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Navios mexicanos zarpam rumo à Ásia carregados de petróleo barato

Yuji Okada e Heesu Lee

27/02/2015 12h02

(Bloomberg) - Navios que transportam petróleo do México estão indo para a Coreia do Sul pela primeira vez em mais de duas décadas. O boom do xisto nos EUA está oferecendo pechinchas do mundo inteiro.

A travessia é uma prova da concorrência que os produtores da OPEP estão enfrentando. Os EUA estão extraindo a maior quantidade de petróleo em mais de três décadas, o que exacerba o excedente mundial da oferta, ao passo que a demanda está desacelerando na Ásia. Refinarias na Coreia do Sul e no Japão encomendaram pelo menos oito carregamentos do país latino-americano neste ano, inclusive do petróleo mexicano com o maior desconto em duas décadas, segundo representantes das empresas e dados de remessas marítimas compilados pela Bloomberg.

A luta entre os produtores mundiais por participação de mercado está se intensificando na Ásia. A crescente produção dos campos americanos de xisto está reduzindo a necessidade de importações no maior consumidor de petróleo do mundo. As vendas do México aos EUA, seu maior comprador, caíram 6,5 por cento nos primeiros onze meses do ano passado.

"As variantes de petróleo bruto do Oriente Médio e do México têm especificações similares, o que significa que as refinarias coreanas não precisam mudar muita coisa para processar o petróleo mexicano", disse Kim Jae-kyung, cientista do Instituto de Economia de Energia da Coreia, em entrevista por telefone, na quinta-feira. "Os produtores do Oriente Médio terão que lutar pela participação no mercado".

A Petróleos Mexicanos, a petroleira nacional conhecida como Pemex, vendeu o petróleo bruto leve Isthmus em fevereiro a compradores asiáticos por US$ 7,85 o barril abaixo da média das variantes de referência Oman e Dubai. Foi o maior desconto desde pelo menos 1995, mostram dados compilados pela Bloomberg. O desconto sobre a variante pesada da companhia, Maya, foi o maior desde 2009 em janeiro, segundo os dados.

Petróleo com desconto

Dados da empresa estatal Korea National Oil Corp. mostram que a última vez que o país do norte da Ásia comprou petróleo do México foi em julho de 1992. A Pemex disse em fevereiro de 2014 que enviou petróleo bruto para o Japão pela primeira vez em 11 anos.

A Arábia Saudita, a maior produtora da Organização de Países Exportadores de Petróleo, reduziu o diferencial de preços para as remessas de petróleo bruto enviadas à Ásia 10 vezes nos últimos 15 meses e deixou sua variante de referência, Arab Light, com um desconto recorde de US$ 2,30 por barril em março. Outros fornecedores do Oriente Médio, como o Irã e o Kuwait, normalmente acompanham os preços fixados pelo reino.

A Arábia Saudita liderou a decisão tomada pela OPEP em novembro de preservar as cotas de produção no intuito de conter a oferta de custo mais alto proveniente de fora da organização e reduzir o excedente de oferta que provocou uma queda de 50 por cento nos preços mundiais em 2014.

Demanda asiática

A Ásia responderá por dois terços do crescimento da demanda mundial de petróleo neste ano, segundo a Agência Internacional de Energia, com sede em Paris. O consumo diário de 31,2 milhões de barris fará com que a região ultrapasse o continente americano, com 31,1 milhões de barris.

As refinarias asiáticas estão diversificando os fornecedores para fortalecer sua capacidade de negociação, segundo Kim.

A GS Caltex Corp., da Coreia do Sul, comprou 1 milhão de barris de petróleo bruto mexicano que serão entregues no próximo mês porque a companhia está tentando diversificar seus suprimentos, disse um funcionário da empresa, que pediu para não ser identificado devido à política interna.

A Hyundai Oilbank Co., que opera a refinaria de Daesan na Coreia do Sul, pediu quatro carregamentos marítimos de petróleo ao país latino-americano a serem entregues neste ano. Entre os navios estão o Maran Penelope e o Narmada Spirit, segundo dados dos cronogramas dos navios compilados pela Bloomberg.

Título em inglês: 'Global Oil Bargains for Asia Stretch to Mexico as Ships Set Sail'

Para entrar em contato com os repórteres: Yuji Okada, em Tóquio, yokada6@bloomberg.net; Heesu Lee, em Seul, hlee425@bloomberg.net