler1@bloomberg.net