IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Bancos brasileiros se expandem em Miami para acompanhar clientes ricos

Cristiane Lucchesi

23/04/2015 12h37

(Bloomberg) -- Faz tempo que os brasileiros ricos que procuram escapar da recessão, dos escândalos de corrupção e da turbulência política fizeram de Miami seu destino preferido. Agora, alguns dos maiores bancos do país também estão vendo esse fascínio.

O Itaú Unibanco Holding SA, que tem sede em São Paulo e é o patrocinador principal do torneio de tênis Aberto de Miami, tem como meta alcançar US$ 12 bilhões em ativos sob gestão na cidade norte-americana até dezembro, um aumento de 9 por cento.

O Grupo BTG Pactual, também com sede em São Paulo, está abrindo uma unidade de gestão de ativos nessa cidade do sul da Flórida, e a XP Investimentos CCTVM SA, do Rio de Janeiro, a corretora que criou um escritório em Miami no ano passado, está contratando funcionários.

"Toda semana recebo uma ligação de algum brasileiro tentando encontrar uma forma de viver em Miami", disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa latino-americana da Andbanc Brokerage, em entrevista em São Paulo no mês passado.

"No Brasil, pessoas de alta renda precisam de carro blindado e segurança. Em Miami, eles podem viver e passar suas férias mais livremente, mostrando seus barcos, carros de moda e casas".

Seguindo o raciocínio, essas pessoas vão precisar de gestores de suas fortunas por perto. O Itaú, que expandiu a equipe de sua corretora e seus negócios de gestão de riquezas em Miami em cerca de 15% nos últimos três anos, para 160 pessoas, está contratando mais cinco em 2015, segundo Frances Sevilla-Sacasa, chefe da unidade.

A XP tem cerca de 20 funcionários lá e planeja contratar mais cinco neste ano, segundo Bernardo Amaral, sócio da firma. O BTG preferiu não comentar a respeito de suas operações em Miami.

Os bancos brasileiros que estão se expandindo na Flórida encontram caminho aberto deixado pela retirada de concorrentes internacionais.

RBC, Barclays

O Royal Bank of Canada decidiu fechar sua divisão de banco privado na América Latina, incluindo seus negócios em Miami, em 2013 porque as taxas de juros baixas e os custos crescentes impedem o banco de cumprir suas metas de desempenho, disse Claire Holland, porta-voz do banco com sede em Toronto.

O Barclays Plc, que tem sede em Londres, fechou seu banco privado em Miami como parte da estratégia de focar em outros 70 mercados, disse a porta-voz Kerrie Cohen em um comunicado enviado por e-mail.

O BNP Paribas SA, maior banco da França, disse no ano passado que venderia sua unidade de private-banking em Miami.

A XP, cujos clientes de gestão de riquezas têm pelo menos US$ 200.000 para investir com a firma, capitalizou com essas saídas, abocanhando clientes e funcionários de concorrentes que foram embora da cidade, disse Amaral.

No início deste mês, a XP contratou Tulio Gargantini e Gabriel Jafet, ambos ex-executivos do RBC e do Barclays, como diretores dos negócios de gestão de riqueza em Miami.

O Itaú, cujos clientes da divisão de gestão de riquezas em Miami geralmente contam com mais de US$ 1 milhão em ativos líquidos, expandiu suas operações na cidade em 2006, com a aquisição do BankBoston, uma unidade do Bank of America Corp., e em 2007, com a aquisição dos ativos latino-americanos de private-banking do ABN Amro Bank NV oferecidos em Miami.

Mais recentemente, o Itaú consolidou sua operação de private-banking em Luxemburgo para a Suíça e a Miami. O banco possui cerca de US$ 20 bilhões em ativos sob gestão fora do Brasil.

"Os brasileiros descobriram que Miami é um lugar muito interessante para morar, passar férias, ter uma segunda casa", disse Sevilla-Sacasa. "Algumas pessoas estão fazendo negócios por aqui e trazendo suas famílias para que se tornem residentes".

Residentes americanos

O Itaú não pode trabalhar com clientes residentes nos Estados Unidos hoje por questões regulatórias, mas poderá mudar tudo isso no futuro se a empresa decidir realizar ajustes em resposta ao aumento da demanda.

"Muitos clientes nossos têm apartamento ou casa em Miami e passam um tempo na Flórida, mas não um tempo suficiente para serem considerados residentes americanos", disse Sevilla-Sacasa. "Isso poderia mudar no futuro".

A taxa de criminalidade do Brasil pode convencer mais pessoas a fazerem a mudança. O país teve 23,7 homicídios para cada 100.000 moradores em 2013, segundo os dados mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, enquanto nos EUA a taxa foi de 4,5, segundo o FBI.

No estado de São Paulo, o mais rico do país, os casos de roubos aumentaram 21 por cento em 2014, para 309.948, número mais elevado dos últimos 14 anos, enquanto os homicídios caíram 3,4 por cento, para 4.294, segundo a Secretaria Estadual de Segurança.