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Crise da Rússia leva Banco Nacional da Suíça a esgotar arsenal para combater estímulos do BCE

Zoe Schneeweiss e Jana Randow

19/12/2014 13h09

19 de dezembro (Bloomberg) - O uso de taxas negativas de juros pelo Banco Nacional da Suíça (SNB) vai diminuir as forças do presidente Thomas Jordan quando o Banco Central Europeu aumentar os estímulos.

Funcionários do Banco Central suíço agora estão se preparando para um mês de especulação cambial. A crise da Rússia está se aquecendo lentamente e uma potencial decisão do BCE sobre a flexibilização quantitativa em 22 de janeiro ameaça pressionar mais o franco suíço. Embora o SNB possa endurecer sua reação, qualquer outra medida provavelmente careça do fator-surpresa que teve ontem a imposição de uma taxa sobre depósitos.

"O arsenal do SNB foi reduzido significativamente", disse Julien Manceaux, economista do ING Bank NV em Bruxelas. "O banco não pode reduzir muito as taxas, porque isso causaria desequilíbrios no mercado doméstico, e é provável que um aumento significativo no balanço seja difícil politicamente".

O SNB, que criou um teto para o franco em 2011, reforçou abruptamente as políticas de defesa com uma ferramenta não empregada na Suíça desde a década de 1970 depois que a crise da Rússia chegou a suas fronteiras com um dilúvio de investimentos. Além da taxa de depósito de 0,25 por cento, os funcionários deram fim ao hiato de dois anos sem compras de moedas para proteger o limite de 1,20 franco por euro.

O franco despencou 0,7 por cento frente ao euro após o anúncio do SNB em Zurique ontem, porém a moeda reverteu mais de metade da queda em questão de horas. Jordan, ao renovar a promessa de defender a taxa mínima de câmbio com "extrema determinação", insistiu que os mercados simplesmente precisam de tempo para entender o que aconteceu.

Compreender bem

"Não acho que o banco nacional tenha utilizado suas munições cedo demais", disse ele à imprensa em Zurique. "Muitos participantes do mercado ainda não compreendem totalmente as medidas - quão fortes e drásticas elas serão, e a dimensão do peso que elas colocarão sobre os detentores de grandes contas".

Além de comprar mais moeda para defender o franco, os funcionários suíços podem alterar a taxa de depósito aumentando-a ou garantindo seu cumprimento mais estritamente.

"É difícil ver que outra coisa eles poderiam fazer, além de continuar empregando ambos os instrumentos", disse Manceaux, do ING Bank.

Como as taxas negativas só entrarão em vigência no dia 22 de janeiro, os bancos não precisam reagir ao mesmo tempo. Mesmo assim, a promessa de Jordan de tomar medidas adicionais caso seja necessário poderia ser posta à prova no mesmo dia em que a taxa de depósito começar a ser aplicada, já que a data coincide com a primeira reunião do BCE sobre taxas em 2015.

Tormenta do euro

Nesse dia, é provável que os responsáveis pela política econômica da zona do euro considerem um programa de aquisições de bonds de governos em grande escala para cumprir o projeto de aumentar o balanço do BCE em 1 trilhão de euros (US$ 1,2 trilhão). Tal avalanche de estímulos, que enfraqueceria a moeda única, poderia suscitar a perspectiva de uma pressão renovada sobre o franco suíço.

"O SNB está à mercê do BCE e está se preparando para uma tormenta do euro com todas as medidas", disse Janwillem Acket, economista-chefe do Julius Bär Group Ltd. em Zurique. "O fato de o SNB ter escolhido 22 de janeiro me diz que eles teriam preferido esperar, mas foram pressionados por causa da Rússia. Eles combinaram ambos os assuntos de forma bastante elegante".

A data também cai no meio do Fórum Econômico Mundial em Davos, quando todos os olhos já estarão voltados para a Suíça.

"O SNB disse várias vezes que estava pronto para agir imediatamente se fosse preciso", disse Maxime Botteron, economista do Credit Suisse Group AG. "Ao estabelecer taxas negativas, os responsáveis pela política econômica simplesmente estão cumprindo o que prometeram".

Título em inglês: 'Russia Forcing Swiss Hand Depletes Arsenal to Fight ECB Stimulus'

Para entrar em contato com os repórteres: Zoe Schneeweiss, em Zurique, zschneeweiss@bloomberg.net; Jana Randow, em Frankfurt, jrandow@bloomberg.net