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Analistas observam fim de era da abundância no Golfo Pérsico pela queda do preço do petróleo

Glen Carey e Nafeesa Syeed

22/12/2014 19h50

22 de dezembro (Bloomberg) - O boom que adornou as monarquias árabes do Golfo Pérsico com torres resplandecentes, abarrotou seus fundos soberanos e manteve longe a maioria das agitações talvez tenha acabado quando os preços do petróleo despencaram quase 50 por cento nos últimos seis meses.

Os territórios dos xeiques utilizaram a riqueza gerada pelo petróleo para refazer a região. Entre os pontos de referência há ilhas artificiais sobre terras recuperadas, bem como centros financeiros, aeroportos e portos que transformaram o deserto da Arábia em um centro bancário e de viagens. O dinheiro também foi empregado para evitar as agitações sociais que se espalharam pelo Oriente Médio durante a Primavera Árabe.

"A região teve dez anos de abundância", disse Simon Williams, economista-chefe da HSBC Holdings Plc para o centro e o leste da Europa, o Oriente Médio e o norte da África. "Mas essa década de abundância acabou. A queda dos preços do petróleo afetará o desempenho no curto prazo, mesmo se as contenções do Golfo forem suficientemente poderosas para garantir que não haverá uma crise".

O petróleo bruto Brent, cuja média desde o fim de 2009 foi de US$ 102 por barril, despencou para cerca de US$ 60 por volta do fim da semana passada. A depressão acelerou depois que a Organização de Países Exportadores de Petróleo, cujo maior produtor é a Arábia Saudita, decidiu em novembro não alterar a produção. A US$ 65 por barril, os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), que contêm cerca de um terço das reservas mundiais de petróleo bruto, incorreriam em um déficit orçamentário combinado de cerca de 6 por cento do PIB, segundo o Arqaam Capital, um banco de investimentos com sede em Dubai.

Previsão de crescimento

O petróleo mais barato "obrigará a reavaliar o ambicioso programa de investimentos em infraestrutura" da região, disse o Banco Nacional do Qatar (QNB) em um relatório. Uma exceção provavelmente seja o Catar, que está gastando em infraestrutura para sediar a final da Copa do Mundo de 2022, disse o QNB. A queda dos preços do petróleo já levou economistas a reduzir as estimativas de crescimento para o ano que vem da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Kuwait, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A farra de gastos do GCC não resolveu problemas como o alto desemprego juvenil, especialmente na Arábia Saudita, onde a taxa se aproximava de 30 por cento em 2012, segundo o FMI. Apesar do crescimento no total de empregos, cuja taxa média é de 8,5 por cento, o crescimento do emprego para os sauditas foi de 4,6 por cento de 2010 a 2012, disse o FMI em julho do ano passado.

As monarquias do Golfo Pérsico mantêm subsídios altos para gasolina e energia, que são utilizados para transferir riqueza do petróleo para seus cidadãos. Reduzi-los é um assunto politicamente delicado depois que o descontentamento interno provocou a derrubada de governos na Tunísia, na Líbia e no Egito a partir de 2011.

Os líderes do Golfo dizem saber que tempos mais duros virão. O ministro de Finanças da Arábia Saudita, Ibrahim al-Assaf, disse neste mês que o reino utilizará suas reservas financeiras como "linha de defesa" contra os preços mais baixos do petróleo e continuará financiando projetos "enormes" de desenvolvimento.

Os economistas começaram a diminuir as estimativas de crescimento. Embora a última pesquisa da Bloomberg, feita entre 12 e 17 de dezembro, ainda projete que a economia saudita crescerá 3,6 por cento no ano que vem, esse número é menor do que a previsão de 4,2 por cento de três meses antes. Para os EAU, o valor caiu de 4,5 por cento para 4 por cento e no caso do Kuwait, de 2,8 por cento para 2,4 por cento.

"No entanto, as verdadeiras questões são de longo prazo, sobre como o Golfo pode gerar crescimento sem poder utilizar níveis constantemente crescentes de gasto público", disse Williams do HSBC.

Título em inglês: 'Age of Plenty Seen Over for Gulf Arabs as Oil Drop Hurts Budgets'

Para entrar em contato com os repórteres: Glen Carey, em Riad, gcarey8@bloomberg.net; Nafeesa Syeed, em Dubai, nsyeed@bloomberg.net