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Rali de bonds não parece ter fim graças a derramamento de dinheiro do BCE pelo mundo inteiro

Sridhar Natarajan e Sally Bakewell

31/03/2015 12h16

(Bloomberg) - Por fim, os analistas que continuam prevendo um fim da corrida altista do mercado de bonds terão razão. Mas, por enquanto, eles continuam errados.

Logo quando parecia que os yields dos bonds, cuja média era de 1,6 por cento no fim do ano, não podiam baixar mais, Mario Draghi e o Banco Central Europeu inundaram o mercado com dinheiro barato. Isto levou os yields no Global Broad Market Index do Bank of America Merrill Lynch para 1,39 por cento na segunda-feira, a 0,06 ponto porcentual do valor mínimo recorde alcançado em janeiro.

Apesar de que a Reserva Federal está se preparando para subir as taxas de juros quase zeradas, o plano de compras de bonds por um trilhão de euros do BCE está levando os investidores a aceitarem yields negativos sobre mais de US$ 1,9 trilhão de dívida soberana no mundo inteiro. Ativos de renda fixa, da dívida de governos até bonds corporativos, terão ganhos de 1,8 por cento nos primeiros três meses de 2015, o sétimo ganho trimestral consecutivo, o qual vem desafiando analistas de várias empresas, da Pacific Investment Management Co. até o JPMorgan Chase Co.

"O efeito daquelas taxas baixas na Europa e da flexibilização quantitativa tem exercido uma atração gravitacional sobre os yields", disse Tim Anderson, chefe de renda fixa da RiverFront Investment Group LLC, que supervisiona US$ 5 bilhões em ativos, em entrevista por telefone. "Afinal, os ganhos diminuirão, e em algum momento a recompensa pelo risco não será tão atraente assim, mas isto não está sendo observado agora".

Entre as muitas empresas que apostaram que os yields dos bonds aumentariam em 2015, a Pimco predisse que a aceleração do crescimento limitaria os lucros em títulos do Tesouro americano, bonds do governo britânico e bonds alemães, segundo o relatório de perspectiva que publicou em dezembro. Priscilla Hancock, estrategista de renda fixa do braço de gestão de ativos do JPMorgan, também antecipou que uma economia americana fortalecida aumentaria as taxas de juros, reduzindo o apetite dos investidores por títulos do Tesouro.

Risco

Esse risco não se materializou ainda, pois o crescimento dos EUA e a inflação continuam sendo fracos, e não se espera que haja inflação na zona do euro neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O BCE e os bancos centrais nacionais da região estão comprando bonds soberanos conforme um plano de 19 de meses para injetar 1,1 trilhão de euros (US$ 1,2 trilhão) na economia, estratégia conhecida como flexibilização quantitativa.

A média mundial de yields sobre bonds caiu para o valor mínimo recorde de 1,33 por cento em janeiro, mostram dados do índice do Bank of America Merrill Lynch. Os yields mundiais sobre debêntures de empresas, de 3,31 por cento, são inferiores à média quinquenal de 3,91 por cento.

Proveito

As empresas aproveitaram essas taxas baixas vendendo US$ 1,1 trilhão de bonds neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. Na Europa, os 156 bilhões de euros de bonds corporativos de grau alto emitidos neste ano constituem a maior quantidade em um trimestre desde 2008 e o terceiro maior somatório já registrado, segundo o JPMorgan. Os bonds corporativos de grau alto denominados em euros estão retornando 1,4 por cento e se encaminham para seu sétimo trimestre positivo consecutivo, e a média de yields recuou para o valor mínimo recorde de 0,93 por cento em 10 de março, mostram dados de índices.

O Fed impulsionou ainda mais o mercado de bonds neste mês quando diminuiu sua previsão de taxas de juros. Agora, os responsáveis pela política econômica antecipam que a taxa de referência do Fed seja de 0,625 por cento no fim do ano, frente a uma previsão de 1,125 por cento em dezembro.

"É questão de apontar os lápis e procurar as oportunidades interessantes", disse Jack Flaherty, gerente de recursos da GAM USA Inc., com sede em Nova York, que supervisiona a estratégia irrestrita de bonds da empresa, de US$ 17 bilhões, em entrevista por telefone. "É questão de achar algo em algum lugar".

Título em inglês: 'No End in Sight for Bond Rally as ECB Spigot Spills Across Globe'

Para entrar em contato com os repórteres:

Sridhar Natarajan, em Nova York, snatarajan15@bloomberg.net; Sally Bakewell, em Londres, sbakewell1@bloomberg.net