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BCE obtém melhores resultados do mundo para movimentar mercados e confunde críticos de programa de flexibilização quantitativa

Simon Kennedy

27/03/2015 16h29

(Bloomberg) - Mario Draghi está ganhando os primeiros rounds da flexibilização quantitativa.

Apenas três semanas depois de iniciar sua campanha para reativar a inflação injetando dinheiro na economia com compras de bonds, o presidente do Banco Central Europeu conseguiu os efeitos desejados nas operações.

Os yields dos bonds caíram, o euro se desvalorizou e as ações tiveram um rali desde que o plano foi anunciado. Os movimentos do mercado surpreenderam aqueles que argumentavam que a flexibilização quantitativa não tinha potência na Europa dada a dependência da região ao financiamento bancário, a exposição limitada às ações e os yields de bonds que já estavam baixos.

"A flexibilização do BCE teve um efeito maior do que o previsto sobre os mercados e está ajudando a reduzir o risco de uma espiral deflacionária", disseram economistas do Deutsche Bank AG em um relatório a clientes na terça-feira.

Tanto é assim que a ofensiva do BCE está repercutindo mais nos mercados do que os programas de flexibilização da Reserva Federal e outros bancos centrais estrangeiros, segundo o economista do Citigroup Inc. Michael Saunders.

Veja os bonds. Na comparação com os 50 dias antes de o BCE anunciar suas intenções, Saunders calculou que o yield médio da dívida dos governos da zona do euro a dez anos caiu cerca de 80 pontos-base. As taxas de títulos semelhantes nos EUA e no Reino Unido subiram, em média, nos cem dias após seus bancos centrais anunciarem os programas de flexibilização quantitativa, ao passo que as do Japão ficaram praticamente inalteradas.

Quanto às ações, o ganho de 22 por cento no índice Euro Stoxx 50 ultrapassou a média de 10 por cento a 15 por cento nos EUA e no Reino Unido. O declínio de 9 por cento do euro em uma base ponderada é mais profundo do que as quedas do dólar e da libra esterlina.

Aceleração

No Barclays Plc, Jim McCormick, diretor mundial de alocação de ativos, disse hoje em um relatório que a medida do mercado de expectativas de inflação no longo prazo preferida por Draghi também tinha aumentado do valor mínimo de 1,48 por cento, antes de o plano de flexibilização ser anunciado, para 1,70 por cento.

O raciocínio do Citigroup: o programa do BCE abrange uma maior proporção dos bonds em circulação do que aqueles que o precederam e a taxa de juros negativa para depósitos bancários do BCE está amplificando seu efeito. A instituição comprou 26,3 bilhões de euros (US$ 28 bilhões) de bonds do setor público em 23 de março.

Draghi está sendo ajudado pelo Fed, cujos preparativos para aumentar as taxas estão incentivando a queda do euro, e pelo petróleo mais barato, que está fornecendo um estímulo adicional, disse Saunders.

Seja qual for a causa, os economistas dizem que os movimentos do mercado vão ajudar a ativar a economia real. O Citigroup prevê que o crescimento no ano que vem iguale o de 2010 e seja o maior desde 2007, e que a inflação atinja 1,5 por cento, na comparação com 0,2 por cento neste ano.

É possível que o sucesso tenha seu preço. Se a inflação acelerar acima do previsto pelo BCE, poderiam surgir pressões para desacelerar a compra de bonds.

Draghi diz que a intenção do BCE é concluir o programa de 1,1 trilhão de euros em setembro de 2016, mas Christian Noyer da França e Boštian Jazbec da Eslovênia disseram que as aquisições poderiam ser restringidas em algum momento.

"O momento decisivo para o desenvolvimento dos yields na zona do euro poderia ocorrer no quarto trimestre, quando as discussões para afunilar o programa começarem", dizem os estrategistas do DZ Bank AG, Daniel Lenz e Felix Herrmann.

Título em inglês: 'Draghi a World-Beater in Moving Markets as ECB Confounds Critics'

Para entrar em contato com o repórter: Simon Kennedy, em Paris, skennedy4@bloomberg.net