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Grécia deixa BCE com nervos à flor da pele porque supervisores irritam banqueiros centrais

Jeff Black

30/03/2015 12h37

(Bloomberg) - Dentro da união entre a política monetária e a supervisão financeira no Banco Central Europeu, que leva cinco meses em vigor, os nervos estão começando a aflorar.

Os altos funcionários pretendem substituir os depósitos que estão fugindo dos bancos gregos sem financiar diretamente o Estado, mas os esforços do novo Mecanismo Único de Supervisão (MUS) da instituição para fazer sua parte estão irritando a velha guarda. Os banqueiros centrais dirigidos pelo presidente do BCE, Mario Draghi, se preocupam que pedidos excessivamente estritos aos credores possam piorar o tumulto na Grécia.

Depois de erigir um pilar institucional que supervisiona os maiores bancos da zona do euro desde novembro, agora o BCE está enfrentando uma das piores eclosões em seis anos de crise da dívida soberana. Os altos funcionários precisam definir como alinhar seus dois instrumentos de política econômica a fim de encontrar um caminho para superar a agitação na Grécia e montar um modelo para lidar com a turbulência bancária no futuro.

"Claramente existem tensões, e era óbvio desde o começo que isso aconteceria", disse Nicolás Verón, membro do grupo de pesquisa Bruegel, com sede em Bruxelas. "Mas é um tipo produtivo de tensão, como aquele que se deu entre o secretário do Tesouro americano Tim Geithner e a presidente da Federal Deposit Insurance Corporation Sheila Bair em 2008. Daí poderia resultar a mistura certa de políticas econômicas".

Assim como esses dois responsáveis pela política econômica dos EUA tiveram que escolher na crise financeira de 2008 entre o perigo moral de resgatar os bancos e o caos econômicos de vê-los falirem, os altos funcionários europeus estão encurralados entre ceder às exigências de dinheiro da Grécia e a catástrofe política de permitir que o país abandone o euro.

Estresse intenso

Esse estresse está se intensificando dentro do BCE e afetando a interação entre os banqueiros centrais na nova sede da instituição, no extremo leste de Frankfurt, e os supervisores bancários instalados em uma sede temporária a dois quilômetros de distância.

A presidente do MUS, Danièle Nouy, poderia dar pistas sobre a relação com o Conselho do BCE quando declarar perante o Parlamento Europeu na próxima terça-feira.

Neste mês, seus funcionários tentaram impedir que os bancos gregos aumentem suas posses de dívida do governo no curto prazo, horas antes de reuniões cruciais com a participação do primeiro-ministro Alexis Tsipras e de Draghi. A medida, que torna mais difícil para o Estado se autofinanciar, encontrou inicialmente problemas porque o Conselho do BCE rejeitou sua severidade e as metas de política monetária a que a proposta fazia referência, segundo fontes do setor.

Para alguns banqueiros centrais, a proposta do MUS foi uma intervenção desajeitada na política econômica da crise que ameaçou frustrar a estratégia medida do Conselho do BCE para abordar as agitações na Grécia, segundo fontes do setor que solicitaram o anonimato porque o assunto não é público.

Como a cada ano cerca de 6.000 decisões de supervisão devem ser tomadas pelo MUS e aprovadas pelo Conselho, o potencial de conflitos ou erros é significativo. Uma porta-voz do BCE não quis comentar sobre a política da instituição para a Grécia nem sobre as interações entre o Conselho do BCE e os supervisores.

Corda no pescoço

"O BCE continua segurando a corda que está no nosso pescoço", disse Tsipras em uma entrevista à revista alemã Der Spiegel, no dia 7 de março. Ao se recusar a dar espaço à Grécia para emitir mais títulos do Tesouro, o BCE "está assumindo uma grande responsabilidade".

A Grécia está ficando sem tempo para apresentar uma explicação detalhada das medidas de reforma econômica necessárias para satisfazer os credores e liberar os fundos de resgate. Espera-se que o governo apresente suas propostas nesta segunda-feira, pois suas reservas de dinheiro estão diminuindo.

O BCE está "preocupado com o financiamento monetário, e, como supervisora, a instituição não gosta da quantidade de exposição soberana", disse Dimitris Drakopoulos, economista da zona do euro na Nomura International Plc em Londres. "Como a solvência dos bancos depende das políticas econômicas e fiscais do governo, eles têm que manter firmes as rédeas sobre o país. Sua política econômica é consistente em ambos os lados".

Título em inglês: 'ECB Nerves Fray on Greece as Supervisors Rile Central Bankers'

Para entrar em contato com o repórter:

Jeff Black, em Frankfurt, jblack25@bloomberg.net