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Brasil: Congelamento estilo Lehman do mercado de crédito coloca efeito Petrobras em evidência

Julia Leite

06/03/2015 12h01

(Bloomberg) -- O mercado internacional de bonds do Brasil está practicamente congelado.

Passaram-se quatro meses desde que uma empresa brasileira emitiu dívidas internacionalmente. A última vez que isso aconteceu por tanto tempo foi em 2008, quando a implosão da Lehman Brothers Holdings Inc. fez com que o crédito fosse suspenso em todo o mundo.

Essa seca é um símbolo do descontentamento dos investidores com O Brasil, em um momento em que a economia está afundando e em que os efeitos do escândalo de subornos na Petrobras atingem as empresas do país. Desde que surgiram acusações de pagamento de propina na Petrobras, em novembro, os custos dos empréstimos para as empresas brasileiras subiram seis vezes mais do que a média doS mercadoS emergenteS.

"Em uma situação ideal você só quer mais dívida quando a perspectiva é positiva, e este não é o caso, no momento, da maioria das empresas", disse Josephine Shea, co-diretora de dívida de mercados emergentes da Hartford Investment Management, que gerencia cerca de US$ 110 bilhões, por telefone, de Hartford, Connecticut, EUA.

A esta altura do ano passado as empresas brasileiras já haviam vendido US$ 7,5 bilhões em dívidas no exterior.

A Petrobras, que foi a maior emissora de bonds internacionais dos mercados emergentes nos últimos quatro anos, não emite dívida no exterior desde março de 2014 porque a investigação sobre os subornos a impede de informar resultados financeiros auditados.

A Moody's Investors Service reduziu o rating da empresa em dois níveis, para junk, no dia 24 de fevereiro, no segundo rebaixamento realizado em menos de um mês, devido ao temor de que a investigação atrapalhe a sua capacidade de obter financiamento. Os rebaixamentos fazem parte de pelo menos 28 cortes de rating sofridos por empresas brasileiras apenas neste ano.

JBS, Marfrig

A Petrobras disse na quinta-feira que seu conselho de diretores autorizou a empresa a levantar US$ 19,1 bilhões em financiamento neste ano.

A assessoria de imprensa da petroleira não respondeu a um e-mail em busca de comentário a respeito de seus planos para a emissão de bonds.

Se a empresa decidir recorrer aos mercados internacionais de dívidas, terá que pagar o preço. Os yields de suas notas para 2021 subiram 1,7 ponto porcentual, para 7 por cento, desde 13 de novembro, o dia anterior à prisão de mais de 20 pessoas efetuada pela polícia como parte da investigação para determinar se os executivos da Petrobras exigiram subornos das construtoras em troca de contratos.

A ausência de emissões "provavelmente não mudará tão cedo", disse Ian McCall, que ajuda a gerenciar US$ 103 milhões na Quesnell Capital SA, por telefone, de Cascais, Portugal. "Nós precisamos ter algum tipo de clareza a respeito da Petrobras".

A JBS SA, maior produtora de carne do mundo, e a Marfrig Global Foods SA desistiram de suas vendas de bonds nas semanas posteriores às prisões. Nenhuma dessas empresas está envolvida na investigação.

Mercado fechado

A ampliação da queda do real frente ao dólar está se tornando outro obstáculo para os tomadores de empréstimos, porque torna mais caro o pagamento de obrigações em moeda estrangeira.

O real despencou 12 por cento neste ano e rompeu a barreira de US$ 3 por dólar pela primeira vez em uma década, na quarta-feira, em um momento de dificuldade da economia e de deterioração das finanças do país.

A maior economia da América Latina encolherá 0,58 por cento em 2015, naquele que seria o pior resultado desde 1990, segundo uma pesquisa do Banco Central com economistas divulgada na segunda-feira.

A perspectiva econômica sombria, juntamente com uma crescente oposição aos esforços da presidente Dilma Rousseff para reduzir um déficit fiscal recorde, está ampliando o temor de que o Brasil também possa sofrer um rebaixamento. A Moody's colocou o rating do Brasil em observação negativa em setembro, seis meses depois de a Standard Poor's cortar a nota do país para a beira do grau especulativo.

"A desvalorização do real tem um grande impacto", disse Marco Aurélio de Sá, chefe de operações de renda fixa da corretora do Crédit Agricole SA em Miami, por e-mail. "O mercado deve continuar fechado para o Brasil enquanto durar essa crise política".

Título em inglês: Lehman-Style Credit Freeze Shows Petrobras Effect: Brazil Credit

Para entrar em contato com o repórter: Julia Leite, em Nova York, jleite3@bloomberg.net.