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Alemanha se reconcilia com a França graças à aproximação entre Merkel e Hollande

Arne Delfs e Hélène Fouquet

02/03/2015 13h07

(Bloomberg) - Angela Merkel e François Hollande finalmente descobriram que se dão bem.

Depois de apoiar publicamente o oponente de Hollande para a presidência da França, Merkel discordou do país quanto à direção da economia da zona do euro, ao superávit comercial da Alemanha e aos méritos da austeridade. Agora, quase três anos depois da posse de Hollande, os líderes deixaram de lado suas diferenças, segundo membros do governo em Paris e Berlim com conhecimento direto sobre a relação.

A reaproximação se deve, em grande parte, às incursões do presidente da Rússia, Vladimir Putin, na Ucrânia, e aos esforços conjuntos de franceses e alemães para resolver o conflito, disseram as fontes, que solicitaram o anonimato para não serem nomeadas discutindo assuntos privados. Ligados por seu papel diplomático em negociações de paz que duraram uma noite inteira em Minsk, no mês passado, Merkel e Hollande agora também estão alinhados em relação à Grécia, à luta contra o terrorismo e à necessidade de combater o antissemitismo e o racismo. Eles têm até o mesmo senso de humor mordaz, de zombar de si mesmos.

"A política deles não é impulsionada pelo instinto, mas pela visão pragmática do mundo", disse Stefan Seidendorf, vice-diretor do Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburgo, Alemanha, em entrevista por telefone. Assim, disse ele, Merkel passou a apreciar o fato de conseguir se dar muito melhor com Hollande do que com seu predecessor, Nicolas Sarkozy, cuja candidatura malsucedida para se reeleger presidente da França em 2012 ela apoiou.

No momento em que os EUA e outros esperam que a Europa supere desafios, como se recuperar e lidar com a Rússia, o recente entendimento entre os líderes das duas maiores economias da Europa - uma, conservadora; a outra, socialista - já está ajudando a defender interesses em comum e a promover a unidade.

Divergências

Sem dúvida, a Alemanha e a França têm divergido em todo tipo de assuntos nos últimos anos, da supervisão bancária até a criação de empregos, e as diferenças na ênfase sempre estarão à vista, ainda mais considerando-se que Hollande e Merkel pertencem a diferentes famílias políticas europeias. Contudo, eles nunca estiveram distanciados, e as relações nunca foram tão ruins quanto se descreveu, disseram as fontes.

Os dois líderes, nascidos com um mês de diferença e agora com 60 anos de idade, se aproximaram nas últimas semanas por seus esforços conjuntos para promover a paz na Ucrânia, assunto que ambos analisam da mesma forma, segundo as fontes.

Eles também marcharam em apoio a uma causa comum depois que ataques terroristas em Paris chocaram a França em janeiro. De braços dados, Hollande e Merkel lideraram uma marcha contra a violência islamita em Paris no dia 11 de janeiro, depois que terroristas mataram 17 pessoas na revista satírica Charlie Hebdo e em um supermercado kosher na capital francesa. Hollande ficou comovido pela rápida resposta e pela solidariedade de Merkel depois dos ataques, disse uma das fontes.

Firmeza com a Grécia

Quando o governo do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras tentou conquistar a França como aliada em sua campanha para acabar com o programa de austeridade, pelo qual ele responsabiliza principalmente a Alemanha, os líderes franceses deixaram claro que não mudariam sua posição, disse uma fonte do governo alemão.

Merkel e Hollande apresentaram uma postura comum frente à Grécia na coletiva de imprensa em Paris, e, mais tarde naquele mesmo dia, os ministros de Finanças da zona do euro concordaram em prorrogar a ajuda em troca de uma lista de compromissos do governo de Tsipras, relaxando o confronto imediato pelo financiamento do Estado mais endividado da Europa.

Quanto à questão de maior divergência entre eles, a eliminação dos déficits orçamentários, Merkel e Hollande deixaram de lado sua disputa pelas variáveis econômicas fundamentais e passaram a respeitar a posição do outro, disse uma das fontes. A Alemanha equilibrou seu orçamento no ano passado, ao passo que a Comissão Europeia deu um prazo até 2017 para que a França reduza seu déficit para 3 por cento do PIB, o limite da zona do euro.

"Não me compete fazer exigências, porque a França tem sua própria programação de reforma", disse Merkel junto a Hollande, em Paris, em 20 de fevereiro. "Isso é bom, e dispensa comentários da Alemanha".

Título em inglês: 'Germany Makes Up With France as Merkel-Hollande Spark Ignites'

Para entrar em contato com os repórteres: Arne Delfs, em Berlim, adelfs@bloomberg.net; Hélène Fouquet, em Paris, hfouquet1@bloomberg.net