IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Cubano-americanos de Miami se preparam para negócios com relaxamento do embargo

Toluse Olorunnipa

18/12/2014 13h03

18 de dezembro (Bloomberg) -- Os telefones começaram a tocar na sede de Miami do escritório de advocacia GrayRobinson na quarta-feira antes mesmo de o presidente Barack Obama terminar seu discurso delineando as medidas para estabelecer laços diplomáticos e flexibilizar as barreiras econômicas impostas a Cuba.

"Por aqui, a comunidade empresarial está faminta por explorar oportunidades em Cuba", disse Milton Vescovacci, sócio da empresa em Miami e chefe de sua unidade de negócios em Cuba. "Você pode sentir na minha voz o tipo de energia que eu carrego sobre o assunto. É a mesma energia que estamos vendo nos clientes".

Incorporadoras imobiliárias, produtores de açúcar, fabricantes de aparelhos médicos e empresas de telecomunicações veem oportunidades em relações mais amistosas entre EUA e Cuba, que são separados por apenas 145 quilômetros.

Na Flórida, lar de dois terços dos 2 milhões de cubano-americanos do país, as medidas de Obama podem ter impacto econômico mais forte, disse Vescovacci. Alguns líderes empresariais da comunidade exilada em Miami, berço da oposição mais feroz ao governo comunista de Cuba, vê na ilha uma abertura para expansão de suas operações.

"O embargo nunca funcionou", disse Pedro Greer, médico de 58 anos de Miami, que fugiu de Cuba com seus pais em 1960. "Passaram-se 55 anos e o que aconteceu? O regime se tornou mais forte e o embargo nunca mudou nada".

Greer, que viajou a Havana dois anos atrás em uma visita pessoal, disse que reduzir as restrições para viagens entre EUA e Cuba ampliará o turismo em ambos os países.

Troca de prisioneiros

Com a troca de prisioneiros, Obama delineou as medidas que ele planejava tomar, que incluiam a redução das restrições de viagem, a permissão de um comércio maior, a autorização do uso de cartões de crédito americanos em Cuba e a abertura de uma embaixada em Havana.

Alguns exilados cubanos e parlamentares republicanos criticaram as medidas de Obama, dizendo que elas apenas encorajariam o presidente cubano, Raul Castro, a continuar com abusos dos direitos humanos.

"Eu fiquei muito decepcionado e frustrado quando ouvi as notícias", disse Gus Machado, um cubano-americano de 80 anos que veio para os EUA em 1949 e possui duas concessionárias de carros no sul da Flórida. "Agora eles decidiram ser amigos e esquecer o passado, mas não foi por isso que milhares de pessoas morreram após trabalharem durante toda a vida por uma democracia em Cuba".

O senador republicano pela Flórida, Marco Rubio, filho de exilados cubanos, prometeu bloquear as ações de Obama.

"Teremos alguns anos muito interessantes de discussão sobre como nomear um embaixador e como fundar uma embaixada", disse Rubio, que deverá se tornar presidente de um painel que supervisionará as relações externas dos EUA no Hemisfério Ocidental.

O vice-governador da Flórida, o republicano Carlos López-Cantera, disse que as medidas de Obama legitimam a "ditadura brutal" do regime de Castro e "dificultam a vida dos cubanos que lutam pela democracia".

Negócios em Havana

Sem o apoio do Congresso, as medidas de Obama terão impacto limitado, disse Joe Arriola, empresário de Miami que participa do conselho da Perry Ellis International Inc.

"Isso não permitirá que eu abra um negócio em Havana amanhã ou abra um banco em seis meses", disse ele. "Enquanto o Congresso dos Estados Unidos não retirar o embargo, podem ocorrer muito poucos negócios ativos".

Os líderes empresariais do sul da Flórida estão se posicionando a favor do fim do embargo, disse Vescovacci. No mês passado, seu escritório de advocacia realizou um seminário em Orlando para líderes empresariais interessados em Cuba. E está planejando outro em 2015.

"Talvez no ano que vem façamos um em Havana", disse ele.

Título em inglês: Cuban-Americans in Miami Gear Up for Business as Embargo Thaws

Para entrar em contato com o repórter: Toluse Olorunnipa, em Tallahassee, Flórida, EUA, tolorunnipa@bloomberg.net.