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Análise: 70 mm de chuva podem ser a diferença entre crescimento e recessão em 2015

Vanessa Dezem

02/12/2014 11h18Atualizada em 02/12/2014 14h39

2 de dezembro (Bloomberg) -- A provável diferença entre crescimento econômico e recessão em 2015 no Brasil está na quantidade de chuva que o país receberá nos próximos meses.

O banco BNP Paribas diz que um racionamento de energia em 2015, caso uma seca paralise a produção hidrelétrica, cortaria até 2 pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB). Com os economistas projetando crescimento de 0,77% em uma pesquisa do Banco Central, isso seria suficiente para empurrar o Brasil para uma recessão.

"O maior risco para o crescimento econômico do Brasil no ano que vem é o risco de racionamento", disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora em São Paulo. "Todos os indicadores econômicos que compõem o PIB estão relacionados à energia elétrica".

A pior seca em oito décadas indica que o Brasil precisa de chuvas na média ou acima da média durante a temporada de chuvas, que termina em março, para evitar o primeiro racionamento desde 2001, segundo João Carlos de Oliveira Mello, diretor-executivo da consultoria Thymos Energia.

Sem chuva, o Brasil começaria a temporada seca com 50% de chance de ter que promover o racionamento, disse ele.

"Se tivermos 100% da chuva média durante a temporada chuvosa, está OK", disse Mello, em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. "Qualquer coisa menor que 90%, deixa a situação complicada". $escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-lista','/2014/crise-hidrica-1413904415562.vm')

76,2 milímetros

O Sudeste e o Centro-Oeste, onde estão localizadas as principais usinas hidrelétricas do Brasil, recebem uma média histórica de cerca de 762 milímetros entre dezembro e março, segundo dados compilados pela empresa de meteorologia Climatempo. Se chover 90% da média, uma diferença de apenas 76,2 milímetros de chuvas, a situação se complicará, de acordo com informações obtidas pela Bloomberg News. 

A Alcoa  já paralisou sua fundição em Poços de Caldas, no Estado de Minas Gerais, por causa do aumento nos custos da energia e reduziu a produção em outra fundição que mantém em copropriedade com a BHP Billiton. A Alcoa não respondeu a um telefonema e a um e-mail em busca de comentários.

A Cia. Energética de Minas Gerais, conhecida como Cemig, desativou cinco das seis turbinas de energia em sua usina hidrelétrica de Três Marias depois que o nível da água caiu para uma mínima recorde, contribuindo para uma queda de 60% no lucro líquido no terceiro trimestre em relação a um ano antes.

"Não acredito que paremos completamente a Três Marias porque esperamos que caia mais chuva", disse Marcelo de Deus Melo, gerente de planejamento energético da Cemig, em entrevista por telefone, de Minas Gerais. "O fato é que estamos gerando menos energia do que vendemos nos contratos, o que está nos expondo a preços altos no mercado à vista".

Empresas de serviços caem

O valor de mercado das maiores empresas de serviços públicos do Brasil, desde a Cemig até a CPFL Energia, caiu 30%, para US$ 38,9 bilhões, desde o início de setembro. Neste ano, as empresas vêm sendo forçadas a comprar energia no mercado à vista a preços recordes e a revendê-la com prejuízo a preços fixados pelo governo para cumprir contratos de fornecimento. O porta-voz da CPFL não estava disponível para comentar o assunto.

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A produção em empresas, desde petroquímicas como a Braskem até siderúrgicas, receberá um golpe se o Brasil for forçado a racionar energia pela primeira vez desde 2001.

"Nós temos contratos de longo prazo, mas se todo o sistema falhar não há forma de nos protegermos contratualmente", disse o diretor-executivo da Braskem, Carlos Fadigas, em entrevista, no escritório da Bloomberg em São Paulo. "Nós já geramos 20% da energia que consumimos".

Previsões climáticas

A empresa de prognósticos climáticos Somar Meteorologia prevê chuvas abaixo ou dentro dos níveis históricos entre dezembro e fevereiro no Sudeste e no Centro Oeste. Ao mesmo tempo, as temperaturas deverão estar acima da média durante o verão no hemisfério Sul, o que aumentará o consumo de energia, porque os brasileiros ligarão seus aparelhos de ar-condicionado, disse Márcio Custódio, meteorologista da Somar.

"Não teremos uma estação seca como tivemos no verão passado, mas as chuvas não serão suficientes para compensar dois anos seguidos de seca", disse ele, por telefone, de São Paulo.

Os atuais prognósticos indicam que os reservatórios brasileiros para energia elétrica terminarão a estação de chuvas neste ano com apenas um terço do necessário para garantir o fornecimento de energia em 2015, disse Carlos Feu, coproprietário da consultoria de energia Ecen, em entrevista por telefone, de São Paulo.

"Se não tivermos muita chuva de dezembro em diante, quando é necessário aumentar os níveis dos reservatórios, o Brasil poderá já ter escassez de energia em algumas áreas durante o pico do consumo de eletricidade no verão", disse ele.