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Bonds do Mercantil do Brasil despencam e perdem 50% em meio a aumento de provisões

Filipe Pacheco

30/03/2015 12h24

(Bloomberg) -- O Banco Mercantil do Brasil SA tem separado montante recorde para provisão contra devedores em um momento de aumento da inadimplência no país. Agora, investidores do mercado de bonds se perguntam se o banco será capaz de honrar seus próprios compromissos.

Os títulos com vencimento em 2020 da emissão de US$ 250 milhões do Banco Mercantil tiveram queda de 50,6 por cento neste ano, a maior entre os emissores de mercados emergentes, para a mínima histórica de 39,25 centavos de dólar na semana passada. Em 28 de janeiro, os papéis eram negociados a mais de 95 centavos de dólar.

O banco é o nome mais recente entre emissores brasileiros a resultar em perdas para investidores em meio à maior contração da economia em 25 anos e aos escândalos da Operação Lava Jato. A investigação de pagamentos de propinas na Petrobras, a petroleira controlada pelo governo, gera tensão nos mercados financeiros. O setor de construção, impactado pela investigação de corrupção, representa a maior parcela de crédito corporativo do Banco Mercantil. O banco elevou as provisões para devedores duvidosos no mês passado depois que sua taxa de inadimplência subiu a níveis sem precedentes.

"Há muitas preocupações entre os investidores sobre quais são as perdas que podem acontecer de agora para frente, especialmente relacionadas com construtoras que possam estar em situação difícil", disse Sandro Fernandes, gestor da V10 Investimentos Wealth Management Advisory, por telefone, de Belo Horizonte. "Este é um ano difícil para as empresas brasileiras como um todo. Eventualmente, o banco pode enfrentar problemas para pagar suas dívidas em dólares".

Em um comunicado enviado por e-mail, a assessoria de imprensa do Banco Mercantil disse que a volatilidade dos papéis do banco é encarada com tranquilidade, e não refletem perspectivas futuras. Provisões 'conservadoras'

"Desde 2013, foram adotadas políticas mais rígidas e conservadoras de provisionamento para eventuais perdas futuras, especialmente no segmento de empréstimos à pessoa jurídica", disse o Banco Mercantil, que tem sede em Belo Horizonte. "Tal estratégia garante uma atuação perene e sustentável do negócio nos anos seguintes."

Em balanço divulgado dia 23 de fevereiro, o banco disse que separou R$ 771,6 milhões (US$ 238,7 milhões) no ano passado para cobrir possíveis prejuízos com empréstimos depois que sua taxa de inadimplência deu um salto para 8,1 por cento. Seu capital de nível 1, indicador de saúde financeira da instituição, caiu para 7,32 por cento, nível mais baixo desde que o banco começou a publicá-los em 2012.

Os empréstimos para o setor da construção correspondiam a 17,9 por cento do portfólio total de empréstimos corporativos do Banco Mercantil. Trata-se de uma fatia bem acima da média de 10 por cento dos bancos brasileiros, segundo dados da Fitch Ratings.

'Sob pressão'

Na semana passada, a Galvão Engenharia SA, uma das construtoras que estão sendo investigadas por supostos pagamentos de propina na Petrobras, entrou com pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro. A OAS SA, outra construtora acusada de ter formado um cartel para ganhar contratos estatais, deu calote em seus bonds no dia 2 de fevereiro. As empresas negaram as acusações de que pagaram propinas.

"Nós estimamos que a lucratividade continuará sob pressão devido à exposição a altos custos de créditos e às despesas operacionais", disseram Alexandre Albuquerque e Ceres Lisboa, analistas da Moody's Investors Service, em um relatório do dia 24 de março.

A Moody's tem uma perspectiva negativa para o rating de dívida subordinada do Banco Mercantil, que tem nota B2, cinco níveis abaixo do grau de investimento.

Os yields das notas do banco mais do que triplicaram neste ano, para recorde de 36,1 por cento. Isso empurrou o prêmio sobre títulos do Tesouro de vencimento similar a 27 pontos porcentuais, mais de duas vezes o limiar para títulos considerados inadimplentes.

O Banco Central do Brasil preferiu não comentar sobre o Banco Mercantil.

"A situação será difícil para o Mercantil e para bancos de médio porte como um todo daqui para frente", disse João Augusto Frota Salles, analista da Lopes Filho Consultoria de Investimentos SA, por telefone, do Rio de Janeiro. "Ninguém sabe quão longe as investigações à Petrobras e às empresas envolvidas irão e como impactarão os portfólios corporativos. Este definitivamente é um cenário sombrio".

Título em inglês: Brazil Bank's Bonds Crushed by Bad Loan Provision in 50% Wipeout

Para entrar em contato com o repórter: Filipe Pacheco, em São Paulo, fpacheco4@bloomberg.net.