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As três opções desagradáveis do BCE para a Grécia: Mohamed A. El-Erian

Mohamed El-Erian

27/04/2015 15h28

(Bloomberg View) - Como mais uma reunião dos ministros das Finanças da zona do euro acabou de modo áspero na sexta-feira, o foco desta semana será a retomada - espera-se - de discussões técnicas mais construtivas entre a Grécia e seus parceiros europeus. No entanto, talvez as discussões mais decisivas ocorram em outro lugar: os responsáveis pela política econômica do Banco Central Europeu vão realizar sua avaliação semanal de quanta "liquidez emergencial" eles precisariam conceder aos bancos gregos e sob quais condições.

Na reunião semanal, dia 29 de abril, o BCE estará extremamente pressionado a manter a Grécia em cuidado intensivo. Mas sem avanços em outros lugares, essa poderosa instituição financeira corre o risco de envolver no drama grego outros atores que estão, involuntariamente, deixando de ser grande parte da solução e se tornando grande parte do problema agora e no futuro. O risco é um sintoma dos distúrbios muito maiores que estão solapando uma perspectiva abrangente e sustentável para a Grécia dentro da zona do euro.

A decisão do BCE envolverá alguma variação de três alternativas básicas:

1. Fingir e conceder. O BCE, através da Assistência de Emergência à Liquidez (ELA) operada por sua rede de bancos centrais nacionais, continuaria concedendo o financiamento excepcional à Grécia. Isso seria feito sob o pretexto de ajudar a Grécia a lidar com um problema de liquidez, ao invés de reconhecer o verdadeiro problema do país, profundas deficiências econômicas e de solvência. Essa abordagem traz o benefício de manter as opções abertas, na esperança de que a Grécia e seus credores finalmente consigam chegar a soluções definitivas para a política econômica e para as finanças. A desvantagem é que ela aumentaria a exposição financeira do BCE a um caso problemático que, pelo menos até agora, não deu muitos sinais de que possa ser resolvido de modo ordenado. Ela também geraria preocupações quanto ao compartilhamento da carga, pois o BCE agiria embora outros credores, não só do setor privado, mas também entre instituições públicas como o FMI, estejam esperando pagamentos agendados.

2. Finalizar o processo. Neste cenário, o BCE agiria sem rodeios. Isso restringiria qualquer financiamento adicional para a Grécia, o que levantaria não somente as questões legítimas quanto ao compartilhamento da carga, mas também faria notar que o apoio à liquidez continuaria sendo ineficiente sem as medidas concomitantes para ajudar a aprimorar o crescimento e a solvência financeira. Isso condicionaria a assistência adicional tanto ao progresso das políticas quanto a novo dinheiro para a Grécia oriundo de outras fontes, junto com a redução da dívida. Se tais condições não forem cumpridas, a decisão do BCE provavelmente dispararia uma fuga ainda maior de capital e depósitos na Grécia. E isso, nas hipóteses mais realistas, faria com que o governo grego impusesse controles cambiais, desse o calote nos pagamentos e tomasse medidas ainda mais draconianas para controlar quaisquer saldos de caixa inativos no país. Todas essas consequências aumentariam o risco de que a Grécia saia da zona do euro.

3. Desligar a máquina como parte de um plano alternativo mais amplo. Neste caso, a recusa do BCE em conceder mais apoio à liquidez seria parte de uma tentativa (arriscada) de um giro organizado para a zona do euro e para a Grécia. O BCE tentaria minimizar o risco do contágio grego e das consequências prejudiciais para as outras economias (como Chipre, Itália, Portugal e Espanha) ao oferecer suas janelas de financiamento tanto para os governos quanto para as instituições financeiras. Isso também aceleraria o programa de grande escala de compras de títulos (conhecido como flexibilização quantitativa). Enquanto isso, o trabalho continuaria com algum tipo de acordo europeu provisório para a Grécia, incluindo a possibilidade de um acordo associativo com a União Europeia ou até que o país permaneça na UE embora fique de fora da zona do euro, como o Reino Unido.

Tudo isso fala da que talvez seja a maior tragédia de todas. Durante muitos anos, muito poucas pessoas - seja na Grécia, entre seus parceiros europeus, ou no BCE, na UE e no FMI - enfrentaram o grande desafio: o de tomar medidas econômicas revolucionárias e decisivas ou apertar adequadamente o botão de reinicializar. Ao invés disso, a escolha tem sido meter-se em um "se virar" coletivo, à espera de que alguma solução perfeita - na verdade, imaculada - apareça pelo caminho.

É difícil encontrar uma solução assim. E esperar por ela está longe de não ter um preço.

Título em inglês: 'ECB's Three Unappealing Choices for Greece: Mohamed A. El-Erian'

Para entrar em contato com o autor: Mohamed El-Erian, melerian@bloomberg.net