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Perus não vão poder fugir dessa revolução alimentar em Viena

Jonathan Tirone

26/11/2014 17h16

26 de novembro (Bloomberg) -- Christoph Wiesner é um revolucionário pronto para derramar sangue em prol de sua campanha para mudar a maneira de os moradores da cidade conseguirem comida.

Wiesner, 52, viajou a Berlim, Londres Houston e Seattle para ensinar as pessoas a abater e cortar os porcos e aves que elas comem. Ele tem recebido centenas de clientes em sua residência, nos limites de Viena, onde os presuntos jazem pendurados no teto.

"Cada cultura constrói a si mesma em relação à nutrição", disse Wiesner, andando com suas botas enlameadas pelos bosques de carvalho onde duas dezenas de suínos Mangalitsa, os descendentes peludos do javali, buscam nozes e frutas na terra. "O fast food barato da Europa e dos EUA destruiu o conhecimento por trás da produção".

A fazenda de dois hectares de Wiesner, entre as dezenas de Viena, mostra como as cidades podem reiniciar o antigo conhecimento agrícola e de criação de animais. De canteiros em terraços em Nova York a jardins de escolas em Caracas, a agricultura está se tornando uma ferramenta para urbanistas com os olhos voltados para a criação de mercados e empregos e para a regulação dos recursos aquíferos. A informação ressalta a urgência: embora as cidades respondam por menos de 4 por cento da superfície do globo, a Organização das Nações Unidas estima que 75 por cento do mundo morará em áreas urbanas até 2050.

Embora a população de 1,8 milhão de pessoas de Viena, a melhor cidade do mundo para morar segundo o ranking da Mercer Consulting, tenha crescido, a mesma coisa aconteceu com a terra cultivável. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, Viena somou mais 530 hectares de campos e florestas, um espaço mais de duas vezes maior que seu centro histórico, segundo estatísticas municipais.

Prefeito biólogo

Após ser eleito em 1994, o prefeito Michael Haeupl expandiu as iniciativas de agricultura urbana que criaram raízes nos anos 1980. Biólogo que trabalhou para o Museu de História Natural antes de migrar para a política, ele adicionou extensões zoneadas de terra para agricultura orgânica e as alugou para pequenas empresas, transformando a cidade em uma das maiores produtoras de vegetais da Áustria.

Enquanto Wolfgang Amadeus Mozart continua sendo uma atração, a música de fundo que muitos ouvem é gerada por tratores que operam às margens do rio Danúbio, semeadas com trigo e centeio. A arquitetura barroca e os palácios imperiais não são circundados por fossos, mas por vinhedos que rendem 3,2 milhões de garrafas de vinho ao ano.

Ulli Sima, vereadora que comanda o setor de proteção ambiental, supervisiona mais de 20.000 hectares de campos e florestas -- quantidade equivalente a cerca de 60 vezes o Central Park, de Nova York.

"As pessoas pensavam que estávamos loucos quando começamos a reivindicar terra para agricultura", disse ela. "Desde então a agricultura se tornou parte importante da personalidade da cidade".

Fazendas urbanas

A ONU ajudou agricultores congoleses em Kinshasa, com uma população de 9,7 milhões de pessoas, a expandirem em 60 por cento as terras sob sua gestão, para 1.600 hectares, desde 2000. Projetos similares em Caracas formaram mais de 50 hectares de jardins desde 2012. Mais de 4.000 pessoas em Dakar, Senegal, agora cultivam 30 quilos de vegetais ao ano para cada metro quadrado sob cultivo.

"A agricultura é uma ferramenta poderosa para as cidades, não apenas para melhorar a qualidade dos alimentos, mas para aumentar a coerência da comunidade", disse William Powers, autor de "The New Slow City: Living Simply in the World's Fastest City", um livro sobre seu experimento de cinco anos em Greenwich Village, Nova York, onde ele reduziu sua semana de trabalho para 20 horas para realizar mais jardinagem em terraços. "Isso transforma totalmente a forma em que as cidades são projetadas".

Wiesner, esfregando a perna onde um javali de presas afiadas perfurou sua pele no ano passado, pontua que a vida no lado sangrento da criação urbana de animais não é para quem tem coração fraco.

Daqui até o Natal, Wiesner anunciou a uma lista privada de clientes que "abaterá sem parar" os perus, gansos e galos gauleses que passeiam pela sua fazenda.

Título em inglês: Turkeys Can't Outrun This Food Revolutionary in Vienna: Cities

Para entrar em contato com o repórter: Jonathan Tirone, em Viena, jtirone@bloomberg.net.