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BCE supera Banco do Japão em guerra cambial ante crescimento vertiginoso de apostas baixistas no euro

Netty Ismail e Lucy Meakin

02/03/2015 12h24

(Bloomberg) - Mario Draghi está prestes a começar a injetar somatórios sem precedentes de dinheiro na economia da zona do euro, mas ele já está vencendo seu colega japonês nas guerras cambiais internacionais.

No mês passado, as apostas de hedge funds e outros grandes especuladores na desvalorização do euro excederam as apostas baixistas no iene pela maior diferença desde agosto de 2012, mostram dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities. As opções sugerem que a moeda comum se encaminha para o menor valor em um ano e meio frente ao iene, o que ajudaria o presidente do Banco Central Europeu a materializar sua ambição de impulsionar o crescimento e a inflação.

Embora março marque o começo das compras mensais de bonds por 60 bilhões de euros (US$ 67 bilhões) de Draghi, os operadores estão especulando que o Banco do Japão (BOJ) já tenha terminado de acelerar o ritmo de sua própria flexibilização quantitativa. A expectativa da flexibilização europeia levou os yields de cerca de US$ 1,9 trilhão em bonds da zona do euro para valores negativos, o que estimulou os investidores a abandonar a moeda de 19 países.

"O euro vai ganhar a corrida rumo ao fundo", disse Ian Stannard, diretor de estratégia cambial do Morgan Stanley para a Europa, em Londres, em entrevista por telefone no dia 25 de fevereiro. A promessa da flexibilização "deixa o euro sob pressão", ao passo que se faz "menos ênfase para que o BOJ forneça mais estímulos", disse ele.

Ganhos revertidos

Embora Draghi e o presidente do BOJ, Haruhiko Kuroda, insistam que não almejam as taxas de câmbio, eles reconheceram os benefícios que a desvalorização da moeda pode trazer, como inflação mais acelerada e exportações mais competitivas. Políticas monetárias mais relaxadas no mundo inteiro estão levando os estrategistas a falar em um ressurgimento das "guerras cambiais", termo cunhado pelo ex-ministro das Finanças do Brasil Guido Mantega para descrever as desvalorizações competitivas de 2010.

A confiança no euro tem caído porque o BCE injetou dinheiro na economia, rebaixando os yields para que os investidores efetivamente estejam pagando aos governos da zona do euro para terem o dinheiro deles. Os yields dos bonds alemães a cinco anos afundaram para o valor mínimo recorde de -0,11 por cento na semana passada, em comparação com 0,08 por cento para os títulos japoneses equivalentes nesta segunda-feira.

Chris Turner, diretor de estratégia cambial do ING Groep NV, o prognosticador mais preciso nos rankings cambiais da Bloomberg no ano passado, descartou a ideia de que a flexibilização de Draghi já esteja impactando o euro.

"Embora haja nos mercados quem diga que esse fator já está incluído na cotação e que a moeda não precisa cair", a experiência dos programas de flexibilização quantitativa no Japão e no Reino Unido mostra outra coisa, disse Turner, em entrevista por telefone, de Londres, em 26 de fevereiro. A flexibilização tende a ser "muito contemporânea" a seu impacto sobre as moedas, disse ele.

Incremento da inflação

Em fevereiro, Kuroda disse que não vê uma necessidade imediata de aumentar os 80 trilhões de ienes (US$ 667 bilhões) em compras de bonds soberanos que o BOJ já está fazendo por ano. Porém, ele sinalizou que está pronto para ajustar políticas se for necessário para cumprir a meta de aumentar a inflação para 2 por cento. A inflação básica foi de 0,2 por cento em janeiro, descontando os efeitos de um aumento do imposto sobre as vendas em 2014.

Draghi também está longe de atingir sua meta de inflação, já que os preços ao consumidor caíram 0,6 por cento em janeiro em relação ao ano anterior, igualando um valor mínimo recorde. O BCE disse em 22 de janeiro que a flexibilização começaria em algum momento de março e duraria, pelo menos, até setembro de 2016. O programa pode ser expandido durante o processo.

"O euro simplesmente não está tão avançado no processo quanto o Japão", disse Greg Gibbs, diretor de estratégia de mercado do Royal Bank of Scotland Group Plc para a região Ásia-Pacífico, em Cingapura.

Título em inglês: 'Draghi Outflanking Kuroda as Bearish Euro Bets Surge: Currencies'

Para entrar em contato com os repórteres: Netty Ismail, em Cingapura, nismail3@bloomberg.net; Lucy Meakin, em Londres, lmeakin1@bloomberg.net