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Brasil: Joaquim Levy começa a conquistar confiança de traders de olho nas taxas de juros

Mário Sérgio Lima

04/03/2015 09h52

(Bloomberg) -- O ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, está começando a conquistar os operadores de renda fixa, que estão se tornando mais confiantes de que suas medidas para reduzir o déficit fiscal do governo abrirão caminho para taxas de juros mais baixas.

Embora os cortes de gastos, os impostos mais altos e três aumentos seguidos da taxa de juros tenham doído nos brasileiros comuns, os traders do mercado de swaps estão sinalizando que a austeridade permitirá que o Banco Central diminua, em 2016, aquela que atualmente é a taxa de juros mais alta entre os países do Grupo dos 20.

Levy não desfrutava desse nível de confiança quando assumiu o cargo no dia 5 de janeiro, porque apenas uma minoria via espaço para um alívio no ano que vem.

A mudança ocorreu depois que Levy elevou os preços da gasolina, mais do que duplicou alguns impostos corporativos e limitou os gastos dos ministérios para cumprir as metas fiscais.

As medidas poderão ajudar a presidente Dilma Rousseff a cumprir as promessas de diminuir a inflação, que está acima da meta, e evitar um rebaixamento do crédito para o grau especulativo depois que o deficit do Brasil quase triplicou em seu primeiro mandato.

"As medidas recentes mostram um verdadeiro comprometimento para redução de gastos e aumento da receita do governo", disse Thais Zara, economista-chefe da firma de consultoria Rosenberg Consultores Associados, de São Paulo. "A confiança nesta equipe econômica está sendo precificada no mercado".

Desvalorização do real

Isso não quer dizer que todos estão convencidos. O real caiu 8,1% em relação ao dólar desde que Levy assumiu, maior declínio entre as 16 principais moedas monitoradas pela Bloomberg, em um momento em que as acusações de corrupção na Petrobras reduzem o apetite dos investidores por alguns ativos brasileiros.

A moeda desvalorizada também ameaça estimular a inflação ao elevar o preço das importações.

As taxas de swap sobre os contratos com vencimento em janeiro de 2017 tiveram a maior queda na semana passada em mais de três meses depois que o Brasil registrou seu primeiro superavit fiscal mensal desde 2013.

Os contratos implicam que as taxas de referência chegarão a um pico de 13,25% em junho e começarão a cair em fevereiro.

Em relação à reunião do BC de 3 e 4 de março, os swaps estão sendo precificados em linha com um aumento de meio ponto porcentual, para 12,75%.

A reunião termina às 18h, horário de Brasília. A assessoria de imprensa do BC preferiu não comentar as expectativas do mercado para as taxas de juros.

'Possível redução'

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra SA, disse que Tombini pode começar a reduzir as taxas mais cedo à medida que a desaceleração da economia diminuir a pressão sobre a inflação.

"Eu os vejo, possivelmente, reduzindo as taxas em outubro ou novembro, quando a atividade estará muito lenta", disse ele por telefone.

Embora a inflação tenha excedido a faixa-meta de 2,5% a 6,5¨% em cinco dos últimos seis meses, os analistas consultados pelo BC dizem que a inflação diminuirá para 5,5% em 2016.

Os economistas projetaram que o produto interno bruto terá a maior contração desde 1990 neste ano e se recuperará em 2016.

A perspectiva melhor para a inflação está aumentando a demanda por dívidas de prazo mais longo do Brasil.

O yield sobre bonds soberanos denominados em reais para 2025 caiu 0,19 ponto porcentual desde 20 de novembro, quando o nome de Levy surgiu como possível ministro da Fazenda. O yield das notas para 2017 aumentou 0,33 ponto porcentual no período.

'Ambiente político'

Levy está no cargo há menos de dois meses e pode ter dificuldades para que o Congresso -- ou o governo, em si -- aprove os aumentos de impostos e cortes de gastos, disse Jankiel Santos, economista-chefe da BESI Brasil, por telefone.

Dilma disse, na semana passada, que Levy foi "infeliz" ao criticar a desoneração da folha de pagamentos durante seu primeiro mandato, quando ele era gerente de ativos do Banco Bradesco SA.

"Não acredito que todos estejam plenamente convencidos de que Dilma está totalmente comprometida com o ajuste fiscal", disse Santos.

A assessoria de imprensa da Presidência preferiu não comentar se Dilma manteria as promessas de reduzir o déficit.

O nível atual das taxas de juros no Brasil, juntamente com o esforço de Levy para reforçar as contas fiscais, fará com que os analistas procurem sinais de que o BC está próximo de encerrar o ciclo de aumentos de taxa de juros, disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos DTVM.

"Nossa taxa de juros real é suficientemente alta para que a gente diga que essa política monetária é contracionista", disse ele.