Venezuela restringe férias internacionais para deleite dos detentores de bonds
(Bloomberg) -- O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, está estragando os planos de seus compatriotas para as férias. Os detentores de bonds (títulos) agradecem a medida.
O Ministério das Finanças disse na sexta-feira que os venezuelanos que viajarem para uma lista de países que inclui os EUA agora só receberão autorização para usarem seus cartões de crédito para efetuar no máximo US$ 700 em compras, em vez de US$ 2.500.
A medida, que visa a diminuir a escassez crônica de moeda americana no país, que está com dificuldades financeiras, permitirá que o governo economize cerca de US$ 2,8 bilhões neste ano, segundo o Barclays Plc.
Com os preços do petróleo em queda de mais de 50% desde junho e a economia em recessão, Maduro está tentando desesperadamente reforçar as finanças do país e evitar um calote.
A decisão ajudou a empurrar as notas de referência da Venezuela para a maior alta em três meses como parte de uma recuperação de 18% da dívida do país, maior ascensão observada nos mercados emergentes neste mês.
"O mais importante é o que isso sinaliza", disse Francisco Ghersi, diretor-geral da Knossos Asset Management, por e-mail. "Eles farão qualquer coisa para honrar os pagamentos".
Pelas novas diretrizes, os viajantes venezuelanos poderão receber a autorização de uso máximo dos cartões de crédito para viagens a países como EUA, Aruba, Belize, Colômbia e México.
Os viajantes receberão uma autorização de até US$ 1.500 para viagens a países como Argentina, Uruguai e Bolívia, e de até US$ 2.000 para viagens à África, à Ásia, à Europa ou à Oceania.
'Alívio necessário'
Os viajantes também terão um limite máximo de US$ 3.000 por ano na chamada taxa de câmbio Sicad, de 12 bolívares por dólar, do Banco Central.
O montante de dólares que a Venezuela destinará a partir de agora para viagens não domésticas poderá cair dos US$ 3,8 bilhões do ano passado para menos de US$ 1 bilhão, disseram Alejandro Arreaza e Alejandro Grisanti, analistas do Barclays, em um relatório no dia 10 de abril.
A economia conseguida é "uma quantia que não é insignificante e que pode oferecer um necessário alívio para o apertado fluxo de caixa da Venezuela", escreveram.
A Venezuela tem US$ 5,2 bilhões em capital e juros com vencimento em outubro e novembro, incluindo pagamentos sobre bonds emitidos pela petroleira estatal Petróleos de Venezuela SA.
O país, que tem US$ 20,2 bilhões em reservas internacionais, possui uma dívida total de US$ 20,3 bilhões com vencimentos em 2016 e 2017, segundo dados compilados pelo JPMorgan Chase Co.
Risco de calote
A redução do risco de calote também está se refletindo no mercado de derivativos, no qual os traders de swaps reduziram a probabilidade de que a Venezuela interrompa os pagamentos de bonds nos próximos 12 meses de 82 por cento, em janeiro, para 46 por cento.
Contudo, o risco de que a Venezuela fique sem dinheiro para pagar os detentores de bonds continua em um momento em que a alta inflação e as dificuldades econômicas prejudicam o apoio a Maduro, segundo Risa Grais-Targow, analista da Eurasia Group Ltd.
"Embora essas medidas ajudem o governo a evitar um incidente de crédito em 2015, continua havendo um risco significativo para 2016", de mais de 60%, escreveu Grais-Targow, em uma nota a clientes no dia 13 de abril. "A piora das distorções aumentará o descontentamento social, aumentando o risco de uma crise política mais aguda neste ano e depois dele".
Para Jane Brauer, estrategista do Bank of America Corp., os bonds venezuelanos poderão subir mais se o governo chegar a um acordo com a Jamaica a respeito do pagamento de carregamentos de petróleo ou se for capaz de trocar as reservas de ouro do banco central por dinheiro -- medidas que reforçariam a capacidade do país de pagar dívidas.
As notas da Venezuela aumentariam seus ganhos se o país estendesse os vencimentos trocando dívidas de prazo mais curto por notas com vencimento mais longo, disse Ghersi, da Knossos. A especulação de que o governo está planejando uma oferta desse tipo ajudou a impulsionar os aumentos da dívida de curto prazo do país, disse ele.
"O risco de calote no curto prazo cairá significativamente, o que beneficiará toda a curva", disse ele.
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