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Aposta audaciosa da Arábia Saudita com petróleo dá resultados em apenas três meses

Grant Smith e Anthony DiPaola

27/02/2015 13h08

(Bloomberg) - Três meses depois de a Arábia Saudita ter deixado claro que permitiria que os preços do petróleo continuassem despencando, a estratégia dá sinais de que está dando certo.

Os perfuradores dos EUA estão interrompendo o funcionamento de torres de perfuração a um ritmo recorde, descartando planos de investimento e demitindo milhares de trabalhadores.

Essas medidas destacam como a decisão tomada em 27 de novembro pela OPEP, liderada pela Arábia Saudita, de manter os níveis de produção e proteger sua participação de mercado, está gerando o efeito desejado - rebaixar tanto os preços que eles ameacem reduzir a produção nos EUA e em outros países que não fazem parte da OPEP -. A Arábia Saudita, o país-membro mais poderoso da Organização de Países Exportadores de Petróleo, preservará a tática quando o grupo se reunir novamente em junho, segundo alguns dos maiores bancos do mundo.

A estratégia está "funcionando", disse Francisco Blanch, diretor de pesquisa sobre commodities do Bank of America Corp. em Nova York, em entrevista por telefone. "Está tendo o efeito que nós esperaríamos, um declínio nos investimentos e, por fim, na oferta, e uma demanda de certo modo maior. Acreditamos que essa mudança é definitiva".

O número de torres que perfuram em busca de petróleo nos EUA se reduziu em 37 na semana passada, para 1.019, a menor quantidade desde julho de 2011, mostraram dados da Baker Hughes Inc. em 20 de fevereiro. Desde 5 de dezembro, um total de 556 torres foi retirado de serviço. Exploradoras de petróleo, como a Royal Dutch Shell Plc e a Chevron Corp., anunciaram reduções de gastos por quase US$ 50 bilhões desde 1º de novembro.

Recuperação

O petróleo se recuperou 13 por cento em Nova York desde 29 de janeiro, depois de uma queda de mais de 50 por cento desde junho, em parte devido à redução das perfurações, que sinalizou que o crescimento da oferta vai desacelerar. Os preços mais baixos também estimularam a demanda dos caçadores de ofertas, o que encaminhou o petróleo bruto Brent, a referência para a Europa, para o primeiro ganho mensal desde junho.

A Administração de Informações sobre Energia dos EUA (EIA) reduziu sua perspectiva de produção de petróleo bruto para 2015 para 9,3 milhões de barris por dia em fevereiro, de 9,42 milhões em novembro. A EIA projeta que no terceiro trimestre a produção vai cair pela primeira vez em quatro anos.

Isso tem seu custo para a OPEP, é claro.

O desmoronamento do petróleo reduzirá a receita da organização em cerca de 37 por cento neste ano, segundo a EIA. As receitas com exportações de onze dos doze membros da OPEP, exceto o Irã, diminuirão para US$ 446 bilhões em 2015, de US$ 703 bilhões em 2014, estima a EIA.

O governo da Arábia Saudita disse em 25 de dezembro que espera um déficit orçamentário de 145 bilhões de riais (US$ 38,7 bilhões) em 2015, frente a 54 bilhões em 2014.

Sucesso não garantido

Mesmo conquistando seu objetivo, o sucesso não está garantido para a Arábia Saudita, segundo o Barclays Plc. Os mercados internacionais continuam tendo um excesso de oferta, os preços não caíram o suficiente para pressionar os rivais da OPEP para reduzi-la o bastante, e a crescente eficiência dos produtores de xisto poderia reanimar a produção, disse Miswin Mahesh, analista do Barclays em Londres.

Por outro lado, a Agência Internacional de Energia (AIE), uma organização assessora em políticas energéticas de 29 países desenvolvidos, com sede em Paris, aumentou sua estimativa da dependência mundial da OPEP em um relatório publicado no dia 10 de fevereiro, mencionando prognósticos menores para outros países. A OPEP terá que fornecer 600.000 barris diários a mais em 2019 do que a AIE tinha previsto na perspectiva de longo prazo anterior.

"Se eu estivesse na Arábia Saudita, eu diria que parece que o plano está começando a dar certo", disse Mike Wittner, diretor de pesquisa de mercados petroleiros do Société Générale em Nova York. "É necessário que ele se reflita na oferta real. Mas todos os sinais estão apontando na direção certa".

Título em inglês: 'Saudis' Bold Gambit Paying Off Just Three Months Later: Energy'

Para entrar em contato com os repórteres:

Grant Smith, em Londres, gsmith52@bloomberg.net; Anthony DiPaola, em Dubai, adipaola@bloomberg.net