IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Fusão entre Shell e BG pressiona grandes petroleiras a se consolidarem novamente

Javier Blas

08/04/2015 13h58

(Bloomberg) - Nas palavras do chefe da Royal Dutch Shell Plc, a lógica fundamental por trás da sua decisão de comprar a BG Group Plc "sempre existiu".

O que deu impulso à transação de US$ 70 bilhões na reta final foi o fato de a empresa ter se tornado "muito atraente em termos de valor" depois que os preços do petróleo caíram pela metade para US$ 50 por barril.

É improvável que Ben van Beurden seja o único entre os CEO das maiores petroleiras do mundo em pensar que as avaliações estão muito atraentes.

Assim como a primeira transação feita entre a BP Plc e a Amoco Corp. durante uma depressão anterior do petróleo em 1998 desencadeou uma série de negócios, é provável que a fusão entre a Shell e a BG leve as grandes petroleiras a se consolidarem novamente.

"A transação pressionará os colossos do petróleo a agir", disse Aneek Haq, diretor de pesquisa sobre petróleo do Exane BNP Paribas em Londres. "A Shell foi oportunista. A Exxon poderia sentir a necessidade de imitá-la".

Até agora, a visão predominante entre os executivos, banqueiros e analistas do setor era que compradores e vendedores divergiam muito quanto às avaliações. Os preços das ações ainda não incorporaram plenamente o declínio do petróleo.

El MSCI World Energy Index caiu quase 25% desde seu pico mais recente, registrado em junho de 2014. Os observadores diziam que um período mais prolongado de preços baixos - talvez por volta de US$ 35 por barril, o patamar observado por última vez durante a crise financeira em 2008 e 2009 - era necessário antes que grandes transações começassem.

A fusão entre a Shell e a BG indica que as empresas estão prontas para entrar em ação. A mensagem transmitida pela transação é clara: em um mundo com preços do petróleo mais baixos e reduções de custos, o tamanho e o potencial de crescimento importam. Essa visão estratégica pressagia uma repetição da série de transações que revolucionou há uma década e meia o setor de energia e criou as chamadas de supergigantes do petróleo de hoje.

Sinal

"Isso poderia sinalizar o início de uma onda de atividades de fusões e aquisições", disse Jean-Luc Romain, analista da CM-CIC Securities em Paris, em entrevista por telefone. "A Exxon não esconde que está em busca de aquisições".

No entanto, poucos preveem megafusões com o escopo das que foram realizadas há quinze anos, em grande parte porque o setor já é controlado por algumas poucas empresas grandes. Em vez disso, as supergigantes, que têm tido problemas para engrossar suas reservas de petróleo e gás, poderiam aproveitar a queda das avaliações para comprar grupos de médio porte e conseguir reservas que poderiam ser utilizadas para crescer quando os preços se recuperarem. Para alguns executivos, o mantra é que sai mais barato comprar do que desenvolver.

Entre os predadores, a Total SA parece ser a candidata mais provável a dar continuidade à consolidação iniciada pela Shell na Europa.

Começo falso

Do outro lado do Atlântico, apenas a Exxon, a maior empresa de energia do mundo por valor de mercado, tem dinheiro suficientemente para desempenhar um papel de liderança.

Na verdade, é possível que a fusão entre a Shell e a BG seja um falso começo da consolidação do setor por ser difícil de replicar.

Os investidores disseram que grandes transações na Europa são improváveis porque qualquer combinação de campeãs nacionais como a Total, da França, a Eni SpA, da Itália e a Repsol SA, da Espanha, enfrentaria uma grande oposição política. Os sindicatos também se revoltariam diante da eliminação de empregos resultante de tal combinação.

Existe outro motivo pelo qual a transação poderia acabar sendo a única. A Shell também não aproveitou a maior parte da onda de consolidação que engolfou o setor de energia há 15 anos, parcialmente devido à estrutura complicada de acionistas que ela tinha na época, herança de uma fusão nunca concluída entre seus braços holandês e britânico.

"Dessa vez, a Shell não tem esse problema, sendo uma empresa pública de responsabilidade limitada no Reino Unido", disse Christian Stadler, professor associado de Gestão Estratégica da Warwick Business School.