IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Depressão de commodities liderada pelo petróleo provoca fuga mais acelerada de investidores desde 2008

Luzi Ann Javier

18/12/2014 14h40

18 de dezembro (Bloomberg) - Os investidores estão abandonando as commodities ao ritmo mais acelerado em seis anos, apostando que a queda dos preços ainda não acabou. O milho, o petróleo e o ouro estão recuando e chegando perto do custo de produção.

O número de contratos em aberto para futuros e opções de matérias-primas caiu 5,9 por cento desde junho e caminha para a maior depressão em um segundo semestre desde 2008, mostram dados de bolsas. Os produtos negociados em bolsas dos EUA que acompanham metais, energia e agricultura sofreram saques líquidos de US$ 563,9 milhões em 2014, o que constitui a primeira depressão bianual desde que os fundos foram criados há uma década.

As commodities estão sendo pressionadas em muitas frentes. O colapso dos preços do petróleo está impulsionando uma percepção baixista porque a energia é utilizada para produzir ou transportar quase tudo, segundo o Société Générale SA. A inflação baixa e as taxas de juros mais altas geram uma "situação ruim" para o ouro, diz o Bank of America Corp. Além disso, a desvalorização das moedas em países que produzem todo tipo de commodities, da soja ao minério de ferro, implica que a oferta continue crescendo, prevê o Goldman Sachs Group Inc.

"Agora não é hora de estar overweight sobre commodities", disse Sameer Samana, estrategista internacional sênior da Wells Fargo Advisors LLC em St. Louis, que administra US$ 1,4 trilhão, em entrevista por telefone ontem. "Por agora, a perspectiva continua sendo negativa. Não nos surpreenderia se os preços caíssem ainda mais. Nós não tomaríamos nenhuma posição tática".

Liderança nas perdas

O Bloomberg Commodity Index com 22 produtos recuou 13 por cento neste ano e caminha para a quarta queda anual consecutiva. Este será o período negativo mais prolongado desde a criação do indicador, em 1991. O petróleo bruto Brent despencou 43 por cento, a maior perda entre as matérias-primas, após ser comercializado por menos de US$ 60 por barril nesta semana pela primeira vez em cinco anos.

O petróleo bruto, a gasolina e o óleo para aquecimento lideraram os declínios neste ano porque o aumento de perfurações nos EUA desencadeou um rápido crescimento da produção e provocou uma guerra de preços com os produtores da OPEP. Cerca de 65 por cento dos US$ 20 bilhões retirados de investimentos em commodities passivas neste ano foram impulsionados pelas perdas no setor de energia, disse Aakash Doshi, vice-presidente do Citigroup Inc., em um relatório do dia 15 de dezembro.

O petróleo mais barato está diminuindo o custo de produzir alimentos e metais, o que incrementa a probabilidade de que os preços das commodities caiam, segundo analistas do Société Générale. Nos postos americanos, a gasolina caiu 32 por cento no varejo desde o fim de junho, para uma média de 66 centavos de dólar por litro, o mínimo em cinco anos, conforme dados da AAA. Os custos mundiais dos alimentos acompanhados pelas Nações Unidas são os menores desde 2010.

Prolongamento das perdas

Nesta semana, o Bloomberg Commodity Index atingiu seu menor patamar em cinco anos e recuou 3,6 por cento em dezembro. É a sexta queda mensal consecutiva e a depressão mais prolongada desde 2009. Os contratos em aberto para 24 matérias-primas caíram 4 por cento neste ano para 12,18 milhões de contratos, rompendo dois anos consecutivos de ganhos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Na China, a maior consumidora de grãos, energia e carne suína, a expansão econômica no ano que vem será a mais lenta desde 1990, conforme previsões compiladas pela Bloomberg.

Um "declínio abrupto da agricultura" é a perspectiva mais sólida do Goldman para o ano que vem, disse Jeffrey Currie, diretor de pesquisa sobre commodities do banco, em entrevista por telefone no dia 9 de dezembro. O Departamento de Agricultura dos EUA estima que a crescente produção mundial vai levar os estoques de soja a um máximo histórico, e os preços caminham para o primeiro recuo bianual desde 1999.

"A desvalorização cambial é o verdadeiro problema aqui, quer se trate do minério de ferro, da soja ou praticamente da maioria das commodities, excetuando-se a energia", disse Currie, que previu corretamente o mercado baixista do ouro. "Como continuamos observando uma desvalorização das moedas de países emergentes, estes têm um incentivo para produzir mais".

Título em inglês: 'Oil-Led Slump Spurs Fastest Investor Exit Since '08: Commodities'

Para entrar em contato com o repórter: Luzi Ann Javier, em Nova York, ljavier@bloomberg.net