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Lista de contas secretas do HSBC tem de David Bowie a traficantes de drogas

David Kocieniewski

09/02/2015 10h50

(Bloomberg) -- A unidade de private-banking do HSBC Holdings obteve lucros significativos durante anos gerenciando contas secretas de uma série de criminosos, de cartéis de drogas e negociantes de armas a sonegadores de impostos e comerciantes de diamantes fugitivos, segundo um relatório divulgado no domingo (8) por uma organização internacional de notícias.

O HSBC faz parte de um punhado de bancos que enfrentaram processos criminais nos últimos anos por seu papel no sistema bancário suíço que permitiu que os depositantes escondessem suas identidades e, em muitos casos, driblassem impostos ou lavassem dinheiro de origem ilícita.

O relatório, preparado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, revelou pela primeira vez a investigação massiva do braço de private-banking do HSBC a partir de 2007, quando controlava US$ 100 bilhões em ativos e servia como atalho de depositantes ricos da elite para o ilícito.

O relatório é baseado em uma lista de clientes do HSBC desse período que um ex-funcionário tirou do banco e levou a autoridades europeias, provocando investigações tributárias da Argentina à França, da Bélgica à Grécia.

Embora alguns dos nomes da lista tenham surgido antes, o relatório de domingo partiu de uma lista mais abrangente de contas associadas a mais de 100 mil pessoas e entidades legais de mais de 200 países.

Entre os depositantes estão famílias reais e traficantes de cocaína condenados, embaixadores e suspeitos de terrorismo, artistas e políticos eleitos, executivos de empresas e atletas.

Para esses e outros clientes, o banco promovia ativamente suas contas como uma forma eficiente de esconder ativos dos cobradores de impostos, segundo o relatório.

'Transformação radical'

Em resposta por escrito ao relatório, o HSBC disse que seus esforços de "compliance" tinham sido insuficientes. Ressaltou que o banco havia passado por "uma transformação radical" desde 2007 e que agora aplicava exigências de declaração muito mais rigorosas.

"O HSBC iniciou diversas iniciativas com o objetivo de garantir que seus serviços bancários não sejam usados para sonegar impostos ou lavar dinheiro", disse o comunicado. O HSBC, que tem sede em Londres, opera em mais de 70 países e tem uma unidade de private-banking localizada em Genebra.

As revelações sobre os clientes do HSBC são o golpe mais recente ao sistema bancário privado suíço, que antes oferecia uma privacidade quase impenetrável para os depositantes.

A maioria dos países não proíbe que seus cidadãos mantenham contas no exterior e muitas são usadas para fins legítimos.

Entre os muitos artistas que possuem contas, segundo o relatório, estava a estrela de rock David Bowie, um cidadão suíço. A investigação não o acusa de nenhuma irregularidade. Um porta-voz de Bowie não respondeu aos emails em busca de comentários.

O vazamento do HSBC começou como uma operação clandestina de um técnico de computação, Hervé Falciani, que deixou a empresa em 2008 com cinco discos de informações confidenciais.

Autodescrito como um delator, Falciani forneceu detalhes sobre as mais de 100 mil contas à ministra das Finanças francesa Christine Lagarde, hoje diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional). Ela passou detalhes da lista -- que viria a ser conhecida como Lista de Falciani ou Lista de Lagarde -- a governos de todo o mundo.

Investigadores de vários países europeus disseram que a informação dos vazamentos os ajudou a coletar bilhões de dólares em impostos não pagos.

O Serviço de Receita Interna dos EUA, que segundo autoridades francesas também recebeu a lista de depositantes do HSBC, preferiu não dizer quanto em impostos não pagos recuperou dos depositantes do HSBC.

Em 2013, contudo, o HSBC fechou um acordo de adiamento de execução de US$ 1,9 bilhão com o Departamento de Justiça dos EUA para solucionar as acusações de ter permitido que cartéis de drogas latino-americanos lavassem dinheiro.

O HSBC disse que agora aceita que parte de sua responsabilidade como banco é ajudar a garantir que seus clientes cumpram a lei e paguem impostos e fechar as contas daqueles que não agem dessa forma.

"Como resultado desse reposicionamento, o banco privado suíço do HSBC reduziu sua base de clientes em quase 70% cento desde 2007", disse o comunicado por escrito do banco.