IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Chineses correm para comprar propriedades para garantir visto português mas ficam desapontados

Henrique Almeida

03/03/2015 13h19

(Bloomberg) -- Placas escritas em chinês no aeroporto internacional de Lisboa anunciando propriedades de luxo deixam pouca dúvida a respeito de quem está comprando imóveis em Portugal.

Ao oferecerem uma chance de garantir o chamado visto dourado para morar em Portugal em troca de investimentos de pelo menos 500.000 euros (US$ 559.000) em propriedades, as propagandas deixam de fora a regra de ouro das compras desse tipo: não tenha pressa para fechar um negócio.

A pressa com que alguns compradores chineses adquiriram seu pedaço de Portugal os fez sentirem-se enganados quando se deram conta de que poderiam ter feito negócios melhores. Alguns podem inclusive ter sido vítimas de intermediários que cobram comissões de até um quarto do valor da transação.

"Muitos chineses chegam a Portugal pela primeira vez, não falam o idioma local e compram uma residência em questão de dias", disse Y Ping Chow, chefe da Liga Chinesa em Portugal, um grupo com sede em Lisboa que promove a comunidade chinesa. "Alguns desses investidores saíram prejudicados".

Portugal não pode se dar ao luxo de deixar um gosto amargo na boca dos investidores chineses. O programa de visto dourado, iniciado no fim de 2012, quando o país, assim como boa parte da Europa, vivia o auge da crise financeira, arrecadou mais de um bilhão de euros em investimentos muito necessários, principalmente de compradores de propriedades chineses, segundo o Ministério das Relações Exteriores do país.

Os chineses responderam por mais de 80 por cento das 1.526 permissões de residência emitidas por meio do programa no ano passado, segundo o ministério.

Hua Guiping, 47, voou de Xangai para Lisboa em 2013. Menos de uma semana após sua chegada, ela fechou negócio para a compra de uma casa por 500.000 euros antes de se mudar para Portugal com o marido e a filha.

Ladeada por um intérprete e um agente imobiliário, Hua visitou dezenas de casas em dois dias antes de concordar em comprar uma casa na Arrábida Resort Golf Academy, cerca de 40 quilômetros ao sul de Lisboa.

'Excelente negócio'

"Embora eu não tenha gostado de nenhuma das casas que visitei, o vendedor insistiu que o preço estava muito baixo e que em dois anos ele subiria para um milhão de euros", disse Hua, por e-mail, à Bloomberg News. "Eu fechei o negócio de compra da casa e voltei à China feliz porque pensava que tinha feito um excelente negócio".

Alguns meses depois, navegando na internet, Hua descobriu que algumas casas no mesmo resort estavam à venda por menos da metade do preço que ela havia pago.

"Eu vi que as casas da mesma área estavam avaliadas em 210.000 euros a 250.000 euros enquanto a minha foi vendida por mais de duas vezes esse valor", disse Hua. "Eu estou realmente aborrecida com tudo isso".

Diversos anúncios imobiliários na internet mostram preços de propriedades semelhantes no mesmo resort, com três quartos, com preços entre 220.000 euros e 515.000 euros.

A Pelicano - Investimento Imobiliário SA, empresa que era dona da casa comprada por Hua, nega ter vendido a propriedade a preços acima do mercado.

Política de preço

Algumas propriedades estão sendo vendidas a preços mais baixos porque foram recuperadas por bancos ou pertencem a indivíduos que tentam quitar dívidas, disse a Pelicano em um comunicado no dia 10 de fevereiro.

Os estrangeiros responderam por 90 por cento dos 730 milhões de euros investidos em imóveis portugueses no ano passado, quase três vezes mais do que em 2013, segundo dados compilados pela Aguirre Newman SA, uma empresa de consultoria imobiliária de Lisboa. O governo português estima que o crescimento econômico do país irá acelerar para 1,5 por cento neste ano, contra uma estimativa de 1 por cento no ano passado, impulsionado pelas exportações e por investimentos.

É por essa razão que Portugal deveria tratar os investidores estrangeiros bem, disse Paulo Silva, chefe da Aguirre Newman em Portugal. Alguns investidores chineses têm problemas para determinar se estão pagando a mais, disse ele.

"É difícil saber se uma casa que custa 500.000 euros em Portugal é cara quando duas vagas de estacionamento em Hong Kong podem facilmente valer mais do que isso", disse Silva. "Por isso é importante que Portugal trate todos os investidores estrangeiros de forma justa ou eles simplesmente irão para outro lugar".

Título em inglês: Chinese Rushing to Buy Property for Portugal Visas Get Burned

Para entrar em contato com o repórter: Henrique Almeida, em Lisboa, halmeida5@bloomberg.net.