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Sony pode se salvar se seguir os passos da Samsung: William Pesek

28/11/2014 18h15

Bloomberg View 28 de novembro (Bloomberg View) ? Rivais implacáveis, a Samsung e a Sony também podem estar enfrentando os mesmos problemas: empresas sobrecarregadas, falta de produtos revolucionários, estruturas corporativas hierárquicas e motivo de orgulho para o imaginário nacional. Mas a sul-coreana Samsung está mostrando que grandes nomes herdados também podem ser ágeis. A Sony deveria prestar atenção.

A sede da Samsung reagiu com rapidez à queda de 49 por cento da renda líquida no último trimestre. Admitindo que o tombo em sua empresa de smartphones, que antes florescia, provavelmente não seja temporário, a companhia transferiu há pouco cerca de 500 funcionários do setor de telefonia móvel para as iniciativas relativas à internet, que são mais prometedoras. Nesta semana, a Samsung decidiu agilizar as operações desfazendo-se de posses em pelo menos oito empresas. Ela vendeu participações em negócios de produtos químicos, de defesa e também na tão importante divisão de eletrônicos e comprou de volta US$ 2 bilhões de suas próprias ações. A companhia tem redirecionado recursos para baterias, biofármacos, a próxima geração de chips de memória, telas OLED e equipamentos médicos. No início deste mês, a Samsung anunciou uma aliança com a empresa americana de biotecnologia Thermo Fisher Scientific.

E a Sony? Bem, parece que a companhia está olhando para os próprios pés à espera de que a desvalorização do iene reforce os lucros. Quando, no dia 18 de novembro, o CEO Kazuo Hirai admitiu para os investidores que a empresa tem sido lenta para se adaptar às mudanças, sua própria apresentação reforçou isso: em uma época em que a pirataria é cada vez maior, em que sobram aplicativos para o download de filmes e videogames e em que as preferências dos consumidores estão mudando, Hirai disse que a companhia vai concentrar os esforços na divisão de entretenimento. Observe que foi essa a unidade que Daniel Loeb, estrela de hedge fund de Nova York, chamou de "furada" antes de abandonar a Sony neste ano.

As iniciativas da Samsung dificilmente resolveram todos os seus problemas, é claro. Embora o impressionante sucesso dos smartphones Galaxy e dos tablets tenha agitado a vida na sede da Apple Inc. por um tempo, esses produtos agora já não causam o mesmo rebuliço. Os aparelhos da Samsung estão sendo encurralados, por um lado pelas fabricantes chinesas de produtos mais baratos, como a Xiaomi, e por outro, por uma revigorada Apple (que agora vale quase quatro vezes mais do que a Samsung). Nesse contexto, não basta ser excelente na fabricação de alta gama; a empresa precisa inovar. Desse modo, a Samsung resume o dilema que o setor corporativo da Coreia está enfrentando: o peso dos poderosos grupos "chaebol" precisa diminuir com o tempo e é preciso nutrir as startups.

É possível argumentar que, por enquanto, a estrutura de propriedade familiar da Samsung é um ativo. Como Lee Kun Hee, que há muito é o presidente do conselho, está afastado porque sofreu um ataque cardíaco em maio, seu filho Lee Jae Yong, 46, tem liberdade para ditar mudanças estratégicas com rapidez. Mesmo assim, a propriedade pública da Sony não é desculpa para a liderança pachorrenta que Hirai tem mostrado na comparação. A maioria dos instintos competitivos da Sony, infelizmente, parecem estar voltados para dentro, em uma disputa entre suas próprias unidades de negócios. Como CEO, Hirai precisa ter disposição para acabar com esses feudos.

Esses desafios vão soar familiares para quem estuda a economia do Japão. Um dos principais motivos que fez com que o impulso de reestruturação proposto pelo primeiro-ministro Shinz? Abe estagnasse foi a complacência entre diversos níveis de burocratas e outros grupos de interessados, que acreditam que o modelo que ergueu o Japão do pós-guerra após a devastação ainda pode funcionar.

Esse, em poucas palavras, também é o ponto de vista da Sony. Treze anos depois do iPod, da Apple, a criadora do Walkman, que mudou o mundo, ainda não tem uma resposta global. Sete anos depois de o iPhone ter criado um ecossistema de negócios completamente novo, a equipe de Hirai ainda está analisando melhorias adicionais para os produtos existentes e apostando suas fichas em Hollywood e em que os jogadores comprarão o próximo e caríssimo console PlayStation.

O segredo do crescimento sustentável, como o analista da Jefferies Group, Atul Goyal, disse à Bloomberg News recentemente, é reagir com rapidez e inteligência aos novos desafios: algo que a Samsung pelo menos parece estar tentando fazer. "Quando eles percebem que as coisas estão dando certo, nem que seja um pouquinho, eles aceleram muito mais, transferem pessoas e recursos para isso e colocam pressão com muito vigor", disse Goyal. Isso não significa que todas as iniciativas da empresa vão dar certo. Mas as possibilidades deles parecem ser melhores do que as da Sony.

Título em inglês: Sony's Salvation May Be Following Samsung's Lead: William Pesek

Para entrar em contato com os autores: William Pesek, wpesek@bloomberg.net Nisid Hajari, nhajari@bloomberg.net