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Menor preço do minério de ferro em dez anos não vai salvar 'desastre' da Citic na Austrália

David Stringer

01/04/2015 10h52

(Bloomberg) - Para entender por que os preços do minério de ferro caíram para seu menor valor em dez anos, basta olhar uma mina de US$ 10 bilhões que está sendo explorada pela empresa estatal chinesa Citic Ltd. no remoto litoral noroeste da Austrália.

O projeto Sino Iron, a mina mais cara do mundo, foi chamado de "desastre" pelos críticos. A operação começou a fretar minério de ferro em dezembro de 2013, aproximadamente quatro anos depois do prazo planejado. Agora, mesmo com os menores preços em dez anos, a Citic adicionará quatro linhas de produção no projeto, um plano que poderia injetar milhões de toneladas de minério em um mercado que já está saturado.

O esforço ressalta a recusa da China a se render à queda dos preços, no momento em que o país asiático luta para diversificar sua oferta a futuro, disse Cauê Araújo, diretor do setor de minério de ferro da empresa de pesquisa AME Group em Sydney.

"O governo da China está pensando no longo prazo e em garantir a oferta a futuro em vez de obter uma rentabilidade rápida ou lucrar no curto prazo", disse Araújo. "É mais estratégico do que comercial nesta etapa".

O minério de ferro caiu para US$ 49,53 por tonelada seca na quarta-feira, segundo dados da Metal Bulletin Ltd. É o menor preço desde 2004-2005, com base nos dados e em referências anuais compiladas pela Clarkson Plc, a maior corretora de navios do mundo.

Participação

De acordo com a maioria das medições, neste momento os produtores de minério de ferro deveriam estar diminuindo a produção para impulsionar os preços. Em vez disso, as maiores produtoras - a Vale SA, a Rio Tinto Group e a BHP Billiton Ltd. - estão mantendo sua produção para proteger a participação no mercado. E a China está avançando não apenas com a Sino Iron, mas também com outros projetos de minério de ferro no mundo inteiro, enquanto muitas das suas minas domésticas de alto custo continuam produzindo.

"A Sino Iron é um projeto de mais de trinta anos", disse a Citic em um comunicado por e-mail. "A Citic está comprometida a concluí-lo e operá-lo no longo prazo". A empresa não quis comentar sobre os custos do projeto.

"Uma meta do governo chinês é garantir que pelo menos 50 por cento da futura oferta de minério de ferro venha de uma mina chinesa, mesmo que não seja necessariamente uma mina na China", disse Araújo. "É por isso que a China está no Peru, na África, na Austrália".

A produção doméstica de minério de ferro na China aumentou em 2014 e espera-se que continue forte neste ano, segundo o Australia New Zealand Banking Group Ltd. É improvável que haja grandes ajustes na produção do país em 2015, disse a Rio Tinto, a segunda maior exportadora da commodity, no dia 12 de fevereiro.

Redução de valor

A Citic, o maior conglomerado da China, contabilizou na semana passada uma redução de valor de US$ 2,5 bilhões da Sino Iron nos resultados do ano completo de 2014. A empresa continuará as obras para adicionar quatro linhas de produção, e duas já estão construídas. Os gastos do projeto alcançaram US$ 9,9 bilhões até o fim de 2013, disse a empresa em um fato relevante apresentado no ano passado. Em outro, de 2007, uma unidade da Citic estimou que fazer com que a mina produzisse seu primeiro bilhão de toneladas custaria US$ 1,4 bilhão.

O projeto tem "sido um desastre", disse em 2013, Michael Komesaroff, diretor-gerente da consultora do setor de metais Urandaline Investments Pty, com sede em Brisbane.

No entanto, alguns analistas dizem que acreditam que a Sino Iron poderá demonstrar ser um investimento inteligente quando começar a fornecer às usinas de aço chinesas um concentrado ajustado às suas necessidades por preços mais baixos do que aqueles das minas domésticas.

"Quando você pensa que a China é um investidor com bolsos fundos que está buscando um fornecimento a longo prazo, o projeto começa a fazer sentido", disse Araújo da AME Group.

Título em inglês: 'Iron Ore at 10-Year Low Won't Stop Citic's Australian 'Disaster'

Para entrar em contato com o repórter: David Stringer, em Melbourne, dstringer3@bloomberg.net