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Ruína política de Samaras veio logo após elogio de Merkel

Jonathan Stearns

26/01/2015 12h01

(Bloomberg) -- Há um ano, Antonis Samaras estava no auge: a economia deixava para trás seis anos de recessão, os custos dos empréstimos caíam e a Grécia tinha acabado de assumir a presidência rotativa da União Europeia.

Agora, o primeiro-ministro de 63 anos deixará o cargo com o futuro da Grécia na área do euro tão incerto quanto quando ele chegou ao poder, em junho de 2012. Seu partido, Nova Democracia, perdeu a eleição de domingo para o Syriza, que tirou proveito da insatisfação pública com os cortes salariais e aumentos de impostos feitos por Samaras para restaurar a confiança na instável situação financeira da Grécia e no seu compromisso com a moeda.

"Samaras é insistente e mostrou coragem política, mas não é um estadista", disse Thanos Veremis, professor emérito de história política da Universidade de Atenas. "Ele encheu o governo de pessoas não entusiasmantes. Ele perdeu as chances que tinha".

A mudança da situação em questão de meses reflete as forças externas e internas que limitaram seu espaço para manobra. Erros de cálculo políticos, combinados com a realidade econômica, selaram o destino de Samaras, que é um tomador de risco.

Samaras estava em alta até o fim de maio. Quando assumiu a presidência da UE, ele disse a dezenas de correspondentes que visitaram Atenas que a coalizão de seu governo com o partido socialista Pasok era "estável". Ele também disse que as decisões mais difíceis sobre o orçamento, necessárias para que a Grécia mantivesse a ajuda possibilitada pelo acordo de resgate internacional do país, já haviam sido tomadas.

Elogio de Merkel

A confiança em seu governo cresceu em abril, quando a Grécia vendeu bonds pela primeira vez em quatro anos e a Comissão Europeia confirmou o superávit orçamentário do país antes do pagamento de juros de 2013, um ano antes do programado.

A venda de dívidas levou a chanceler alemã, Angela Merkel, em visita a Atenas, a saudar o "passo em direção à normalidade" da Grécia. O superávit qualificou a Grécia a acionar um compromisso da zona do euro, de 2012, de considerar "mais medidas e assistência" para diminuir a montanha de dívidas do país.

Depois disso as coisas começaram a azedar. No dia 25 de maio, o Syriza ganhou as eleições para o Parlamento Europeu, levando Samaras a mudar os ministérios, nomeando diversas figuras obscuras do Nova Democracia, que deram uma inclinação mais populista ao governo.

Essa decisão levantou dúvidas na Grécia sobre sua disposição para atacar as causas básicas da fraqueza econômica do país e do desemprego, ainda acima de 25 por cento.

Saída apressada

Samaras prometeu renunciar à ajuda programada em 2015 e em 2016 e depois não conseguiu apoio dos parceiros europeus e do Fundo Monetário Internacional para um último desembolso de fundos no ano passado, o que o levou a negociar uma prorrogação de dois meses, até o fim de fevereiro.

Quando ele conseguiu mais tempo para obter o pagamento de uma última ajuda, ele decidiu antecipar em dois meses o processo marcado para fevereiro para o Parlamento grego escolher um novo presidente para o país.

Após nomear Stavros Dimas, um veterano do Nova Democracia e ex-comissário do Meio Ambiente da UE, como candidato a chefe de Estado grego, Samaras não conseguiu reunir a maioria absoluta necessária no Parlamento para colocar Dimas no cargo. Como resultado desse impasse, ele foi forçado por lei a convocar as eleições gerais para 25 de janeiro, que o Nova Democracia perdeu.

"Eu estou entregando um país que faz parte da UE e da zona do euro", disse Samaras, após reconhecer a derrota para o Syriza de Alexis Tsipras. "Para o bem desta terra, eu espero que o próximo governo respeite essas conquistas".

Título em inglês: Samaras's Political Undoing Followed Fast on Praise From Merkel

Para entrar em contato com o repórter: Jonathan Stearns, em Atenas, jstearns2@bloomberg.net.