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O Bronx já não pega fogo: bairro mais pobre de NY está de volta

Flavia Krause-Jackson e Henry Goldman

06/03/2015 16h53

(Bloomberg) -- Jerome Raguso, conhecido localmente como o Rei do Cannoli da Avenida Arthur, sempre morou na parte de cima da padaria da família, no outro bairro de Nova York chamado Little Italy (Pequena Itália).

Os tempos em que ele e seus amigos jogavam um pouco de madeira em uma lata de lixo de metal para grelhar bifes ou montavam mesas na calçada para saborear os pratos de massa preparados por sua mãe ficaram para trás. Mas também desapareceram as gangues, a violência e as drogas que deram a uma delegacia de polícia local o apelido -- transformado em nome de filme em 1981 -- de "Forte Apache".

O bairro mais pobre de Nova York está se livrando dos resquícios dos anos 1970, quando os incêndios criminosos eram tão frequentes que a frase "o Bronx está pegando fogo" se transformou em bordão. South Bronx foi rebatizado "SoBro" e agora conta com sushi bares, lofts e hotéis boutique que atraem turistas europeus.

"Nós realmente acreditamos que o Bronx está avançando", disse Douglas Brookman, diretor de operações do Empire Hotel Group, que abriu um hotel em 2013 na antes dilapidada Bronx Opera House -- um estabelecimento de vaudeville que recebeu os Irmãos Marx e Harry Houdini.

A escalada será árdua.

Quase 30 por cento dos 1,4 milhão de moradores do Bronx moram na linha de pobreza ou abaixo dela. Embora sua taxa de desemprego de 9,3 por cento de dezembro resulte da queda mais acentuada (1,3 ponto porcentual) observada entre os bairros da cidade em 2014, ela continua sendo a mais alta, e contrasta desfavoravelmente com a taxa registrada na cidade como um todo, de 6,4 por cento. O bairro ficou classificado em último lugar em crescimento dos empregos entre 1990 e 2014, com 17,7 por cento, segundo o Departamento do Trabalho do estado.

Atraindo imigrantes

Enquanto o Brooklyn e agora o Queens sobem rapidamente de nível, o Bronx continua sendo destino de imigrantes, que preenchem os monótonos arranha-céus do período pós-Segunda Guerra Mundial -- como o número 1.520 da Avenida Sedgwick, onde nasceu o hip hop. O espanhol é o idioma nativo da maioria latina. O que atrai mais gente são os imóveis a preços acessíveis, juntamente com a queda da criminalidade.

O preço médio de casas, cooperativas residenciais e condomínios para uma a três famílias foi de cerca de US$ 317.000 nos últimos três meses de 2014, US$ 8.000 a menos que 10 anos atrás, disse Jonathan Miller, presidente da Miller Samuel Inc., uma avaliadora de propriedades residenciais de Nova York. Os preços médios dos imóveis no Brooklyn subiram 44 por cento no mesmo período, para US$ 585.000, disse ele.

Por outro lado, o crime despencou, com apenas 95 homicídios no ano passado, contra 653 em 1990. Mais de 16.000 unidades residenciais estão em construção, metade delas subsidiadas. O prefeito Bill de Blasio planeja criar uma faixa de 73 quadras de imóveis, lojas, escritórios e escolas em um trecho da Avenida Jerome servido pelo metrô, um projeto que poderia mudar a forma em que os novaiorquinos enxergam o Bronx.

"Agora você se senta na calçada e se surpreende quando há um crime", diz Raguso. "Outro dia veio uma pessoa que queria que eu decorasse um bolo que ele tinha comprado na Costco. Eu só aceitei porque era uma pessoa idosa".

Título em inglês: Bronx Burns No More as NYC's Poorest Borough Comes Back: Cities

Para entrar em contato com os repórteres: Flavia Krause-Jackson, em Nova York, fjackson@bloomberg.net; Henry Goldman, em Nova York, hgoldman@bloomberg.net.