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Na Argentina, US$ 5 bi em projetos de mineração dependem das eleições

Pablo González

27/04/2015 14h14

(Bloomberg) - Algumas das maiores mineradoras do mundo estão prontas para investir pelo menos US$ 5 bilhões na Argentina caso a eleição presidencial de outubro prenuncie um alívio das restrições de capital.

A Goldcorp Inc., a maior mineradora de ouro em termos de valor de mercado, a Glencore Plc, do bilionário Ivan Glasenberg, e a Yamana Gold Inc. são alguns dos produtores que estão sinalizando novos investimentos no país caso o próximo governo seja mais receptivo à indústria, de acordo com a associação de mineração da Argentina e representantes provinciais e empresariais a par da questão.

A presidente Cristina Fernández de Kirchner restringiu as importações e repatriou a receita de exportação desde que foi reeleita em 2011. Ela criou controles cambiais que prejudicaram as empresas internacionais de mineração e levaram a brasileira Vale SA a cancelar um projeto de potassa de US$ 5,9 bilhões no país. Os principais candidatos à presidência parecem mais receptivos a atrair o investimento estrangeiro, de acordo com Martín Dedeu, presidente da Câmara Argentina de Empresários Mineiros. Cristina não pode se candidatar ao terceiro mandato consecutivo.

"Os três candidatos na liderança não duvidam da importância da indústria", disse Dedeu, em entrevista por telefone, de Buenos Aires. "Daniel Scioli disse que a mineração deveria ser um motor da economia, Mauricio Macri tem sido consistente em seu apoio e Sergio Massa disse que o setor merece atenção".

Dedeu, que se reuniu com todos os candidatos, disse que o próximo presidente provavelmente reduzirá os impostos sobre a mineração e diminuirá gradualmente os controles cambiais, como a proibição de transferir os dividendos para o exterior.

Glencore e Yamana

Na província de San Juan, a Glencore está analisando um investimento de US$ 3 bilhões para duplicar a produção de cobre na Argentina em três anos, de acordo com um representante da empresa.

A companhia, com sede em Baar, Suíça, apresentará um estudo de impacto ambiental para El Pachón no quarto trimestre, e espera-se que a aprovação saia em 2016, quando haverá um novo presidente no comando, disse o representante. Embora os impostos de mineração sejam menores do que os 35 por cento cobrados a alguns exportadores de soja, as restrições cambiais e de capital apresentam desafios. As empresas precisam esperar meses pela autorização do governo para importar uma única peça de caminhão, disse o representante.

El Pachón deve atingir a produção total em 2018, quando os analistas esperam que os preços do cobre se recuperem. Os preços estão cerca de 40 por cento abaixo do recorde batido em 2011.

O segundo maior projeto de mineração da Argentina tem uma programação semelhante. A Yamana disse em 2 de fevereiro que investirá US$ 398 milhões em Cerro Moro, uma mina de ouro e prata na província de Santa Cruz. Cerca de US$ 30 milhões serão investidos mais tarde neste ano, de acordo com a programação do início formal da construção. O restante será investido em 2016 e 2017, e a produção deve começar no segundo semestre de 2017, disse a empresa com sede em Toronto.

A construção só começará se houver uma modificação das regulamentações federais, como os controles cambiais e a repatriação da receita de exportação, disse um representante do Departamento de Mineração, que solicitou o anonimato conforme a política da área.

Fuga de capitais

Três representantes oficiais de mineração das províncias entrevistados pela Bloomberg disseram que as dez províncias que possuem esses recursos esperam pelas mudanças na regulamentação federal, pois a receita delas caiu desde outubro de 2011, quando Cristina ordenou que as companhias mineradoras repatriassem toda a receita obtida com exportação e as empresas cortaram os investimentos.

Naquele mês, o governo federal, que tentava deter a crescente fuga de capitais da segunda maior economia da América do Sul, depois do Brasil, modificou um decreto de 2002 que requeria que as empresas mantivessem 30 por cento de toda a receita obtida com exportações no país, uma decisão que as províncias mineradoras desejam que seja revertida.

Se o próximo governo de fato aliviar as restrições de capital, a Goldcorp tentará acelerar os investimentos e aumentar a produção, de acordo com um representante de Santa Cruz a par do assunto, que solicitou o anonimato porque o tema ainda não foi divulgado.

German Stocker, porta-voz da Goldcorp na Argentina, disse que os gastos de capital neste ano são mínimos, mas não quis comentar os planos para os próximos anos.

"Todos esses projetos serão executados se, e somente se, a nova administração federal modificar as regulamentações", disse Mariano Lamothe, economista chefe da empresa de pesquisa Abeceb.com, com sede em Buenos Aires. "As empresas estão anunciando projetos como forma de convidar os candidatos presidenciáveis a proporcionar as condições para a entrada de dólares. Tenho certeza de que essas mudanças vão acontecer".

Título em inglês: 'In Argentina, $5 Billion of Mine Projects Is Riding on Elections'

Para entrar em contato com o repórter: Pablo González, em Buenos Aires, pgonzalez49@bloomberg.net