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Wall Street se recusa a aceitar apagão de dados da Venezuela

Katia Porzecanski e Andrea Jaramillo

21/04/2015 12h48

(Bloomberg) -- Os investidores em bonds suspeitam que o governo venezuelano está com o caixa quase vazio. Mas a que ponto? Essa é uma pergunta complicada.

Afinal de contas, a Venezuela é um país que deixou de divulgar até mesmo os dados econômicos mais básicos -- coisas como inflação e gastos do governo -- com regularidade.

Considerando o tamanho das apostas, e com muitos investidores se preparando para o calote iminente, analistas de Wall Street se esforçam para preencher a lacuna.

Empresas como Bank of America Corp. e Barclays Plc criaram suas próprias séries estatísticas para tentar ajudar os investidores a entender o tamanho da restrição de caixa do país. É um exercício desafiador, disseram eles.

"Nós tivemos que construir essa série com base em tudo o que você possa imaginar", disse Francisco Rodríguez, um venezuelano que cobre o país para o Bank of America, por telefone, de Nova York.

"Eu me sinto um detetive particular. Você tem que tentar encontrar os dados. A polícia pelo menos tem poder para reunir provas -- eu não tenho".

Embora a ausência de dados -- ou a falta de dados confiáveis -- complique a vida dos investidores há anos em países como Argentina e Grécia, o vácuo na Venezuela se tornou especialmente problemático porque a queda de 50% nos preços do petróleo, de junho para cá, está estrangulando a fonte de quase todas as receitas em dólares do país.

Jogo de adivinhação

Com cerca de US$ 10 bilhões em pagamentos de bonds com vencimento em fevereiro do ano que vem, os traders de derivativos apostam que a probabilidade de o país ficar sem dinheiro para pagar dívidas no ano que vem é de quase 50% -- a mais alta do mundo depois da Ucrânia e da Grécia.

O Ministério da Informação da Venezuela não respondeu a um pedido de comentário enviado por e-mail a respeito da confiabilidade dos dados.

Embora as autoridades do Fundo Monetário Internacional digam que não há grandes problemas nos dados da Venezuela, os analistas de bonds afirmam que a situação ficou claramente pior de dezembro de 2013 para cá.

Foi quando o governo do presidente Nicolás Maduro, que havia ocupado o lugar do falecido Hugo Chávez seis meses antes, começou a atrasar a divulgação das estatísticas de inflação, segundo o economista Armando Armenta, do Deutsche Bank AG.

A Venezuela reportou dados sobre o custo de vida no país pela última vez há quase cinco meses, quando informou que os preços ao consumidor haviam subido 68,5% em relação ao ano anterior. Esta é, de longe, a maior taxa de inflação do mundo.

Substitutos criativos

Alejandro Grisanti, economista do Barclays, diz que agora observa a receita tributária da Venezuela para obter uma estimativa de inflação.

Com base em um aumento reportado na arrecadação de impostos no primeiro trimestre, de mais de 120% -- em um momento em que a economia na verdade encolheu --, ele projeta que a inflação tenha superado os 100 por cento.

Enquanto Chávez esteve no poder, "sempre houve atrasos e talvez o nível de detalhamento e a qualidade dos dados fossem baixos", disse Grisanti, por telefone, de Nova York. "Agora, parece que o presidente Maduro optou por uma política estatal de não publicar dados".

Para Robert Rennhack, vice-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, os dados econômicos da Venezuela "não são um problema". O FMI censurou a Argentina em 2013 por informar dados inexatos de estatísticas como, por exemplo, da inflação.

"Eles fornecem dados em uma base suficientemente razoável", disse ele a repórteres em Washington no dia 17 de abril.

Isso não é suficiente para confortar os detentores de bonds em um momento em que as reservas estrangeiras da Venezuela não chegam a cobrir os quase US$ 30 bilhões em pagamentos de dívidas do país com vencimento até 2017.

Apenas 15% das reservas do país eram realmente mantidas em dinheiro no fim de março, segundo o Bank of America.

"A disponibilidade de informações macro e financeiras com regularidade de tempo é essencial para saber onde colocar seu dinheiro", disse Fernando Losada, economista da AllianceBernstein, por e-mail.