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Com salário de US$ 295 no setor automotivo, México enfrenta crescimento baixo

Brendan Case e Nacha Cattan

25/11/2014 17h22

25 de novembro (Bloomberg) - O florescente setor automotivo do México está gerando mais dólares com exportações do que o petróleo, fabricando mais carros do que o Brasil e dando um emprego a Esmeralda Velázquez. O que ele não está fazendo é aumentar seu padrão de vida.

A operadora de máquinas em uma fábrica de suspensão de carros, de 37 anos, ganha US$ 295 por mês, valor somatório insuficiente para pagar um serviço de telefonia ou comprar camas separadas para suas duas filhas, para não dizer um computador ou um carro. Os aumentos salariais praticamente não acompanharam a inflação desde que ela começou a trabalhar no setor, há 15 anos, disse ela.

"Quando eu vejo um carro bonito passando, eu penso: 'Eu fiz essa suspensão, mas nunca vou poder ter um'", disse Velázquez da sua casa alugada feita de blocos de concreto na cidade de Querétaro, uns 208 quilômetros a noroeste da Cidade do México.

A produtividade aumentou o dobro dos salários desde 2005 no México, calcula o Bank of America Corp., o que ajudou o país a atrair investimentos e se converter no segundo maior fornecedor de carros aos EUA e no maior exportador de TVs de tela plana do mundo.

O lado negativo é que não sobra muito para os trabalhadores, o que limitou as vendas varejistas e manteve o crescimento econômico nos últimos dez anos em menos de metade do ritmo de colegas regionais como o Chile, o Peru e a Argentina.

Ainda que as exportações mexicanas tenham aumentado em média 7,1 por cento por ano desde 2001 graças à competitividade do seu setor local, as vendas varejistas domésticas cresceram 2 por cento até o final do ano passado. A cifra se compara com 5 por cento no Chile, 5,1 por cento no Brasil e 5,6 por cento na Colômbia.

Mão de obra barata

No México, a média de salários cresceu 0,6 por cento por ano depois da inflação na década terminada em 2012, mostram dados da Organização Internacional do Trabalho. Os salários subiram o dobro de rápido no Brasil e na Colômbia, três vezes mais rápido no Chile e cinco vezes mais rápido no Peru.

Em parte por causa da demanda doméstica fraca, segundo o analista do Citigroup Inc. Sergio Luna, a economia do México cresceu 2,6 por cento por ano nos últimos dez anos, comparado com 3,8 por cento no Brasil, 4,7 por cento no Chile e 6,4 por cento no Peru.

A mão de obra barata ajudou a atrair US$ 16,1 bilhões em investimentos anunciados por fabricantes de veículos desde o começo de 2010, segundo o Center for Automotive Research em Ann Arbor, Michigan.

Medidas

No comércio internacional, o México superará o Japão neste ano como maior fornecedor de carros para o mercado americano depois do Canadá, segundo um relatório da Associação do Setor Automotivo do México que cita dados da Ward's Automotive. As exportações totais de carros, caminhões ligeiros e autopeças chegaram a US$ 54,5 bilhões durante os primeiros oito meses do ano, comparado com US$ 30,2 bilhões em produtos de petróleo, disse a associação do setor com sede na Cidade do México.

As coisas poderiam estar prestes a melhorar para os trabalhadores do setor automotivo, disse Guido Vildozo, analista da IHS Automotive para o setor automotivo. A avalanche de investimentos poderia fazer com que a demanda por mão de obra qualificada aumentasse tão rapidamente que acabaria com os salários baixos no setor, disse ele.

O governo também está começando a tomar medidas. A Comissão do Salário Mínimo Nacional do México formou um comitê para estudar formas de reforçar o salário mínimo, que despencou 70 por cento nas últimas quatro décadas em termos reais e atualmente é de 67,29 pesos mexicanos (US$ 4,93) por dia na Cidade do México, segundo o Bank of America. O comitê apresentará recomendações até o final de abril.

"Ganhar pela mão de obra não funciona", disse Barry Lawrence, diretor do Global Supply Chain Laboratory na Texas A&M University, quem fez um estudo em 2011 onde comparou a competitividade do país com a da China. "Não é sustentável nem é justo com seu povo".