Escândalo da Petrobras enterra plano de prosperidade brasileira do petróleo sob o mar
(Bloomberg) -- Enterradas ao largo da costa do Brasil, sob quilômetros de água do mar, rochas e sal, jazem vastas reservas de petróleo -- pelo menos 50 bilhões de barris -- que deveriam render riquezas incalculáveis ao país.
Mas, como acontece tantas vezes no Brasil, a promessa inicial dessa ampla formação geológica pré-histórica conhecida como pré-sal está dando lugar ao pessimismo.
Oito anos após a descoberta das reservas, a intervenção do governo, a corrupção e o mau gerenciamento da Petrobras, a gigante estatal do petróleo, lançaram dúvidas sobre a capacidade do Brasil de capturar e aproveitar sua riqueza petrolífera para levantar toda a sua economia.
O escândalo coincidiu com uma queda brusca nos preços mundiais do petróleo e provocou indignação e um exame de consciência nacional. A Petrobras encarnava não apenas o orgulho da indústria petrolífera do Brasil, mas também o espírito de busca do país por ser um grande player no cenário energético internacional.
Durante décadas, a política oficial do governo foi encher a Petrobras de gestores pró-governamentais e promulgar políticas amigáveis à Petrobras para acelerar seus esforços de desenvolvimento do petróleo.
Em troca, a riqueza petrolífera da Petrobras foi despejada nos estados e cidades para pagar os bilhões em programas de desenvolvimento social e econômico.
Mas essas políticas estão sendo questionadas como nunca. O investimento em programas como o subsídio ao combustível fez com que a dívida da Petrobras subisse a níveis recordes e gestores nomeados pelo governo foram apontados como supervisores negligentes do talvez maior e mais caro escândalo de corrupção a atingir o Brasil.
Indústria no 'caos'
"A palavra é caos", disse Vandré Guimarães, secretário de desenvolvimento da cidade de Macaé, que a Petrobras usa como base para suas operações offshore. Projetos petrolíferos foram desativados e empregos desapareceram -- pelo menos 3.000 neste ano, disse ele.
A presidente Dilma Rousseff está tendo dificuldades para conter os danos na gigante do petróleo que ela supervisionou e liderou. Ela sacudiu a administração da empresa substituindo a presidente, Maria das Graças Foster, sua amiga e que havia sido escolhida a dedo, e diversos outros executivos.
A Petrobras também vive um momento difícil. Seus US$ 135 bilhões em dívidas, volume maior do que o da Dinamarca, suas despesas caras e prejuízos devido ao escândalo de subornos estão forçando a empresa a reduzir investimentos e colocar US$ 13,7 bilhões em ativos à venda em um momento em que os preços do petróleo despencaram.
Nesta quarta-feira o Conselho de Administração votará os resultados financeiros que vêm sendo adiados desde janeiro.
As ações da Petrobras subiram recentemente -- tiveram um ganho de 40 por cento nos últimos 30 dias -- empurradas pelos sinais de que a empresa resolverá o impasse a respeito da publicação de resultados financeiros e pelas garantias de reformas.
Mas o escândalo não termina e poderia atrapalhar as operações da empresa nos próximos anos. Os críticos dizem que Dilma não fez o suficiente para quebrar as amarras do governo, que muitos veem como o principal problema da Petrobras.
Liberalização do pré-sal
Alguns políticos e líderes empresariais estão exortando Dilma a liberalizar as políticas que deram à Petrobras um virtual monopólio para o desenvolvimento do pré-sal, uma formação que se espalha sob a Plataforma Continental, a cerca de 240 quilômetros das praias do Brasil.
Hoje, alguns ex-defensores dessas políticas estatais estão voltando atrás. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), membro da base aliada de Dilma que apoiou uma lei de 2010 que consagrou a vantagem da Petrobras no pré-sal, agora diz que permitir a competição com empresas de fora poderia impulsionar o crescimento econômico e a geração de empregos.
"Quando você comete um equívoco, você tem que ter a humildade de dar um passo atrás e voltar a um modelo que mostrou ser eficiente e benéfico para o país", disse Leonardo Picciani, líder do partido na Câmara dos Deputados.
Dilma, embora tenha concordado, em uma entrevista concedida no dia 31 de março, que são necessárias "medidas drásticas" para recuperar a Petrobras, ainda não vê necessidade de mudar as regras sobre uso de conteúdo local e exigência de propriedade do pré-sal na base da estratégia petrolífera.
A Petrobras, por sua vez, diz que está se recuperando. O novo presidente, Aldemir Bendine, se mexeu rapidamente para garantir um financiamento muito necessário, fechando quatro acordos avaliados em R$ 9,5 bilhões (US$ 3,1 bilhões) em empréstimos de bancos brasileiros e assinando um negócio de plataformas offshore de US$ 3 bilhões.
Esses movimentos ocorrem após um contrato de financiamento de US$ 3,5 bilhões fechado no dia 1º de abril com o Banco de Desenvolvimento da China, parte inicial de um acordo que será implementado neste ano e em 2016.
Enquanto isso, os rendimentos do pré-sal superaram as próprias previsões da Petrobras e a empresa atualmente produz cerca de três vezes mais que o projetado em 2010.
"O petróleo do pré-sal é economicamente viável mesmo com os baixos preços atuais", disse a empresa, em resposta a perguntas, enviada por e-mail. "A Petrobras e seus parceiros têm plena confiança na rentabilidade da produção dessa fronteira exploratória".
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