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Cingapura enfrenta 'mães-tigre' para reduzir excesso de formados universitários

Sharon Chen

04/05/2015 12h33

(Bloomberg) - A cingapuriana Carmen Kok lamenta nunca ter ido à universidade. Ela não permitirá que sua filha cometa o mesmo erro, mesmo que precise enviá-la ao exterior para conseguir uma vaga.

"Não é possível ascender em Cingapura sem um título universitário", disse Kok, 47, que planeja gastar o triplo do seu salário anual de cabeleireira para enviar a filha à faculdade na Coreia do Sul. "Ela pode até arranjar um emprego sem ter ido à universidade, mas ela poderá conseguir um salário mais alto se ela for".

As "mães-tigre" de Cingapura estão se transformando em uma dor de cabeça para o primeiro-ministro Lee Hsien Loong, que está tentando convencer a população de que não é necessário ir à universidade para ter uma boa carreira profissional. Depois de reprimir a imigração e da desaceleração da economia, ele precisa de menos graduados e mais trabalhadores para encher os estaleiros, as fábricas e as recepções de hotéis que mantêm o país funcionando.

Lee, formado com distinção na Universidade de Cambridge, Inglaterra, está liderando uma campanha que inclui discursos e turnês para convencer mais jovens a entrarem na força de trabalho, de acordo com um sistema criado a partir do sistema de aprendizagem da Alemanha. O programa de "trabalhar e aprender" colocaria pessoas formadas em escolas técnicas em empregos e lhes daria a chance de continuar estudando em meio período.

Tendência internacional

Lee é o mais recente líder asiático com um sistema educacional de primeira linha a tentar pisar no freio, já que as universidades estão formando cada vez mais profissionais incompatíveis com os trabalhos disponíveis. Há alguns anos, a Coreia do Sul disse que poderia fechar algumas instituições de ensino superior em meio ao que o então presidente Lee Myung Bak chamou de "inscrição imprudente nas universidades".

"Existe uma clara tendência internacional no mundo desenvolvido a fazer com que a educação vocacional seja uma opção real para mais jovens", disse Pasi Sahlberg, professor visitante da Graduate School of Education, da Universidade Harvard, em Cambridge, Massachusetts. Contudo, muitos ainda consideram isso uma "opção secundária", especialmente na Ásia, onde os pais tendem a acreditar que "a educação superior é a única chave para a prosperidade e o sucesso".

O sistema educacional do país no Sudeste Asiático aparece regularmente entre os melhores do mundo. Os estudantes de 15 anos de idade de Cingapura e da Coreia do Sul foram os melhores entre estudantes de 44 países na resolução de problemas, segundo um relatório publicado no ano passado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

Segundo o programa de "trabalhar e aprender" de Cingapura, aqueles que saírem de escolas técnicas seriam capacitados no emprego enquanto estudam para uma qualificação no setor, de acordo com o orçamento do governo para este ano fiscal. Cada cingapuriano que participe do programa receberá um bônus de 5.000 dólares de Cingapura (US$ 3.780). Um plano piloto no ano que vem colocará alguns formados dos institutos técnicos em capacitações, por exemplo, no setor aeroespacial, de logística e de tecnologia da informação.

Modelo alemão

O Sistema de Capacitação Vocacional Dupla da Alemanha possibilita que as pessoas que saírem da escola aos 18 anos se candidatem para um contrato com uma empresa privada que combina capacitação no emprego com uma educação mais ampla em uma escola vocacional com financiamento público.

Convencer os cingapurianos a seguir o mesmo caminho será uma tarefa árdua depois de décadas exaltando a importância da educação. As famílias de Cingapura gastaram 1,1 bilhão de dólares de Cingapura em professores particulares fora da escola no ano encerrado em setembro de 2013, segundo a pesquisa mais recente feita pelo departamento de estatística.

"O governo não deveria incentivar as pessoas a deixarem de ir à universidade, a menos que possa prometer que elas terão as mesmas oportunidades de emprego que os formados", disse Kenneth Chen, 26, cujos pais gastaram mais de 170.000 dólares da Cingapura para que ele obtivesse um título em Ciência Esportiva em Brisbane, Austrália, depois que ele se formou em Biotecnologia em Cingapura. "Mas é óbvio que isso não vai acontecer".