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Obras raras de Rembrandt deixarão a França que não tem fundos para comprá-las

Hélène Fouquet

07/04/2015 16h26

(Bloomberg) - Dois quadros do pintor holandês Rembrandt van Rijn poderiam sair da França sem nem mesmo um lamento porque o país diz que não tem dinheiro para comprá-los.

Como os cofres do governo estão vazios, o Ministério da Cultura da França permitirá que o magnata bancário Eric de Rothschild exporte as obras-primas, abrindo caminho para uma venda que poderia alcançar mais de 150 milhões de euros (US$ 163 milhões), segundo estimativas. De acordo com a lei francesa, grandes obras de arte não podem sair do país sem autorização do Estado. Se o país nega essa permissão, ele deve comprar a obra de arte dentro dos 30 meses seguintes.

"O Estado precisa ter a capacidade financeira necessária para comprar qualquer obra de arte proposta" e como "a compra foi considerada difícil, o ministério e o museu permitiram a exportação", disse um alto funcionário do Louvre em resposta por e-mail a perguntas. "Neste caso em particular, uma aquisição era impensável".

Como o governo prometeu reduzir 21 bilhões de euros em gastos em 2015, a única escolha possível era dizer "au revoir" aos retratos de Marten Soolmans e sua noiva, Oopjen Coppit. As obras pertencem à família Rothschild desde meados do século 19 e atualmente elas pertencem ao barão vinicultor que produz o Château Lafite Rothschild, um vinho Bordeaux icônico. Ele é membro do conselho do Amigos do Louvre, um grupo que arrecada fundos.

O Louvre discutiu a exportação dos quadros de Rembrandt com Rothschild durante um ano antes de renunciar a eles, mencionando a falta de fundos, segundo o alto funcionário. O governo do presidente François Hollande descartou a utilização de fundos do Estado, apelar a doadores ou iniciar uma campanha pública de arrecadação de fundos.

"Não é só que o Estado e o Louvre não podiam comprá-los, eles nem sequer tentaram!", disse Didier Rykner, editor-chefe da revista de arte latribunedelart.com, em entrevista por telefone.

O Ministério da Cultura não respondeu a consultas sobre por que não encontrou outros meios de reter os quadros.

Peças excepcionais

Os dois quadros são excepcionais até mesmo para obras de Rembrandt. O artista raramente pintava retratos de corpo inteiro e a maior parte da sua obra se encontra hoje em museus - em Estocolmo, Detroit, Baltimore, Zurique e Frankfurt - e não em coleções particulares.

As obras poderiam acabar no Rijkmuseum de Amsterdã. Gregor Weber, diretor de belas artes e arte decorativa do museu, não se comprometeu a nada quando foi consultado sobre se deseja aumentar sua grande coleção de obras do pintor holandês.

"Sempre estamos verificando se há algo à venda", disse ele. O preço de 150 milhões de euros está em sintonia com o mercado, disse.

Uma porta-voz da vinícola de Rothschild em Paris disse que a decisão do barão era privada e não quis fazer mais comentários. Um funcionário da casa de leilões Christie's International Plc que, de acordo com latribunedelart.com, foi incumbida por Rothschild para solicitar a renúncia do Estado, disse que não comenta sobre seus clientes e as coleções deles.

Os antepassados de Rothschild doavam obras de arte com regularidade ao Estado francês, que inclusive organizou uma exibição sobre a dinastia na Biblioteca Nacional em 2012, elogiando-os como "patronos emblemáticos da tradição artística".

Outros compram

"É uma vergonha para a França", disse Rykner. "A Holanda e o Reino Unido estão comprando tesouros nacionais e o Estado diz que está falido? Que derrota. Enquanto isso, os museus dos EUA estão fazendo aquisições".

A National Gallery do Reino Unido e sua equivalente escocesa concluíram a aquisição de dois quadros de Ticiano por 95 milhões de libras esterlinas (US$ 152 milhões) em março de 2012.

"Nós fomos capazes de comprar os dois quadros para o público, em um período de dificuldades econômicas, graças à estima e ao afeto de que ambas as instituições gozam há muitas décadas", disse Nicholas Penny, diretor da galeria, em um discurso pronunciado depois da aquisição.

Título em inglês: 'Rare Rembrandts to Leave France Too Cash-Strapped to Retain Them'

Para entrar em contato com a repórter: Hélène Fouquet, em Paris, hfouquet1@bloomberg.net