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Com preço na bomba em alta, gasolina no Brasil contraria tendência

Vanessa Dezem

19/02/2015 12h20

(Bloomberg) -- Os brasileiros estão pagando mais caro para encher seus tanques de combustível, mesmo com a queda de 49% no preço do petróleo, ocorrida nos últimos 12 meses, em regiões que vão de Tóquio a Nova York.

O preço da gasolina em São Paulo teve alta de 9,9% nos últimos três meses, para R$ 3,26 o litro (US$ 4,50 o galão) no início de fevereiro, número mais recente disponível, segundo dados compilados pela Bloomberg. No período, o preço caiu 31% nos EUA, para US$ 2,06 o galão, e 23% na Europa, para US$ 5,51.

"Estamos nadando contra a corrente", disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, em entrevista por telefone, de São Paulo. "O fato é que os consumidores estão em uma situação complicada no Brasil".

Os consumidores e empresas do Brasil podem se preparar para pagar mais por todos os tipos de energia neste ano, desde o gás natural até a eletricidade. A Petrobras, a produtora de petróleo controlada pelo Estado envolvida em uma investigação de corrupção, está mantendo os preços do combustível fóssil altos na tentativa de reforçar o fluxo de caixa.

A pior seca em oito décadas tem restringido a produção hidrelétrica e contribuirá para que o custo da eletricidade em residências e fábricas aumente até 25% neste ano, disse o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, em entrevista à Globo News, no mês passado.

O governo anunciou um aumento nos impostos sobre os combustíveis fósseis em janeiro e disse que está reduzindo os subsídios às concessionárias de energia como parte do esforço para melhorar a política fiscal.

O aumento dos preços da energia ameaça ser um peso a uma economia que já está prevista para encolher 0,4% em 2015, segundo uma pesquisa do Banco Central divulgada na quarta-feira (18).

Os custos mais altos podem reduzir as margens de lucro em empresas que utilizam muita energia, como siderúrgicas e fabricantes de carros, encarecer as colheitas, no caso dos produtores rurais, e levar os consumidores a frear os gastos.

Produtores afetados

Anilson Rotta, um produtor de soja do Mato Grosso, Centro-Oeste do Brasil, disse que já está sentindo o impacto dos preços mais altos. O diesel que ele usa para a colheita teve um incremento de 20% desde setembro, o que reduz seus lucros.

"Os custos estão subindo ao mesmo tempo em que os preços da soja estão caindo", disse ele, em entrevista, em sua fazenda. Os contratos futuros da soja em Chicago caíram 27% nos últimos 12 meses.

Aumento do preço do combustível

Em novembro, a Petrobras, com sede no Rio de Janeiro, aumentou os preços da gasolina e do diesel em 3% e 5%, respectivamente, após anos importando o combustível e vendendo-o com prejuízo no mercado local.

O governo, que controla a Petrobras com mais da metade das ações com direito a voto, até agora vem permitindo que a empresa mantenha os preços altos, em um momento de inflação acima da meta do Banco Central.

A empresa disse, no final do mês passado, que reduziu os investimentos planejados para os próximos anos e poderá suspender o pagamento de dividendos para preservar caixa em meio à investigação sobre um esquema no qual os executivos teriam aceitado subornos de um cartel de construtoras..

"Há duas enormes forças nessa discussão: uma está salvando a Petrobras e a outra está controlando a inflação", disse Alexandre Garcia, diretor associado para corporações da Fitch Ratings, em entrevista no escritório da Bloomberg, em São Paulo. A inflação subiu 11% em janeiro, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Se a inflação "se descontrolar", há margem para reduzir os preços da gasolina, disse Garcia. "Mas, nesse ponto, acho que a força que quer salvar a Petrobras está ganhando".

O Ministério de Minas e Energia e a Petrobras não responderam aos pedidos de comentário realizados por telefone e e-mail.

Racionamento de energia

Um possível racionamento de energia no final deste ano por causa dos baixos reservatórios das hidrelétricas ameaça aumentar os custos das empresas e prejudicar ainda mais a economia.

O Banco Santander Brasil disse, em um relatório de 4 de fevereiro, que o risco de racionamento é "alto" e poderia reduzir o crescimento econômico em até dois pontos percentuais. As siderúrgicas e empresas industriais seriam as mais atingidas, segundo o banco.

"A dependência do Brasil em relação à energia hidrelétrica é um fator de pressão", disse Silveira, da TOV. "Os custos serão repassados aos clientes."